Decisão se deu após o presidente paraguaio prometer trabalhar para reconhecer a vitória de González na eleição venezuelana
A Venezuela rompeu relações diplomáticas com o Paraguai nesta 2ª feira (6.jan.2025). A ação se deu depois que o presidente paraguaio, Santiago Peña (Partido Colorado, direita), conversou com o opositor venezuelano Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita) e manifestou apoio a vitória dele nas eleições de 28 de julho de 2024.
“A República Bolivariana da Venezuela rejeita categoricamente as declarações do presidente do Paraguai”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em comunicado. Eis a íntegra (PDF – 165 kB, em espanhol).
Em reposta, a Presidência do Paraguai determinou que o embaixador venezuelano, Ricardo Capella, e sua equipe diplomática deixe o país nas próximas 48 horas.
Também reconheceu González como o presidente eleito da Venezuela, “com o direito de assumir a liderança de sua nação em 10 de janeiro”. Eis a íntegra (PDF – 149 kB, em espanhol).
Segundo a chancelaria venezuelana, Peña desrespeitou o direito internacional e o princípio da não intervenção.
“É lamentável que governos como o do Paraguai continuem subordinando sua política externa aos interesses de potências estrangeiras, promovendo agendas destinadas a minar os princípios democráticos e a vontade de povos livres”, afirmou no texto.
González, opositor de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela), afirma ter vencido as eleições presidenciais de 2024. Ele está exilado na Espanha desde setembro, mas disse que voltará à Venezuela para a posse presidencial, marcada para 10 de janeiro.
Maduro se declarou vencedor na eleição, mas o resultado é questionado tanto por opositores locais quanto por autoridades estrangeiras.
No domingo (5.jan), Peña anunciou em publicação no X (ex-Twitter) que conversou com González e María Corina Machado, líder da oposição venezuelana.
Ele prometeu trabalhar com a comunidade internacional para reconhecer a vitória de González e ajudar a restaurar a democracia na Venezuela. “O Paraguai sempre será um firme defensor da democracia na região e no mundo”, declarou.
VENEZUELA SOB MADURO
A Venezuela vive sob uma autocracia chefiada por Nicolás Maduro, 62 anos. Não há liberdade de imprensa. Pessoas podem ser presas por “crimes políticos”. A OEA publicou nota em maio de 2021 (PDF – 179 kB) a respeito da “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos relatou abusos em outubro de 2022 (PDF – 150 kB), novembro de 2022 (PDF – 161 kB) e março de 2023 (PDF – 151 kB). Relatório da Human Rights Watch divulgado em 2023 (PDF – 5 MB) afirma que 7,1 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014.
Maduro nega que o país viva sob uma ditadura. Diz que há eleições regulares e que a oposição simplesmente não consegue vencer.
As eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024 são contestadas por parte da comunidade internacional. A principal líder da oposição, María Corina, foi impedida em junho de 2023 de ocupar cargos públicos por 15 anos. O Supremo venezuelano confirmou a decisão em janeiro de 2024. Alegou “irregularidades administrativas” que teriam sido cometidas quando era deputada, de 2011 a 2014, e por “trama de corrupção” por apoiar Juan Guaidó.
Corina indicou a aliada Corina Yoris para concorrer. No entanto, Yoris não conseguiu formalizar a candidatura por causa de uma suposta falha no sistema eleitoral. O diplomata Edmundo González assumiu o papel de ser o principal candidato de oposição.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, anunciou em 28 de julho de 2024 a vitória de Maduro. O órgão confirmou o resultado em 2 de agosto de 2024, mas não divulgou os boletins de urnas. O Tribunal Supremo de Justiça venezuelano, controlado pelo atual regime, disse em 22 de agosto de 2024 que os boletins não serão divulgados.
O Centro Carter, respeitada organização criada pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, considerou que as eleições na Venezuela “não foram democráticas”. Leia a íntegra (em inglês – PDF – 107 kB) do comunicado.
Os resultados têm sido seguidamente contestados pela União Europeia e por vários países individualmente, como Estados Unidos, México, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. O Brasil não reconheceu até agora a eleição de Maduro em 2024, mas tampouco faz cobranças mais duras como outros países que apontam fraude no processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a dizer não ter visto nada de anormal no pleito do país.
A Human Rights Watch criticou os presidentes Lula, Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México) em agosto de 2024. Afirmaram em carta enviada aos 3 ser necessário que reconsiderem suas posições sobre a Venezuela e criticaram as propostas dos líderes para resolver o impasse, como uma nova eleição e anistia geral. Leia a íntegra do documento (PDF – 2 MB).
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