Instituto com terreno de R$ 60 milhões em Brasília tem racha

Diretores do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal dizem que o presidente deixa de compartilhar decisões

Diretores do IHGDF (Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) dizem que o presidente da entidade, Paulo Castelo Branco, deixou de compartilhar desde o início de 2025 decisões administrativas que deveriam ser tomadas em conjunto. O presidente afirma que há conflito na relação com diretores porque eles querem participar de decisões de gestão que não lhes cabem (leia mais abaixo).

O instituto, fundado em 1964, promove debates e palestras. Tem um terreno de 25.000 m² em uma área central de Brasília na Asa Sul, doado pelo governo do Distrito Federal nos anos 1970. Não pode ser vendido. Se a restrição fosse eliminada, poderia valer até R$ 60 milhões para a construção de escritórios. Diretores têm receio de que o presidente esteja discutindo com o governo distrital a mudança de uso do terreno. Ele nega.

Há também discordância sobre fontes de renda do instituto. A escola Cresça, de ensino fundamental, está instalada em parte do terreno desde os anos 1970. O instituto iniciou uma ação de despejo da escola em 2024. Obteve sentença favorável, atualmente suspensa por uma liminar (decisão judicial provisória). O pagamento do aluguel de R$ 36.000 mensais ao instituto foi interrompido.

O IHGDF conseguiu em 2024 um convênio de R$ 1,2 milhão com o governo do Distrito Federal. O convênio encerrou-se em junho de 2025. Há proposta de novo convênio com valor maior: R$ 1,8 milhão. Ainda não foi aprovado. Há divergências entre o presidente e os diretores sobre a obrigação de discutir em conjunto os detalhes do convênio.

O presidente do IHGDF foi eleito pela 1ª vez em 2022. Exerceu o cargo por 2 anos sem conflitos relevantes. Em 2024 foi reeleito. O secretário-geral do instituto, Hugo Studart, disse que, no 2º mandato, o presidente começou a tomar decisões sem consultar a diretoria.

O 2º vice-presidente do instituto, Paulo Fernando Costa, que foi deputado federal (Republicanos-DF) em 2023 e atualmente é suplente, disse que há “falta de transparência” na atuação de Castelo Branco. “Neste 2º mandato, ele tem se mostrado centralizador e autoritário”, disse. Segundo Costa, o presidente deixa de atender pedidos dos diretores sem apresentar justificativas. “Ele vem reagindo de forma abrupta”, afirmou.

Os conflitos se intensificaram em reuniões de diretoria em junho e julho de 2025. Studart disse que a falta de informações sobre a gestão causou insegurança na diretoria sobre a vulnerabilidade da instituição: “Essa gestão secreta nos leva a concluir que se busca ocultar algo irregular ou ilegal. O presidente tem que mostrar as cartas, sobretudo nas discussões sobre o terreno”.

Sérgio Lima/Poder360 – 18.ago.2025

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, em Brasília

O diretor jurídico do IHGDF, Max Telesca, declarou que o estatuto estabelece que o presidente submeta decisões à diretoria e, em alguns casos, a todos os 120 integrantes do instituto por meio de assembleia-geral. “O Código Civil determina que o estatuto das entidades civis seja cumprido. Se não for cumprido, há ilegalidade”.

O secretário-geral-adjunto, Virgílio Caixeta Arraes, disse que a falta de discussão sobre o plano para o novo convênio com o Governo do Distrito Federal é uma demonstração da falta de diálogo do presidente: “O plano ficou à disposição. Mas só para ser consultado, não para opinarmos sobre o conteúdo”.

O diretor-financeiro, Ricardo Gonçalves da Silva, também afirmou que a condução das discussões sobre o plano para o novo convênio foi irregular. “O presidente deveria convocar todos os diretores e dar ciência sobre o plano”, disse.

Ele declarou não ter acesso completo às informações sobre as finanças do instituto. Afirmou também que o que está disponível indica vulnerabilidade se o novo convênio com o governo do Distrito Federal não for aprovado em breve: “A situação financeira está precária. O instituto vai entrar no vermelho em 2 ou 3 meses”.

O QUE DIZ O PRESIDENTE

Sérgio Lima/Poder360 – 18.ago.2025

Paulo Castelo Branco, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, em Brasília

Castelo Branco disse que teve discussões recentes com o governo do Distrito Federal sobre o terreno onde está a sede do instituto porque há pendência de regularização na escritura. “Quando isso for concluído, poderemos buscar recursos públicos para terminar de construir a sede do instituto de acordo com o projeto original”, afirmou. O plano inclui a construção de um edifício de 3 andares, incluindo subsolo, e de um auditório.

Ele afirmou que, no 1º mandato, foi procurado por um empresário do setor de construção para discutir a possibilidade de venda do terreno. “Eu disse a ele que isso não era possível. A doação que recebemos não permite”, afirmou.

A doação também impede, segundo Castelo Branco, que parte do terreno seja alugado à escola Cresça. Por isso entrou com a ação de despejo: “É algo que funciona de modo irregular há décadas no terreno”.

O presidente afirmou que tem autonomia para decisões de gestão. Disse que os diretores se recusam a reconhecer as prerrogativas de seu cargo, o que tem resultado em conflitos. Avalia que a ausência de divergências com diretores no 1º mandato se deve ao fato de que passou a valer só no final do período o convênio com o governo do Distrito Federal para custear as atividades do instituto.

Castelo Branco disse haver limitações para divulgar os detalhes da proposta do novo convênio por não ter sido aprovada ainda pelo governo distrital. Houve aumento do valor de R$ 1,2 milhão para R$ 1,8 milhão por causa do aumento de custos, segundo o presidente.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-brasil/instituto-com-terreno-de-r-60-milhoes-em-brasilia-tem-racha/

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