Queda de 66% do fim do século para 2025 mostra de maneira objetiva como está próxima a extinção da legenda dos tucanos
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) enfrenta em 2025 seu pior momento da história. A sigla, que nasceu defendendo uma modernização do Estado, foi palco de uma série de intrigas internas na última década e viu seu desempenho eleitoral recuar ao pior patamar desde a fundação, em 1988. Na 3ª feira (19.ago.2025), perdeu seu último governador: Eduardo Riedel, que comanda o Estado de Mato Grosso do Sul, foi para o PP.
Os tucanos tiveram seus tempos de glória no fim do século 20. Governaram o Brasil por 2 mandatos, com Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Tiveram uma das maiores bancadas do Congresso Nacional e chegaram a comandar 18% das cidades brasileiras.
No auge, o partido teve 9.794 políticos ocupando algum cargo eletivo (somando presidente, deputados federais, estaduais e distritais, senadores, governadores, prefeitos e vereadores –eleitos em 1998 e 2000). Hoje, em 2025, esse número recuou para apenas 3.330 (considerando as eleições de 2022 e 2024). Foi uma queda de 66%.
O fiasco eleitoral do partido se intensificou a partir de 2016, no pós-impeachment de Dilma Rousseff (PT). Àquela época, o PSDB era comandado por Aécio Neves –o tucano que mais chegou perto da Presidência desde FHC (leia mais abaixo).
O mineiro entrou em desgraça depois de protagonizar uma disputa acirrada com Dilma em 2014. Viu-se envolto em escândalos de corrupção, teve sua imagem minada e deixou de ser o líder que os tucanos esperavam. Saiu da presidência do partido em 2017.
Aécio é neto de Tancredo Neves (presidente eleito que morreu antes de tomar posse, em 21 de abril de 1985). Elegeu-se deputado federal pela 1ª vez em 1986, para participar do Congresso constituinte. Foi presidente da Câmara em 2001 e 2002, governador de Minas Gerais de 2003 a 2010 e senador pelo Estado de 2011 a 2019. Voltou a ser deputado em 2019 e ocupa o cargo até hoje.
Em 2014, teve 34,9 milhões de votos contra Dilma no 1º turno e 51,0 milhões na 2ª etapa do pleito. Perdeu na última rodada da votação, mas por uma margem muito pequena: 48,36% do tucano contra 51,64% da petista.
A diferença (até então a menor numa disputa à Presidência desde a redemocratização) encorajou Aécio a entrar com um processo na Justiça Eleitoral questionando a lisura das urnas eletrônicas e a “credibilidade” do sistema de contabilização dos votos. O à época candidato derrotado pediu uma auditoria especial dos resultados. Contribuiu para intensificar uma discussão na sociedade sobre a confiabilidade das eleições no Brasil. Em 2021, Aécio declarou que a discussão sobre o tema havia sido “desvirtuada”.
Em 2016, com a queda de Dilma, o PSDB e seus caciques se aproximaram de Michel Temer (MDB), que assumiu o Planalto. A perda acentuada de popularidade e as ligações da administração do emedebista com escândalos de corrupção se tornaram mais um problema para os tucanos. O desgaste acabou respingando no partido e piorando ainda mais a situação da sigla.
A consequência da desorganização tucana ficou cristalina pouco tempo depois, na eleição de 2018. O partido (que havia ido ao 2ª turno em todos os pleitos presidenciais do século 21) ficou só com o 4º lugar na disputa naquele ano. Mesmo com quase metade do tempo de TV e com amplo apoio de partidos de centro, o candidato Geraldo Alckmin teve ínfimos 4,76% dos votos válidos (5.096.349), menor votação da história do PSDB.
Quem venceu naquele ano foi Jair Bolsonaro (candidato à época pelo PSL). O militar reformado foi ao 2º turno contra Fernando Haddad (PT) e teve 60,38% dos votos válidos nessa rodada final. Adotou um discurso antipolítica na campanha e se cacifou como o principal líder da direita, isolando ainda mais os tucanos que restaram.
Com o avanço do bolsonarismo, os embates no PSDB se intensificaram. E o partido foi se descaracterizando, com filiados navegando entre os mais variados espectros políticos.
Em 6 de junho de 2025, em risco de extinção, o PSDB aprovou uma fusão com o Podemos. O objetivo era manter sua estrutura e contornar nos próximos anos a cláusula de desempenho (entenda mais aqui). A empreitada foi abortada dias depois por falta de acordo entre as siglas.
Ascensão e queda do PSDB: marcos históricos do partido
Para o ex-tucano histórico Andrea Matarazzo, que foi ministro de FHC, o principal erro do partido foi ter se “distanciado das suas origens” e da sua essência. “Era um partido que tinha projeto de país”, afirma.
Segundo Matarazzo, os tucanos não conseguiram se acostumar a ficar longe do poder. Ele diz acreditar que o PSDB não tem mais salvação e será sucedido pelo PSD, sigla que está filiado agora.
“Acho que o PSD é uma versão contemporânea do PSDB, em função das mudanças, do mundo e do país […] É um partido que foi agrupando as pessoas que têm algo a mostrar, que tem experiência e tem projeto de país”, declara o ex-tucano.
Marcio Aith, advogado e ex-subsecretário de Comunicação de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin, diz que os tucanos ocuparam de forma artificial o lugar da direita no Brasil.
“O país se evangelizou e caminhou para direita nos costumes. Só que não apareceu nenhum líder de direita. O PSDB ocupou esse espaço, achando que os votos eram dele. Não eram. Eram antipetistas”, diz Aith.
