Janja chora e diz que papa ajudou Lula no período de prisão

Presidente e pontífice trocaram cartas; segundo a primeira-dama, Francisco ajudou o petista a atravessar “momentos de desesperança”

A primeira-dama, Janja Lula da Silva, disse ter “passado um filme” por sua cabeça quando soube da morte do papa Francisco, na 2ª feira (21.abr.2025). Segundo ela, o pontífice foi fundamental durante o período que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve preso. 

Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, publicada na 3ª feira (22.abr), Janja lembrou uma troca de cartas entre Lula e Francisco. “O papa falava bastante sobre a prisão política [de Lula]. Não por acaso, a 1ª viagem que meu marido fez ao sair da prisão foi para ir ao encontro do papa”, declarou a primeira-dama. 

Lula e Francisco se encontraram pessoalmente diversas vezes. A reunião a que Janja se referiu se deu antes do petista conquistar seu 3º mandato como presidente. Em 13 de fevereiro de 2020 no Vaticano, o petista conversou com o pontífice sobre o meio ambiente e a desigualdade social.

Janja afirmou que Lula enfrentou “momentos de desesperança” na prisão. Ela lembrou da morte, em 2019, de Arthur Araújo Lula da Silva, neto do petista. O menino tinha 7 anos. 

“Ele [Lula] estava realmente bastante abalado, e talvez por isso escreveu uma carta ao líder espiritual”, afirmou Janja, emocionada. 

“A mensagem do papa Francisco naquela circunstância foi fundamental para ele saber que estava no caminho certo, da busca [pelo reconhecimento] da inocência”, declarou. 

“Foi a mensagem de um líder espiritual, para [Lula] saber ‘Deus está contigo’. Eu acho que isso deu muita força para ele. Falar desses momentos da prisão do meu marido, e da morte do Arthur…”, disse, chorando.

Francisco morreu às 2h35 (horário de Brasília) de 2ª feira (21.abr). Janja disse que soube da notícia ao acordar e ver mensagens em seu celular. 

“Era feriado, então a gente acordou um pouco mais tarde, umas 7h30, 8h. Eu sempre deixo o meu telefone [no modo] ‘não perturbe’ à noite. E não vejo as mensagens que chegam”, declarou. 

“O meu marido se levantou e foi ao banheiro. Eu, ainda na cama, desativei o ‘não perturbe’. E começaram a entrar algumas mensagens do AJO [ajudante de ordens]. Eu achei estranho, né, às 7h da manhã? Vi então também uma mensagem da embaixatriz Luciana, esposa do embaixador [do Brasil em Roma, Renato] Mosca [de Souza]. E na hora eu já pensei: ‘O papa faleceu’. Levantei rápido, avisei o meu marido e já liguei a televisão para ver as notícias”, disse.

“E um filme foi passando na minha cabeça porque, em fevereiro, eu tive um encontro com ele, bastante emocionante, que ocorreu depois que ele tinha saído do hospital”, afirmou.

Janja se encontrou com o papa Francisco em 12 de fevereiro, durante audiência no Vaticano. Na época, ela disse ter agradecido pelas orações pela saúde de Lula e conversado sobre a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, em 2024.

Depois de assumir a Presidência do Brasil, Lula viajou ao Vaticano em junho de 2023, acompanhado de Janja.

Lula e Francisco voltaram a se encontrar em 14 de junho de 2024, em Borgo Egnazia, na região da Puglia, no sul da Itália. Janja também esteve presente.

À Mônica Bergamo, Janja disse que ela e Lula estavam acompanhando as notícias sobre a saúde do papa. 

“Quando, no domingo (20.abr), ele apareceu [na sacada da Basílica de São Pedro] para celebrar a Páscoa, ainda que com muita dificuldade, deu um ânimo vê-lo ali. Ele tinha essa missão ainda a cumprir”, declarou.

Segundo a primeira-dama, Lula passou a 2ª feira (21.abr) pensativo, pois “perdeu um amigo querido” e “um companheiro de caminhada”. Ela declarou que o mundo perdeu “um líder importante, não apenas espiritual, mas político, de ação voltada para o bem de todos”. 

INSTAGRAM

Janja afirmou que o papa tem relação com a sua decisão de fechar seu perfil no Instagram, em 13 de março. Com o perfil fechado, quem desejar acompanhar a primeira-dama só poderá ver as publicações caso seja aceito. Quem já a seguia continua podendo acessar os conteúdos.

“Tomei essa decisão depois que postei uma imagem do papa Francisco rezando, e em que eu pedia pela saúde dele. As meninas [que a assessoram] sempre me dizem para não ler os comentários [postados por internautas]. Mas eu leio. Quando vi comentários de gente desejando a morte do papa Francisco, eu falei ‘não, não dá’”, disse.

