Propagandas contra o tarifaço animam militância petista, que usa verde e amarelo durante evento do partido em Brasília
Vermelho, branco, azul, verde e amarelo foram as cores mais vistas, neste sábado (2.ago.2025), no 17º Encontro Nacional do PT, em Brasília. A campanha de resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tarifaço imposto ao Brasil por Donald Trump (republicano) impulsionou que o evento da militância petista tivesse elementos patrióticos que ficaram comumente associados a manifestações de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As frases “Brasil soberano” e “Brasil dos brasileiros” estampavam bonés azuis, verdes, amarelos, brancos e vermelhos.
Os termos não foram escolhidos em vão. Constam nas campanhas do PT e do governo Lula para rebater as medidas anunciadas por Trump e suas declarações sobre o Brasil, como o pedido para que acabasse a “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Veja fotos do encontro:
Encontro do PT em Brasília tem verde e amarelo
O Planalto decidiu que a palavra “soberania” seria um dos pilares de comunicação nas campanhas sobre a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Em 11 de julho, 2 dias depois do anúncio do tarifaço pelos norte-americanos, Lula usou um boné com os dizeres “O Brasil é dos brasileiros”.
O adereço foi criado pelo ministro Alexandre Padilha como resposta ao slogan “Make America Great Again” de Trump. Aliados de Lula começaram a usar o boné durante a eleição do Senado, em 1º de fevereiro.
No auditório, na área central de Brasília, escolhido pelo PT para juntar seus cerca de 1.000 delegados de todos o país, os bonés fizeram sucesso. Normalmente carregavam a hashtag “semAnistia” nas laterais. Os militantes estão na capital federal para decidir quais conceitos e diretrizes guiarão a sigla nos próximos anos.
DIRCEU TIETADO
Um dos mais tietados do evento, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse ao Poder360 que o encontro se voltou para a agenda da soberania por causa das medidas dos Estados Unidos.
“A soberania nacional foi atacada, a independência do Poder Judiciário brasileiro foi atacado e é hora de unir o Brasil em torno do governo do presidente Lula. Defender o Estado Democrático de Direito, defender a soberania nacional. Então, o encontro, evidentemente, se voltou para essa agenda do tarifaço, para a agenda da não anistia”, declarou.
Um comentário comum entre os participantes do evento era o de como o uso pelo governo do fator Trump para surfar em temas como o nacionalismo e a soberania animou a militância, que voltou a se apropriar dessas pautas, que, nos últimos anos, ficaram restritas à direita.
“A pauta da defesa do Brasil soberano sempre foi da esquerda, não foi da direita no Brasil. Historicamente falando, a esquerda sempre defendeu o nacionalismo, a industrialização do Brasil, a democracia, acesso à terra e a distribuição de tenda”, disse Dirceu, afirmando ser necessário organizar o partido para fazer essas defesas.
A delegada do Piauí Melissa Macedo, 27 anos, disse que as campanhas do governo e do PT nas redes tiverem efeito sobre a militância petista.
“Animou muito, porque nós tomamos para nós o verdadeiro patriotismo que havia se perdido e que outro grupo havia distorcido. E agora nós tomamos para nós como verdade e esse é o verdadeiro patriotismo, a soberania brasileira. Dá um ânimo para nossa eleição, para nós enquanto petistas e brasileiros”, disse Melissa.
Com um boné azul igual ao utilizado por Lula em atos pelo Brasil, com os dizeres “Brasil dos Brasileiros”, Angelo Raniere, 38 anos, de Pernambuco, disse que a injeção de ânimo reflete não só na militância que, segundo ele, já é sempre aguerrida, mas na população de forma mais ampla.
“O Brasil é vanguarda nas lutas em defesa da soberania, a gente já teve um momento do petróleo é nosso e agora a população do Brasil, a militância, reagiu de forma muito forte a essas sanções do presidente Trump e, de verdade, reflete o sentimento do patriotismo de fato”, afirmou.
Segundo o último levantamento do PoderData, as taxas de aprovação do governo tiveram uma leve melhora. De maio a julho, os percentuais oscilaram favoravelmente ao petista, que surfa no discurso da soberania depois do tarifaço.
A pesquisa do PoderData feita de 26 a 28 de julho mostra que o governo é hoje desaprovado por 53% dos eleitores. A taxa oscilou 3 pontos percentuais para baixo em 2 meses. No mesmo período, a aprovação foi de 39% para 42%. A distância entre as taxas positiva e negativa caiu de 17 pontos percentuais para 11 pontos percentuais.
O mesmo estudo mostrou que 46% dos eleitores afirmam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua família são os responsáveis pelas tarifas impostas pelo presidente dos EUA. Outros 32% atribuem a responsabilidade pela sobretaxa a Lula. Os percentuais são entre os 74% de eleitores que disseram saber das novas taxas.
BANDEIRA NACIONAL
Depois do tarifaço, Lula tem usado a bandeira verde e amarela em atos pelo Brasil em uma tentativa de desassociar o símbolo do bolsonarismo. É a retomada de um movimento de 2022, depois da vitória eleitoral, em que o petista dizia que os brasileiros eram o único dono da bandeira nacional. Agora, repete as mesmas frases.
Em lançamento de novos projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Osasco, em 25 de julho, Lula reuniu seus ministros presentes no palco para uma foto segurando a bandeira brasileira.
O movimento teve reflexo no encontro petista deste sábado (2.ago).
A secretária de relações internacionais do PT nacional, Joseane Borges, 41 anos, do Piauí, destacava-se nos corredores do evento. Usava um macacão amarelo, com um blazer verde oliva. Segundo ela, o look foi intencional para representar a luta pela recuperação da bandeira como um símbolo da população.
“Como líder nata do movimento LGBT, que é o movimento que mais sofre na pele a dor e a delícia de ser o que é por toda essa junção de gente bolsonarista que vem lutando para massacrar o nosso povo… Nós estamos aqui na luta, sim, para recuperar as cores da bandeira do Brasil, que é nossa”, afirmou.
O encontro nacional petista teve sua abertura na noite de 6ª feira (1º.ago) e segue até domingo (3.ago), quando o presidente Lula é esperado para um ato com o presidente eleito da sigla, Edinho Silva.