ONG Hind Rajab leva soldado israelense à mira da Justiça brasileira

Fundação pró-palestina usa dados de fontes abertas, como redes sociais e vídeos, para acusar militares de crimes de guerra em Gaza; fundador tem histórico ligado ao Hezbollah

Em dezembro de 2024, a Justiça brasileira iniciou uma ofensiva contra o soldado israelense Yuval Vagdani, acusado de crimes de guerra na Faixa de Gaza. A queixa foi apresentada pela Fundação Hind Rajab (HRF, na sigla em inglês), uma ONG pró-Palestina com sede na Bélgica. Vagdani, que estava de férias no Brasil, foi acusado de “genocídio” por envolvimento na operação israelense em Gaza. Ele deixou o país no domingo (5.jan.2025).

A HRF, especializada em monitorar violações de direitos humanos no contexto do conflito Israel-Palestina, utiliza dados coletados por meio de Open Source Intelligence, que reúne informações de fontes abertas, como redes sociais, vídeos e fotos.

A fundação alegou que Vagdani participou de um ataque a um bairro residencial em Gaza, onde palestinos haviam buscado refúgio desde o início da guerra. Com base nessas informações, a HRF solicitou à Justiça brasileira a abertura de um inquérito e a prisão preventiva de Vagdani, que estava na Bahia de férias. A ação se fundamentou no Estatuto de Roma (PDF – 404 kB), tratado internacional assinado pelo Brasil que obriga os países a agir em casos de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio no âmbito do Tribunal Penal Internacional.

Em resposta, a Justiça Federal determinou que a PF (Polícia Federal) investigasse o soldado, em uma decisão emitida pela juíza Raquel Soares Chiarelli, do Distrito Federal, em 30 de dezembro de 2024.

Hind Rajab

A HRF é liderada por Dyab Abou Jahjah, acusado de ser um ex-integrante do Hezbollah, grupo político do Líbano considerado terrorista por países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Em uma entrevista ao jornal norte-americano New York Times em 2003, Jahjah afirmou ter recebido treinamento militar junto ao Hezbollah.

Reprodução

“Eu tive algum treinamento militar [do Hezbollah] e ainda tenho muito orgulho disso”, disse Jahjah em trecho da entrevista ao “New York Times”

De acordo com seu site, a missão da Fundação Hind Rajab é responsabilizar militares israelenses por crimes de guerra, especialmente na Faixa de Gaza. A fundação monitora constantemente redes sociais e conteúdos compartilhados por civis afetados pelo conflito. Utilizando tecnologias de geolocalização, a HRF cruza essas informações para identificar indivíduos supostamente envolvidos em ataques militares.

Os dados coletados são então encaminhados aos tribunais locais, solicitando investigações e, quando possível, a prisão dos soldados acusados. A HRF já acionou a Justiça em países como Brasil, Argentina e Chile, com base no Estatuto de Roma.

PF BARRA INVESTIGAÇÃO

A resposta da Justiça brasileira foi considerada “um desenvolvimento legal histórico“ pela HRF. Mas a PF pediu que a Justiça reconsiderasse a decisão de instaurar o inquérito.

Em um documento enviado ao MPF (Ministério Público Federal) na 2ª feira (6.jan), a PF argumentou que não há elementos suficientes para justificar a investigação. Entre os argumentos apresentados, a organização destacou que o militar já havia deixado o Brasil e que não existem leis no país que tipifiquem crimes contra a humanidade. A PGR (Procuradoria Geral da República) ainda não se manifestou sobre o caso.

Segundo a HRF, Vagdani chegou à Argentina depois de sair de solo brasileiro. A fundação diz que entrou com um processo judicial no país contra o suspeito de crimes de guerra. “Esse movimento reforça nosso compromisso de acabar com a impunidade e responsabilizar os perpetradores. A justiça prevalecerá, não importa onde eles se escondam”, escreveu em uma publicação no X (ex-Twitter).

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/ong-hind-rajab-leva-soldado-israelense-a-mira-da-justica-brasileira/

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