Sidônio assume Secom com desafio de aumentar popularidade de Lula

Novo ministro trocou equipe para também acabar com disputas internas; terá de apresentar à população feitos positivos do governo em momento de desequilíbrio fiscal e mudanças nas redes sociais

O novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Sidônio Palmeira, assume oficialmente, a partir desta semana, o desafio de recuperar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até as eleições de 2026. A troca no setor se dá no momento de maior desconfiança de agentes financeiros em meio a um desequilíbrio fiscal. Mudanças nas redes sociais também podem dificultar a reação da gestão petista.

A posse do publicitário como ministro será realizada às 11h desta 3ª feira (14.jan.2025), no Palácio do Planalto. De perfil discreto e avesso a holofotes, Sidônio não queria uma cerimônia, mas Lula fez questão de que sua chegada ao governo fosse marcada por um ato público.

Responsável pelo marketing da campanha vitoriosa do petista em 2022, Sidônio tem atuado como um conselheiro do presidente desde o início do seu 3º mandato, em 2023. Intensificou sua presença no Planalto nos últimos meses. Desenhou a estratégia de divulgação do pacote de corte de gastos, em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou as medidas em um pronunciamento veiculado em rede nacional de rádio e televisão, em 27 de novembro.

Em dezembro, produziu e participou da gravação de um vídeo em que Lula aparece ao lado do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Em sua fala, o petista disse que seu governo jamais interferirá nas decisões da autoridade monetária e garantiu autonomia a Galípolo.

Na semana passada, logo depois de ter sido anunciado ao cargo, Sidônio coordenou a reação a um vídeo falso com imagens modificadas por inteligência artificial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendendo a cobrança de imposto no Pix.

NOVO PERFIL

O publicitário era a 1ª opção de Lula para a Secom quando começou a montar o seu 3º governo, em 2022. Mas o marqueteiro recusou o cargo porque não queria deixar sua agência, a Leiaute Comunicação, e outros negócios na Bahia. Preferiu se manter como um consultor informal.

Embora pudesse dar palpites e conselhos, Sidônio não dava a palavra final nas decisões da Secom, prerrogativa do titular da secretaria, Paulo Pimenta. Agora, será responsabilidade sua remodelar a comunicação do governo para fazer com que a percepção da população sobre os feitos positivos da gestão Lula melhore. Deve também tentar buscar uma marca para o 3º mandato do petista. Aliados do presidente apontam que a diferença agora, com a mudança, é que Sidônio poderá imprimir seu estilo, considerado mais pragmático e objetivo.

Na semana passada, em conversa com jornalistas, defendeu uma maior proximidade de Lula com a imprensa, por meio de entrevistas e conversas, e mais participação do presidente e de ministros nas redes sociais oficiais para mostrar ações do governo.

Lula está insatisfeito com a comunicação de seu governo desde o início de 2024, mas intensificou suas reclamações no fim do ano. A fala mais dura sobre o assunto foi feita em 6 de dezembro durante seminário do PT. Na ocasião, o presidente disse que houve erro seu na área e que seria obrigado a fazer mudanças. A fala foi vista por petistas como uma “demissão pública” de Pimenta.

A popularidade do presidente está no seu pior nível desde o início do mandato. Segundo o PoderData, o governo tinha 48% de desaprovação em dezembro, ante 45% de aprovação. Na 6ª feira (10.jan.2025), a Atlas Intel mostrou um número parecido: 49,8% de reprovação e 47,8% de aprovação. Igualmente recorde.

A avaliação do trabalho pessoal de Lula também piorou de forma generalizada, como mostra o infográfico abaixo:

Uma das áreas que o novo ministro quer melhorar é a comunicação digital do governo. Avalia que atualmente ela é analógica. Mas Sidônio terá duas dificuldades nessa área. Terá de refazer a licitação de R$ 200 milhões para contratar empresas de comunicação digital e enfrentará mudanças nas redes sociais que podem impactar na circulação de informações sobre política.

