Interesse por fraudes no INSS perde força e dá respiro a Lula

Pico de buscas foi em maio e agora temas positivos, como a isenção do Imposto de Renda, são mais pesquisados; presidente diz que comunicação foi falha

As buscas na internet sobre fraudes no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) perderam força nas primeiras semanas de junho e deram um respiro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pesquisas recentes indicam que a revelação do esquema impactou diretamente na popularidade do chefe do Executivo.

O pico de buscas sobre as fraudes previdenciárias foi na semana de 4 a 10 de maio. O interesse sobre o tema começou a crescer no fim de abril, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Sem Desconto, para investigar desvios de até R$ 6,5 bilhões de recursos de aposentados.

As fraudes ficaram em destaque durante quase todo o último mês, e o interesse da população sobre o tema ultrapassou as buscas por medidas positivas do governo, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês (uma das principais apostas do Planalto para melhorar as taxas de aprovação de Lula).

Essa tendência de alta parece ter se invertido nos últimos dias, como mostra o gráfico abaixo –com dados do Google:

No podcast Mano a Mano, Lula afirmou que as fraudes no INSS podem ter impactado a percepção da população sobre seu governo: “A gente não comunicou corretamente. Sei porque ando muito, converso muito com as pessoas. As pessoas não sabem das coisas que nós fizemos”.

“Quando sai uma denúncia de corrupção no meu governo, é normal que, no momento, as pessoas pensem que foi no governo Lula, porque fomos nós que descobrimos. Então, cabe a nós dizer em alto e bom som por que aconteceu aquela corrupção, quem foi que fez aquilo, quem é a quadrilha que estava por trás daquilo. E aí isso cria um debate. Eles sempre vão dizer que fomos nós, e nós sempre vamos dizer a verdade”, completou o petista.

Assista (a partir de 40min):

Para evitar que o tema ganhe força, o governo informou que deverá ressarcir os aposentados ainda em 2025, em uma parcela única. Um levantamento vem sendo feito para identificar todos os aposentados que podem ter sido vítimas do esquema.

PAGAMENTO VIA CRÉDITO EXTRAORDINÁRIO

A AGU (Advocacia-Geral da União) entrou com uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no STF em 12 de junho para pedir a abertura de crédito extraordinário para assegurar o ressarcimento aos beneficiários do INSS vítimas de descontos fraudulentos. Leia a íntegra do documento (PDF – 13 MB).

Os gastos via crédito extraordinário ficam de fora do limite do chamado arcabouço fiscal. Dessa forma, é um dinheiro que pode ser gasto sem contar para a meta de deficit público. A ação apresentada ao STF é assinada por Lula. Não há um valor definido na ação da AGU.

IMPACTO NA POPULARIDADE

Pesquisa PoderData realizada de 31 de maio a 2 de junho mostrou que a aprovação do governo segue em trajetória de queda. À época em que o estudo foi feito, a administração petista era desaprovada por 56% dos eleitores, variação positiva de 3 pontos percentuais na comparação com o levantamento realizado em março.

Apesar da queda nas buscas sobre as fraudes no INSS, o tema tende a voltar à mídia nos próximos dias com a CPI mista que foi criada para investigar o caso. Deputados e senadores governistas atuam para que a comissão seja liderada por políticos simpáticos ao Planalto, mas é possível que a oposição –fortalecida no Legislativo– consiga fazer algum barulho e causar algum dano na imagem do Executivo.

Como mostrou o Poder360, o governo já esperava que a comissão fosse aberta. A avaliação é que a única coisa que resta aos lulistas é conter os danos que possam surgir das oitivas e investigações.

Por que isso importa

Porque o governo pode aproveitar o momento para tentar divulgar o que considera ser suas conquistas. As fraudes causaram danos na imagem de Lula, mas o tema agora parece ter arrefecido no interesse popular.

Caso consiga ressarcir os afetados de forma rápida, o governo pode estancar a sangria antes do esperado. Isso tudo sem considerar novas revelações que possam surgir, na mídia ou depois de instalada a CPI no Congresso.

FRAUDES EXPLODIRAM

Em setembro de 2024, a CGU finalizou um relatório sobre uma auditoria que verificou indícios de ilegalidades nos descontos associativos dos benefícios previdenciários. O documento indicou que 97,6% dos aposentados e pensionistas do INSS tiveram descontos diretos não autorizados em seus benefícios para pagar sindicatos e associações.

O órgão entrevistou 1.273 beneficiários de abril a julho de 2024 em todos os Estados do país. Do total, 96% disseram não participar de nenhuma associação. O relatório sobre a auditoria só foi divulgado em 23 de abril de 2025. Leia a íntegra (PDF – 4,9 MB) do documento.

De acordo com a CGU, os resultados indicaram a “grande probabilidade” de os descontos terem sido feitos de maneira indevida e à revelia do interesse dos pensionistas.

O órgão relatou que a auditoria foi feita depois da identificação de um aumento súbito no montante dos descontos para mensalidades associativas realizados na folha de pagamento dos beneficiários. Segundo a CGU, em 2022, o valor dos descontos realizados foi de R$ 706,2 milhões. Em 2024, o montante mais do que triplicou, chegando a R$ 2,8 bilhões.

A controladoria identificou também que os pedidos para cancelar os descontos realizados pelos canais de atendimento do INSS cresceram “acentuadamente” a partir de julho de 2023. Em abril de 2024, foram 192 mil solicitações registradas.

As organizações suspeitas de descontos indevidos de aposentados e pensionistas são:

AAPB, Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil;
Aapen, Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional, anteriormente denominada de ABSP (Associação Brasileira dos Servidores Públicos);
AAPPS Universo, Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social;
ABCB/Amar Brasil, clube de benefícios;
Ambec, Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos;
Apdap Prev, Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas;
CAAP, Caixa de Assistência de Aposentados e Pensionistas do INSS;
Conafer, Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil;
Contag, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura;
Sindnapi, Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical;
Unaspub, União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-governo/interesse-por-fraudes-no-inss-perde-forca-e-da-respiro-a-lula/

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