O partido, segundo ele, também chegou atrasado à era da comunicação virtual e teve dificuldade em recrutar líderes mais jovens para se renovar. “Não era um partido orgânico. O último nome que surgiu foi o Eduardo Leite [governador do Rio Grande do Sul], que já saiu”, declara.
TUCANOS X PETISTAS
O PSDB foi fundado em 1988 a partir de dissidências do MDB –que havia sido a agremiação que fazia oposição consentida à ditadura militar (1964-1985). Políticos de centro-esquerda e de centro criaram a legenda depois de insatisfação com o rumo do MDB 3 anos depois da volta do país à democracia.
Os tucanos tiveram seu 1º candidato à Presidência em 1989: o à época senador Mário Covas (1930-2001). O político defendeu na campanha uma reforma do Estado e um “choque de capitalismo” para desenvolver o país.
Covas ficou em 4º lugar. Teve 7,8 milhões de votos. Quem venceu aquele pleito foi Fernando Collor de Mello (PRN), que depois veio a sofrer impeachment, abrindo lugar a Itamar Franco.
Itamar assumiu o governo em 1992. Escolheu no ano seguinte como seu ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, conhecido pelas iniciais de seu nome, FHC. O tucano histórico e sua equipe foram responsáveis por criar o Plano Real a partir do 2º semestre de 1993. A implementação foi em julho do ano seguinte.
O projeto, que acabou com a hiperinflação no Brasil, alavancou o tucano e candidatos do partido e deu início ao que viriam a ser os anos de ouro do PSDB. O sucesso da medida fez com que FHC se transformasse quase que de forma instantânea em um candidato competitivo para disputar a Presidência da República em 1994, com o apoio de Itamar.
Já a partir do 2º semestre daquele ano, faltando poucos meses para a eleição, Fernando Henrique disparou nas pesquisas de intenção de voto. Foi eleito pela 1º vez em 3 de outubro de 1994, no 1º turno, com 54,28% dos votos. O 2º colocado foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve 27,04%.
Em 1998, o tucano foi reeleito, também no 1º turno, com 53,1% dos votos válidos. Ficou no poder até 1º de janeiro de 2003.
FHC só conseguiu seu 2º mandato por causa da aprovação da emenda constitucional nº 16, que permitiu a reeleição para quem ocupava cargos no Poder Executivo em todos os níveis de governo. Antes, isso era vetado. A aprovação da emenda à época se deu sob acusações de compra de votos. Entenda clicando aqui.
Mesmo fora do Planalto, como oposição, o PSDB se manteve forte eleitoralmente por anos. Ficou em 2º lugar em 4 das 6 eleições presidenciais do século 21, sempre rivalizando com o PT.
BANCADA NO CONGRESSO
Na Câmara, o PSDB chegou a eleger em 1998 uma bancada de 99 deputados. O número caiu para 13 em 2022 e agora está em 14.
O gráfico a seguir mostra na linha azul a variação dos tucanos na Casa Baixa nos últimos 30 anos e como outras siglas avançaram no mesmo período:
No Senado, os tucanos chegaram a ocupar 15 das 81 cadeiras em 1999 (na posse). Agora, são só 3.
Essa queda da bancada é contínua desde 2019, como mostra o quadro abaixo:
GOVERNADORES TUCANOS
Além do Congresso, os tucanos também enfrentam desafios nos Estados. Em 2022, elegeram 3 governadores: Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco).
Leite e Lyra trocaram a sigla em 2025 pelo PSD. A legenda de Gilberto Kassab está em amplo crescimento e vem dominando aos poucos áreas antes comandadas pelos sociais-democratas, como São Paulo. Eduardo Riedel foi o último a sair, e está agora no PP.
O desempenho do PSDB nos Estados agora em 2025 é o pior de sua história. No auge, em 2010, os tucanos elegeram 8 governadores. Agora, têm zero:
O PSDB teve seus melhores desempenhos nos Estados quando o PT esteve no poder, de 2003 a 2016. Soube aproveitar sua situação como oposição. Ganhou terreno em regiões mais conservadores.
Em São Paulo, os tucanos venceram todas as eleições para o governo de 1994 até 2018. Perderam em 2022 para Tarcísio de Freitas (Republicanos), que teve o apoio de Bolsonaro.
PREFEITOS TUCANOS
O PSDB elegeu 990 prefeitos em 2000, seu melhor resultado da história nas cidades, ainda com FHC no poder. Esse número foi caindo aos poucos, teve um leve repique em 2016 e despencou de forma acentuada depois disso.
Em 2024, foram eleitos 276 chefes municipais tucanos. Esse foi o pior desempenho do partido desde 1988 (quando a sigla estava ainda em fase embrionária e disputou pouquíssimas cidades).
O PSD, como acontece com os governadores, vem avançando em cidades antes comandadas pelo PSDB e filiando ex-tucanos. O partido de Kassab se tornou em 2024 o que mais elegeu prefeitos no Brasil.
VEREADORES TUCANOS
Desde 2000, o PSDB perdeu 5.547 vereadores nas câmaras municipais. Naquele ano, eram 8.529 representantes eleitos pelo partido, ante 2.982 em 2024.
Os dados anteriores estão incompletos na base do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas é improvável que o partido tenha tido um desempenho melhor do que o citado acima.
Os tucanos elegeram de 2000 a 2020 mais vereadores que seu principal rival, o PT. Esse cenário mudou no último pleito, em 2024, como mostra o gráfico a seguir:
Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-eleicoes/psdb-ja-teve-9-794-politicos-eleitos-e-hoje-tem-so-3-330/