Taxa registrada no ano é 0,21 ponto percentual acima de 4,5%, que é o teto da meta de inflação
Conhecida como a prévia da inflação, a taxa anual do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) foi de 4,71% em 2024. Apesar de ter sido inferior à registrada em 2023 (4,72%), ficou acima do centro da meta, de 3%, e do teto, de 4,5%. Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta 6ª feira (27.dez.2024). Eis a íntegra (PDF – 319 kB).
Considerando só o mês de dezembro, o índice prévio teve inflação de 0,34%, depois de marcar 0,62% em novembro.
Entre os 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 5 tiveram alta em dezembro. O setor de alimentação e bebidas registrou a maior variação (1,47%), e o impacto positivo mais acentuado, de 0,32 p.p. A maior variação acumulada no ano (8,00%) e a maior contribuição (1,68 p.p.) foram do mesmo grupo.
A alimentação no domicílio registrou variação de 1,56% em dezembro. A alimentação fora do domicílio, por sua vez, acelerou de 0,57% em novembro para 1,23% em dezembro.
Os setores de Despesas Pessoais (1,36% e 0,14 p.p.) e Transportes (0,46% e 0,09 p.p.) também tiveram resultados positivos. Em Despesas Pessoais, a alta do cigarro (12,78%) foi determinante para o desempenho do segmento. Foi consequência do aumento da alíquota específica do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), incidente sobre cigarros, a partir de 1º de novembro.
No grupo Transportes, as passagens aéreas subiram 4,43% em dezembro. Em combustíveis (0,09%), foram observados aumentos nos preços do etanol (0,80%) e do óleo diesel (0,41%), enquanto a gasolina (-0,01%) e o gás veicular (-0,12%) apresentaram variações negativas. Além disso, o subitem ônibus urbano subiu 1,20%, depois de gratuidades concedidas nas passagens no 2º turno das eleições municipais.
Pelo lado das quedas, o impacto mais expressivo em dezembro foi do grupo Habitação (-0,20 p.p. e -1,32%). Os demais ficaram entre o recuo de 0,52% de Artigos de Residência, e o avanço de 0,34% de Vestuário. No setor de Habitação, a energia elétrica residencial recuou 5,72% em dezembro, por causa do retorno da vigência da bandeira tarifária verde, a partir de 1º de dezembro, com a qual não há cobrança adicional nas faturas.
INFLAÇÃO & BANCO CENTRAL
O Banco Central é o responsável por estabelecer políticas para levar a inflação à meta. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá descumprido 3 das 6 metas de inflação de 2019 a 2024.
Em entrevista a jornalistas em 19 de dezembro, Campos Neto disse que nenhum banco central do mundo cumpriu a meta de inflação em 2024. Ao ser questionado sobre a meta de inflação, ele respondeu: “Tem alguns países da Ásia que tiveram efeito inflacionário bem menor na pandemia, que estão mais estáveis, mas, em geral, nenhum país cumpriu a meta”.
A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é composto por:
Roberto Campos Neto, presidente do BC;
Fernando Haddad, ministro da Fazenda;
Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento.
O ano de 2024 será o último que o objetivo da inflação terá como referência o acumulado de 12 meses até dezembro. A nova meta é contínua e estabelece que haverá um descumprimento quando a taxa ficar fora do intervalo permitido por mais de 6 meses, mas a norma só vale a partir de janeiro de 2025.
O CMN estabeleceu uma meta de inflação de 3% para 2024. Há uma margem de tolerância: de 1,5% para 4,5%. Acima deste patamar, o BC terá que se explicar publicamente.
Campos Neto deverá deixar o Banco Central com metade das metas cumpridas. Caso as estimativas dos agentes financeiro se cumpram, o presidente será o que mais publicou cartas para explicar a inflação fora da meta. Serão 3 ao todo: 2021, 2022 e 2024. O Brasil e os países sofreram com um ciclo de inflação mais alta depois dos estímulos fiscais e monetários adotados durante a pandemia de covid-19.
HISTÓRICO DE EVENTOS
Campos Neto teve eventos favoráveis e contrários à política monetária durante a gestão. Eis alguns destaques, separados por cada ano:
2022
Guerra entre Ucrânia e Rússia;
Barril do petróleo supera US$ 120 em março;
Eleições 2022: país elege Lula.
2023
Críticas do governo à política monetária de Campos Neto e ao regime de meta;
Início da guerra entre Hamas e Israel;
indicações de diretores testam a autonomia do BC;
Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumenta os juros para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, patamar que ficou até setembro de 2024;
Governo derruba teto de gastos e cria nova regra fiscal;
reforma tributária é aprovada no Congresso.
2024
Marco fiscal é flexibilizado com metas menos rígidas;
CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelece meta contínua de inflação de 3%;
Donald Trump é eleito presidente dos EUA;
Mesmo com taxa Selic acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, a taxa de desemprego atingiuo menor patamar da série histórica, iniciada em 2012;
Governo apresenta pacote fiscal considerado pouco ambicioso pelos agentes financeiros.
HISTÓRICO DAS CARTAS
Campos Neto foi o 5º chefe da autoridade monetária brasileira a ter que dar explicações para o descumprimento da meta de inflação. Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini e Ilan Goldfajn também tiveram que encaminhar um documento ao Ministério da Fazenda com as justificativas.
Os limites estabelecidos para as metas de inflação já foram rompidos em outras 7 ocasiões. Eis as cartas já feitas:
2001 (carta feita em janeiro de 2002 sobre inflação de 2001);
2002 (carta feita em janeiro de 2003 sobre inflação de 2002);
2003 (carta feita em fevereiro de 2004 sobre inflação de 2003);
2015 (carta feita em janeiro de 2016 sobre inflação de 2015);
2017 (carta feita em janeiro de 2018 sobre inflação de 2017);
2021 (carta feita em janeiro de 2022 sobre inflação de 2021);
2022 (carta feita em janeiro de 2023 sobre inflação de 2022);
Apenas em 2017, durante a gestão Ilan Goldfajn, que a inflação terminou o ano abaixo do intervalo permitido. Na ocasião, o então presidente do Banco Central afirmou que a queda no preço de alimentos em domicílio pressionou o índice para abaixo do piso. O taxa do IPCA ficou acima do teto da meta em 2001, 2002, 2003, 2015, 2021 e 2022.
O regime de metas de inflação foi criado em 1999 no país. Os percentuais são estabelecidos pelo CMN. Atualmente, é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A autoridade monetária adota as medidas necessárias para alcançar o índice determinado, como alterar a taxa básica de juros, a Selic. A meta tem um intervalo de tolerância, atualmente de 1,5 ponto percentual. Acesse aqui o histórico.
Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-economia/previa-da-inflacao-fecha-2024-a-471-acima-da-meta/