Em 7 de janeiro, o dono da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou que a companhia decidiu acabar com o seu sistema de verificação de fatos e suspendeu as restrições a publicações nas suas redes sociais: Facebook, Instagram e Threads. A justificativa foi “restaurar a liberdade de expressão”.

A big tech anunciou também que passará a exibir mais conteúdo de política nos feeds dos usuários. A medida já começou a valer nos Estados Unidos e deve chegar ao restante do mundo nos próximos dias.

TROCAS NA SECOM

Sidônio fez trocas na composição da Secom ao indicar pessoas que já trabalhavam com ele anteriormente. Ter gente próxima ao seu redor foi uma de suas características durante a campanha eleitoral de 2022. Mas as mudanças também foram feitas para dirimir as disputas internas nas secretarias que compõem o ministério.

Como o Poder360 mostrou, Lula deu carta branca para que o marqueteiro pudesse acabar com os “feudos” existentes na Secom. Das 7 secretarias, só duas eram ocupadas por indicação direta de Pimenta: Ricardo Zamora, chefe da Secretaria Executiva, e Fabrício Lazzarini Carbonel, responsável pela Secretaria de Publicidade e Patrocínios.

Os 2, porém, deixarão a Secom. Sidônio indicou o publicitário Thiago César para a secretaria-executiva e Paulo Brito para a gerência da publicidade. Outra mudança significativa que o marqueteiro fez foi demitir o secretário de imprensa, José Chrispiniano, que atuava como assessor de Lula há 13 anos.

Em seu lugar, assumirá Laércio Portela, que foi ministro interino da Secom de maio a setembro, quando Pimenta se licenciou do cargo para se dedicar a uma secretaria extraordinária criada para ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul, atingido por fortes enchentes.

JANJA PERDERÁ ALIADA

Outra troca significativa que Sidônio deve oficializar nos próximos dias é a saída da titular da secretaria de Estratégia e Redes, Brunna Rosa. Ela é ligada à primeira-dama Janja Lula da Silva e administra as contas institucionais da Presidência, como as páginas do Governo do Brasil (@govbr) e da Secom (@secomvc). Também é responsável pelas pesquisas internas do governo.

Sua saída representa uma ruptura na influência exercida por Janja na comunicação do governo. Como o Poder360 mostrou em maio de 2024, a primeira-dama travou uma disputa com outros 2 assessores diretos mais próximos de Lula pelo controle total das redes sociais do presidente.

Ela queria que Brunna Rosa comandasse também as publicações nos perfis pessoais de Lula, que estavam a cargo de Chrispiniano, no X (antigo Twitter), e do secretário de Audiovisual e fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert, no Instagram. A divisão na administração das contas, porém, permaneceu.

Sidônio, porém, mantém uma boa relação com Janja de acordo com aliados de ambos. Desde a campanha eleitoral, o marqueteiro costuma consultar a primeira-dama e acatar suas ideias. Já no governo, trocaram impressões sobre ações da comunicação, às vezes, com a mesma avaliação de que faltava melhorar a forma de levar à população os feitos positivos do governo.

Como o Poder360 mostrou, o chefe de gabinete da comunicação da Prefeitura do Recife (PE), Rafael Marroquim, foi sondado por Sidônio para ocupar o lugar de Rosa, mas não aceitou o cargo. Apesar disso, o jornalista topou ajudar informalmente nas redes do governo e ceder parte de sua equipe.

Marroquim cuida das redes do prefeito João Campos (PSB), reconhecido como o mais popular do campo progressista na internet. Sua aproximação indica o perfil que o novo chefe da Secom quer para os perfis de Lula e do governo.

Em meio às mudanças, Stuckert será mantido. Fotógrafo de Lula desde o início do seu 1º mandato, em 2003, é uma das pessoas com melhor acesso ao presidente. Esteve com o petista durante todo o seu governo (2003-2010) e no seu período fora da Presidência, inclusive quando Lula esteve preso por 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR). No atual governo, é o secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-governo/sidonio-assume-secom-com-desafio-de-aumentar-popularidade-de-lula/

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