Países industrializados reduziram importações de produtos russos desde a guerra na Ucrânia; já os em desenvolvimento aumentaram
A Rússia exportou 20 vezes mais aos parceiros do Brics em 2024 do que aos países do G7 –grupo dos 7 países mais industrializados do mundo.
Os integrantes originais do Brics –Brasil, China, Índia e África do Sul– compraram US$ 209,9 bilhões em produtos russos no ano passado. Enquanto isso, as exportações aos países do G7 foram de US$ 19,9 bilhões. Os dados são do Comtrade –agência da ONU (Organização das Nações Unidas) que compila resultados do comércio internacional.
Os números são explicáveis pelas sanções econômicas impostas à Rússia pelos Estados Unidos e algumas nações europeias que integram o G7 depois do começo da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. À época, EUA, Alemanha e Itália, por exemplo, eram importantes compradores de diesel, fertilizantes e outros produtos russos. As sanções levaram a reduções drásticas nas importações de produtos russos por esses países. A Alemanha, por exemplo, comprou US$ 31,2 bilhões de Moscou em 2022, e só US$ 2,27 bilhões em 2024.
A ideia das sanções é isolar a economia russa, pressionando o presidente Vladimir Putin a recuar nos ataques à Ucrânia. Para contornar isso, Moscou expandiu suas exportações a países aliados políticos ou econômicos –a exemplo do Brics. Dos 4 países originais do bloco –além da própria Rússia–, só a África do Sul reduziu as importações russas desde a eclosão da guerra.
A China se firmou como um importante parceiro para suprir a falta dos países ocidentais. Em 2022, os chineses gastaram US$ 79,6 bilhões em produtos da Rússia, valor que subiu para US$ 130 bilhões em 2024 –aumento de 64%. A Índia se tornou um dos maiores compradores da produção russa, saltando de US$ 8,7 bilhões em 2021 para US$ 67,2 bilhões em 2024 –dos quais US$ 59,5 bilhões são diesel e outros combustíveis. A alta foi de 672%.
O Brasil também aumentou sua importância para o comércio russo. O país ampliou a compra do diesel e de fertilizantes vindos da Rússia. No total, dobrou o valor gasto em importações russas, de R$ 6,2 bilhões em 2021 para R$ 12,2 bilhões em 2024. Os aumentos foram constantes tanto no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto no do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Taxas de 100%
O presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano), ameaçou na 2ª feira (14.jul.2025) aplicar tarifas de 100% a produtos russos caso o Kremlin não encerre a guerra com a Ucrânia em 50 dias.
A taxa em si não teria impacto significativo direto no comércio da Rússia, visto que o país não mantém o mesmo nível de importação com os EUA. Contudo, o líder norte-americano também ameaçou impor “tarifas secundárias” a países que importam da Rússia. Apesar de não ter detalhado as taxas, elas afetariam nações como Índia, China e Brasil, além de outros aliados como Belarus e Turquia.
O senador Lindsey Graham (Partido Republicano), da Carolina do Sul, afirmou, horas antes de Trump que esses países seriam punidos por comprar diesel da Rússia.
A estratégia dos EUA é sancionar os países que sustentam a economia russa para forçá-los a pressionar Putin por um cessar-fogo na Ucrânia ou aumentar o isolacionismo econômico de Moscou.
A ameaça foi reforçada pelo secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Mark Rutte. A aliança militar pediu que as diplomacias de Índia, Brasil e China pressionem a Rússia a encerrar o conflito.