“A minha saúde mental estava ficando abalada. E é um desrespeito também às pessoas que me seguem e que querem saber das coisas que eu falo e faço”, declarou. 

Sepultamento do papa Francisco

Em uma ruptura com a tradição, o papa Francisco solicitou ser sepultado em um único caixão de madeira revestido de zinco, em vez do tradicional conjunto de 3 caixões. Também será o 1º papa em mais de um século a ser enterrado fora do Vaticano. No final de 2023, o pontífice revelou que já havia “preparado” seu túmulo na Basílica de Santa Maria Maggiore, no bairro Esquilino, em Roma (Itália).

Estas mudanças nos procedimentos funerários refletem a abordagem reformista que caracterizou o pontificado de Francisco, priorizando simplicidade e humildade mesmo em seus ritos finais.

Na 3ª feira (22.abr), o Vaticano confirmou que o enterro de Francisco será no sábado (26.abr). Às 10h locais (5h em Brasília) será celebrada, no átrio da Basílica de São Pedro, a Missa das Exéquias, que marca o 1º dia do Novendiali (novenário), os 9 dias de luto e orações em honra ao pontífice falecido.

Ao final da celebração, ocorrerão os ritos da Última Commendatio e da Valedictio —as despedidas solenes. Em seguida, o caixão de Francisco será levado para o interior da Basílica de São Pedro e, de lá, transferido para a Basílica de Santa Maria Maggiore, onde será realizada a cerimônia de sepultamento.

Leia abaixo como é realizado o velório de uma papa e os detalhes de como será o funeral de Francisco:

MORTE DE PAPA FRANCISCO

O papa Francisco morreu na 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos. O pontífice foi o 2º líder mais velho a governar a Igreja Católica em 700 anos. Sua morte foi confirmada pelo Vaticano:“Às 7h35 desta manhã [2h35 de Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.

Francisco sofria de problemas respiratórios. Em 2023, já havia passado 3 dias hospitalizado para tratar uma bronquite. Em março de 2024, não conseguiu ler um discurso durante uma cerimônia no Vaticano.

Argentino nascido na cidade de Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio foi internado em 14 de fevereiro de 2025 no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilateral.

Em 22 de fevereiro, o Vaticano afirmou que Francisco enfrentou uma crise prolongada de asma e precisou passar por uma transfusão de sangue e que ele “não estava fora de perigo”. Os exames realizados mostraram plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) associada à anemia, o que levou à necessidade da transfusão. O religioso teve alta em 23 de março e estava em recuperação. Sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), na bênção de Páscoa.

ÚLTIMAS PALAVRAS

No domingo (20.abr.2025), fez uma aparição na varanda da Basílica de São Pedro, durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na cadeira de rodas e com dificuldades para falar, o sumo pontífice desejou uma “feliz Páscoa” aos fiéis.

Em seguida, passou a palavra para o mestre de cerimônias, o monsenhor Diego Giovanni Ravelli, que leu a mensagem “Urbi et Orbi” (“à cidade [de Roma] e ao mundo”) do papa. Ao final, fez a bênção diante dos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Na mensagem, o papa exortou os políticos a não cederem “à lógica do medo” e fez um apelo ao desarmamento. “A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se em uma corrida generalizada ao armamento”, afirmou.

O CONCLAVE

Com a morte de Francisco, os cardeais iniciarão o conclave –termo de origem no latim “cum clave”, que significa “com chave”– para a escolha do 267º papa. O ritual, que remonta ao século 13, é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, onde cardeais com menos de 80 anos se reúnem para eleger o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana. A quantidade de cardeais pode variar desde que não ultrapasse o limite de 120.

Para ser eleito, um candidato precisa receber 2/3 dos votos. O resultado é transmitido ao público presente no Vaticano e ao mundo por meio de uma fumaça que sai de uma chaminé no telhado da Capela Sistina. Ela é produzida pela queima das cédulas de votação com produtos químicos para dar a cor desejada. A fumaça preta significa que o papa não foi escolhido e a votação seguirá.

Quando um cardeal recebe os votos necessários, o decano do Colégio de Cardeais pergunta se ele aceita a posição. Em caso afirmativo, o eleito escolhe seu nome papal e as cédulas são queimadas com os químicos que produzem a fumaça branca, que comunicará a escolha do novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.

Leia mais sobre a morte do papa Francisco: 

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-gente/janja-chora-e-diz-que-papa-ajudou-lula-no-periodo-de-prisao/

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