Saiba como o corpo do papa Francisco será embalsamado

Objetivo é retardar o processo de decomposição, já que o funeral do pontífice deve levar dias

Depois da morte do papa Francisco, na 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos, o Vaticano enfrenta uma prioridade imediata: preservar o corpo do pontífice para que permaneça apresentável durante o velório em Roma, onde o clima úmido pode acelerar a decomposição.

O processo de embalsamamento moderno exige rapidez. Veias no pescoço do pontífice são abertas para drenar o sangue, enquanto uma mistura contendo formol, álcool, água e corantes é bombeada para o sistema circulatório. Esse procedimento elimina bactérias e “fixa” as proteínas celulares, impedindo que as próprias enzimas do corpo iniciem a decomposição.

Essa técnica vai permitir que o corpo do papa permaneça em exposição por dias, sem sinais evidentes de deterioração, possibilitando que centenas de milhares de fiéis prestem suas últimas homenagens. O velório de Francisco teve início na manhã desta 3ª feira (22.abr).

Desde o século 20, as práticas funerárias do Vaticano alinharam-se aos métodos convencionais de embalsamamento. O anatomista Dr. Nikola Tomov, da Universidade de Berna, explicou ao jornal britânico Daily Mail que o 1º papa a receber um embalsamamento “moderno” foi Pio 10º, falecido em 1914.

A mudança definitiva para técnicas modernas ocorreu depois do embalsamamento do papa Pio 12 em 1958.

O então médico papal Riccardo Galeazzi-Lisi, responsável pelo processo, afirmou ter descoberto o método usado para preservar o corpo de Jesus. Em vez de técnicas adequadas, colocou Pio 12 em um saco plástico com ervas, especiarias e óleos. O resultado foi uma aceleração da decomposição, causando um odor tão intenso que os guardas precisavam ser substituídos a cada 15 minutos.

Tradição na família Signoracci

A família Signoracci, que opera o principal serviço funerário de Roma há 4 gerações, realizou o embalsamento de 3 papas: João Paulo 1º, Paulo 6º e João 23. Eles também foram responsáveis pela preparação do corpo do cineasta Pier Paolo Pasolini e do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, assassinados em 1975 e em 1978, respectivamente.

Em entrevista à revista Der Spiegel em 2005, Massimo Signoracci explicou o procedimento: “Você apenas abre as artérias no pescoço e na virilha, bombeia o sangue para fora e, ao mesmo tempo, injeta o fluido de embalsamamento nas veias”. 

Sobre o Papa João 23, Signoracci disse: “Depois de 37 anos, João 23 parecia tão bom quanto no dia seguinte à sua morte”. O corpo do pontífice havia sido infundido com 10 litros de uma mistura contendo álcool etílico, formalina, sulfato de sódio e nitrato de potássio.

Historicamente, os órgãos dos papas eram removidos e preservados separadamente como relíquias religiosas. A Igreja de Santos Anastácio e Vicente, próxima à Fontana di Trevi, em Roma, guarda o fígado, baço e pâncreas de 22 papas diferentes. No entanto, desde o papa Leão 13, falecido em 1903, nenhum pontífice teve seus órgãos removidos, após determinação de que o corpo papal deveria permanecer intacto.

Sepultamento do papa Francisco

Em uma ruptura com a tradição, o papa Francisco solicitou ser sepultado em um único caixão de madeira revestido de zinco, em vez do tradicional conjunto de 3 caixões. Também será o 1º papa em mais de um século a ser enterrado fora do Vaticano. No final de 2023, o pontífice revelou que já havia “preparado” seu túmulo na Basílica de Santa Maria Maior, no bairro Esquilino, em Roma (Itália).

Estas mudanças nos procedimentos funerários refletem a abordagem reformista que caracterizou o pontificado de Francisco, priorizando simplicidade e humildade mesmo em seus ritos finais.

O caso de João Paulo 2º

Apesar da tradição, nem todos os papas recentes foram completamente embalsamados. Segundo o Vaticano, o papa João Paulo 2º não recebeu embalsamamento formal quando morreu em 2005, tendo seu corpo apenas “preparado” para o velório. Especialistas da indústria funerária norte-americana observaram nas fotografias possíveis sinais de decomposição, incluindo arroxeamento dos lábios e inchaço.

Sem embalsamamento adequado, a putrefação normalmente começa em aproximadamente uma semana. Nesse estágio, bactérias intestinais iniciam a degradação dos tecidos, liberando gases e fluidos com odor desagradável. A velocidade da decomposição depende de fatores como temperatura e biotipo corporal.

O papa Paulo 6º, morto em agosto de 1978 e apenas levemente embalsamado pelos Signoracci, “adquiriu um tom esverdeado” depois de 2 dias de exposição, necessitando ventiladores na Basílica para dispersar o odor.

MORTE DO PAPA FRANCISCO

O papa Francisco morreu na 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos. O pontífice foi o 2º líder mais velho a governar a Igreja Católica em 700 anos. Sua morte foi confirmada pelo Vaticano: “Às 7h35 desta manhã [2h35 de Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.

Francisco sofria de problemas respiratórios. Em 2023, já havia passado 3 dias hospitalizado para tratar uma bronquite. Em março de 2024, não conseguiu ler um discurso durante uma cerimônia no Vaticano.

Argentino nascido na cidade de Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio foi internado em 14 de fevereiro de 2025 no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilateral.

Em 22 de fevereiro, o Vaticano afirmou que Francisco enfrentou uma crise prolongada de asma e precisou passar por uma transfusão de sangue e que ele “não estava fora de perigo”. Os exames realizados mostraram plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) associada à anemia, o que levou à necessidade da transfusão. O religioso teve alta em 23 de março e estava em recuperação. Sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), na bênção de Páscoa.

ÚLTIMAS PALAVRAS

No domingo (20.abr.2025), fez uma aparição na varanda da Basílica de São Pedro, durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na cadeira de rodas e com dificuldades para falar, o sumo pontífice desejou uma “feliz Páscoa” aos fiéis.

Em seguida, passou a palavra para o mestre de cerimônias, o monsenhor Diego Giovanni Ravelli, que leu a mensagem “Urbi et Orbi” (“à cidade [de Roma] e ao mundo”) do papa. Ao final, fez a bênção diante dos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Na mensagem, o papa exortou os políticos a não cederem “à lógica do medo” e fez um apelo ao desarmamento. “A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se em uma corrida generalizada ao armamento”, afirmou.

O CONCLAVE

Com a morte de Francisco, os cardeais iniciarão o conclave –termo de origem no latim “cum clave”, que significa “com chave”– para a escolha do 267º papa. O ritual, que remonta ao século 13, é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, onde cardeais com menos de 80 anos se reúnem para eleger o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana. A quantidade de cardeais pode variar desde que não ultrapasse o limite de 120.

Para ser eleito, um candidato precisa receber 2/3 dos votos. O resultado é transmitido ao público presente no Vaticano e ao mundo por meio de uma fumaça que sai de uma chaminé no telhado da Capela Sistina. Ela é produzida pela queima das cédulas de votação com produtos químicos para dar a cor desejada. A fumaça preta significa que o papa não foi escolhido e a votação seguirá.

Quando um cardeal recebe os votos necessários, o decano do Colégio de Cardeais pergunta se ele aceita a posição. Em caso afirmativo, o eleito escolhe seu nome papal e as cédulas são queimadas com os químicos que produzem a fumaça branca, que comunicará a escolha do novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.

Leia mais sobre a morte do papa Francisco: 

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/saiba-como-o-corpo-do-papa-francisco-sera-embalsamado/

Deixe um comentário