O custo estimado da aeronave é de US$ 25.000 por hora; segundo o “New York Times”, a doação envolveu complexa rede de contatos diplomáticos
O presente dado pelo Qatar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), um luxuoso Boeing 747-8 para ser usado como o novo Air Force One, envolveu complexa rede de contatos diplomáticos e técnicos entre os 2 países, segundo reportagem do jornal The New York Times que revelou bastidores da negociação. O assistente do Departamento de Defesa norte-americano, Sean Parnell, disse na 4ª feira (21.mai.2025) que os EUA aceitariam a aeronave.
Em 2018, os EUA assinaram um contrato de US$ 3,9 bilhões com a Boeing para a produção de 2 jatos para servir como avião presidencial. Uma série de atrasos, no entanto, prolongou o prazo de entrega para além de 2024 e, possivelmente, ultrapassando o 2º mandato de Trump (2025-2029).
Atualmente, o presidente utiliza aeronaves que transportaram George H.W. Bush, o “Bush Pai”, há 35 anos. Segundo o jornal, o Gabinete Militar da Casa Branca, junto com a Boeing e o Departamento de Defesa, elaborou uma lista com todos os modelos 747 disponíveis no mercado, com configuração de jato executivo.
Foram identificados 8 aviões no mundo que atendiam aos pré-requisitos, entre eles, um avião de 2 andares que o Qatar tentava vender desde 2020. O The New York Times conversou com um engenheiro aeroespacial que chegou a ajudar o país a vender a aeronave. Segundo ele, o avião foi entregue pela Boeing em 2012 e tem um valor estimado de US$ 150 milhões (cerca de R$ 765 milhões) a US$ 180 milhões (R$ 918 milhões). Outras estimativas colocam a avaliação em US$ 400 milhões (R$ 2,04 bilhões).
O custo operacional de uma aeronave desse porte é estimado em US$ 25.000 (R$ 127.500) por hora, segundo uma revista especializada, e o custo por hora para fretar um jato como este é de aproximadamente US$ 35.000 (R$ 178.500).
O BANHEIRO É “QUASE UMA OBRA DE ARTE”
Um folheto promocional da Amac Aerospace obtido pela publicação destacava os “tecidos macios da mais alta qualidade” e um banheiro “luxuosamente projetado”, que é “quase uma obra de arte”.
Veja imagens do interior da aeronave:
Reprodução/Instagram @thebusinessjetguy
Reprodução/Instagram @thebusinessjetguy
Reprodução/Instagram @thebusinessjetguy
Reprodução/Instagram @thebusinessjetguy
Reprodução/Instagram @thebusinessjetguy
De acordo com a Business Insider, a decoração de interiores do avião tem a assinatura de Alberto Pinto, uma empresa de design sediada em Paris especializada em iates, aviões e casas do mercado de luxo.
O Boeing 747-8 possui características específicas. O convés superior conta com um lounge e um centro de comunicações, enquanto o quarto principal pode ser “convertido em uma unidade de transporte médico completa com fornecimento direto de oxigênio”. Para a equipe, há uma seção “classe executiva” com 12 assentos totalmente reclináveis.
“Cada superfície e detalhe neste ambiente reflete o design opulento”, diz o material promocional. “O mais alto nível de habilidade artesanal e proeza de engenharia foi aplicado para equipar o interior meticulosamente”, afirma.
AMOR À 1ª VISTA
O avião foi apresentado a Trump em fevereiro de 2025 em West Palm Beach, Flórida, depois de um voo direto de Doha. O voo de ida e volta de Doha para a Flórida, com cerca de 30 horas no ar, pode ter custado até US$ 1 milhão (R$ 5,1 milhões).
Trump deixou seu resort Mar-a-Lago para uma curta viagem até o aeroporto para conhecer o avião. Segundo o jornal, foi amor à 1ª vista.
Depois da inspeção, o republicano voltou a Washington D.C. em uma das atuais aeronaves Air Force One. Assessores da Casa Branca consideraram que, com uma nova pintura e algumas atualizações, o avião poderia estar pronto em 1 ano.
Especialistas ouvidos pelo jornal, no entanto, alertam que preparar o avião para uso presidencial levaria anos, adiando qualquer chance de Trump utilizá-lo antes de 2027.
Segundo funcionários do Pentágono, mesmo com a doação do avião, o custo das adaptações necessárias seria de pelo menos US$ 1 bilhão.
DOAÇÃO
O acordo ainda não assinado tem ocasionado críticas tanto de democratas quanto de republicanos, além de advogados especializados em ética, que questionam se o presente seria para Trump pessoalmente ou para o governo norte-americano.
Não está claro como um plano que inicialmente envolvia a compra do avião se transformou em uma proposta de doação. Um alto funcionário da administração afirmou ao The New York Times que o Qatar levantou a possibilidade de uma doação, ou que autoridades do país estavam “de acordo” com a ideia de uma transferência sem custos entre governos.
O primeiro-ministro do Qatar, Sheikh Mohammed, defendeu a oferta: “É uma coisa normal que acontece entre aliados”, afirmou durante uma conferência em Doha, caracterizando a transferência como uma “relação muito institucional”. Ele rejeitou a ideia de que se tratava de um suborno, atribuindo as críticas ao “estereótipo de ver o Qatar como uma pequena nação árabe” que “não consegue encontrar seu caminho sem comprá-lo com dinheiro”.
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