Petista embarca neste sábado (22.mar) para uma visita de Estado e depois vai ao Vietnã em sua 2ª viagem em 2025 ao exterior; usará palco internacional para defender multilateralismo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai ao Japão e ao Vietnã para sua 25ª viagem internacional no 3º mandato. Além da aproximação diplomática com os 2 países, a incursão à Ásia terá forte caráter comercial, com o possível avanço nas negociações para abrir os mercados japonês e vietnamita à carne bovina brasileira, a intensificação das discussões por um acordo entre o Mercosul e o Japão e a venda de aeronaves da Embraer para os 2 países. Cerca de 100 empresários brasileiros devem acompanhar o presidente em seu périplo nesta semana, até 30 de março.
Lula também aproveitará o palco internacional para defender o multilateralismo diante de uma reorganização da geopolítica desde o início do 2º mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (partido Republicano). O petista pretende mostrar que o Brasil dialoga e mantém negócios robustos com países importantes da Ásia e não está apenas sob a zona de influência da China na região.
Esta será a 2ª viagem internacional do petista desde que passou por uma cirurgia em dezembro de 2024 para conter uma hemorragia na cabeça ocasionada por um acidente doméstico em outubro no Palácio da Alvorada. O presidente embarca às 21h deste sábado (22.mar.2025) na Base Aérea de Brasília. Fará uma parada em Houston, no Texas (EUA). Ali, trocará de aeronave e seguirá para Tóquio. Sua comitiva inclui ao menos 17 políticos e 47 assessores da Presidência e de ministros, além de técnicos de outros órgãos.
Lula chegou a ficar cerca de 50 dias “de molho” em Brasília por causa de condições de saúde. O petista estava impedido de viajar até 27 de janeiro, quando sua equipe médica o liberou para andar de avião depois de uma cirurgia na cabeça realizada em dezembro de 2024. Foi ao Uruguai no início de março para a posse do presidente, Yamandú Orsi.
O petista convidou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e os seus antecessores nos comandos das duas Casas, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Também foram convidados os líderes de partidos aliados.
No Japão, Lula tentará obter o compromisso de que uma missão sanitária japonesa visite o Brasil em breve. A inspeção local é fundamental para o início da liberação do mercado nipônico para a carne brasileira.
“Existe um empenho político de fazer avançar esse assunto. Porque o Brasil é um grande produtor do agronegócio, muito competitivo, muito seguro e muito responsável. Nós achamos que isso é algo que é importante e que deve ser reconhecido. Isso depende do entendimento que está em curso. Acho que a visita do presidente certamente ajuda nesse sentido”, disse secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Saboia, em entrevista a jornalistas.
O Brasil se autodeclarou como zona livre de febre aftosa sem vacinação. Por isso, o governo defende que o país atende a todas as condições impostas pelo Japão para tornar-se exportador para aquele país.
“O Brasil vem melhorando sua condição sanitária há muitos anos. Hoje já tem a condição sanitária de zona livre de febre aftosa sem vacinação, uma condição da Organização Mundial de Saúde Animal, o que já deveria nos habilitar a ter acesso ao mercado japonês. Mas isso depende de uma série de possibilidades, incluindo uma missão sanitária de avaliação de risco”, afirmou Saboia.
De acordo com dados do governo brasileiro, o Brasil tem 20% da produção mundial de carne bovina e detém 25% do mercado mundial deste produto. O mercado japonês importa US$ 4 bilhões por ano e o Brasil não tem participação nele.
Na viagem, Lula pretende também ampliar o mercado de carne suína. Atualmente, apenas Santa Catarina tem autorização sanitária para exportar para o Japão. Mas, de acordo com Saboia, outros Estados brasileiros estão preparados para a exportar também. A missão sanitária atuaria também para analisar esse setor.
Embora a abertura do mercado de carne bovina ainda possa levar alguns meses, o esforço de Lula no Japão contrasta com o momento interno de pressão sobre o preço dos alimentos. Isso porque um aumento nas exportações tende a reduzir a oferta do produto no mercado nacional, contribuindo para o aumento da inflação. Além disso, a alta do dólar torna a exportação mais atrativa para os produtores e encarece os insumos importados utilizados na produção local.
ACORDO COM O MERCOSUL
O bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia negocia um acordo comercial com os japoneses. As conversas estão em andamento há alguns anos, mas o anúncio de conclusão das negociações do grupo com a União Europeia, no fim do ano passado, podem ajudar a pressionar por um avanço com o Japão. Ainda que haja algum avanço nas conversas, elas ainda são iniciais.
BRICS
Lula pretende convidar o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, para a cúpula do Brics que será realizada no Rio em 6 e 7 de julho. O país foi convidado em 2024 para se tornar parceiro do grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, mais recentemente, passou a incluir como parceiros Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Mas o governo vietnamita ainda não divulgou uma posição oficial.
COMITIVA DE LULA
Lula fará uma viagem de Estado ao Japão, o mais alto grau da diplomacia nipônica. Será recebido em Tóquio pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako no Palácio Imperial. Terá ainda uma reunião bilateral com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba.
Esta é a 1ª recepção de Estado que o Japão faz desde 2019, quando recebeu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), ainda no seu 1º mandato.
Cerca de 500 empresários participarão de um fórum empresarial na capital japonesa. Do total, 100 devem ser brasileiros. Dentre eles estarão Wesley Batista e Joesley Batista, da JBS, maior empresa de proteína animal do mundo.
De acordo com o Itamaraty, o Japão é o parceiro comercial mais tradicional do Brasil na Ásia e é a 9ª origem de investimentos estrangeiros no país, com US$ 35 bilhões em investimentos em 2023. O fluxo comercial em 2024 foi de US$ 11 bilhões.
O Japão é o 2º parceiro comercial do Brasil na região, atrás da China, e o 11º no mundo.
RELAÇÃO AMPLA COM A ÁSIA
Como mostrou o Poder360, a viagem de Lula ao Japão e ao Vietnã, de 24 a 29 de março, tem como um dos seus objetivos expandir a relação do Brasil com países da Ásia.
Diante da influência de Donald Trump na geopolítica global, especialmente devido à imposição de tarifas a diversos países. Lula quer ampliar o comércio brasileiro com o continente asiático e, ao mesmo tempo, quer mostrar que o Brasil não tem uma relação de dependência com a China.