Hotéis ofertaram diárias de até R$ 238 mil ao governo Lula para COP30

Ibis, estabelecimento mais simples, cobrou R$ 6.000 por dia para um quarto de uma pessoa; gestão federal diz que só pesquisou preços e vai se hospedar em instalações militares

Hotéis de Belém, no Pará, ofertaram ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diárias que variavam de R$ 6.000 a R$ 238 mil para hospedagens durante a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que será realizada em novembro.

O valor mais alto enviado foi para a suíte presidencial do luxuoso Tivoli Maiorana, que fica próximo aos principais pontos turísticos da capital paraense. O hotel 5 estrelas finaliza suas estruturas para inauguração nos próximos meses. Usará o antigo prédio da Receita Federal (cedido pelo governo local) para reforçar a rede de acomodações para o evento climático.

As unidades Hangar e Belém do Pará, do Ibis Styles, ofertaram ao governo as diárias mais baratas: R$ 6.000 para o quarto de solteiro e R$ 6.500 para o de casal, segundo o orçamento de fevereiro de 2025.

O hotel Radisson Maiorana também foi consultado. Ofereceu até 18 quartos, com diárias que iam de R$ 18.354 a R$ 22.954.

As hospedagens em Belém se tornaram um problema para o governo. Orçamentos que chegam a casa das centenas de milhares de reais preocupam a organização da COP e chegaram a virar meme nas redes sociais.

Para efeito de comparação, a PentHouse, suíte mais luxuosa do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, cobra cerca de R$ 20.000 pela diária. Foi nesse quarto que ficaram hospedadas as cantoras norte-americanas Madonna e Lady Gaga em suas passagens pelo Brasil em 2024 e 2025, respectivamente.

O valor cobrado pelo icônico hotel carioca é mais de 10 vezes menor que o ofertado pelo Tivoli (R$ 238 mil por dia) para uma suíte de porte semelhante durante a COP.

Autoridades estrangeiras estão incomodadas com os valores exorbitantes. O presidente da conferência, André Corrêa do Lago, afirmou em 31 de julho que países pediram oficialmente para que o evento não seja realizado em Belém pelo alto preço dos hotéis.

O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, anunciou em 3 de agosto que não participará da cúpula pelos “custos particularmente altos” e por “restrições orçamentárias” do país. É provável que haja mais desistências até novembro.

Lula rejeita mudar a COP de lugar. O presidente já disse que o objetivo de realizar a conferência em Belém é mostrar aos países mais desenvolvidos como vive o “povo da Amazônia”. Declarou que não pretende “enfeitar” a cidade.

O governo realizou a pesquisa de preços com os hotéis no início do ano, mas diz que o plano é hospedar a delegação brasileira em instalações militares, reformadas para esse fim. Cerca de 2.000 leitos estão disponíveis.

A Secretaria Extraordinária para a COP30, subordinada à Casa Civil, disse ao Poder360 que contatou os hotéis no 1º semestre porque avaliou que os preços praticados estavam “fora do padrão”, sem dar mais detalhes.

O órgão afirmou que os valores vêm “caindo paulatinamente por meio de diálogo permanente com a rede hoteleira e a inclusão de imóveis privados e navios”.

Muitos hotéis mudaram suas regras para permitir um número mínimo de diárias no período da COP. Esse período variava nos orçamentos enviados ao governo.

Os valores finais, para algumas dezenas de quartos e de 15 a 30 diárias, sempre passavam da casa dos milhões:

Ibis – R$ 5,95 milhões por 45 quartos por 21 dias ou R$ 3,97 milhões por 30 quartos pelo mesmo período;
Radisson – R$ 7,5 milhões por 18 quartos por 22 dias;
Tivoli – R$ 34,8 milhões por 71 quartos por 15 dias ou R$ 63,9 milhões por 30 dias.

Todos os valores citados acima já incluem impostos e taxas de serviço. Leia os orçamentos obtidos pelo Poder360 via Lei de Acesso à Informação: Ibis (PDF – 176 kB), Radisson (PDF – 353 kB) e Tivoli (PDF – 767 kB).

O Tivoli declarou que a proposta enviada ao governo em fevereiro era “preliminar” e que sua política comercial é “dinâmica e sujeita a ajustes”. Afirmou que a COP “demanda uma logística e um planejamento complexos”. Não disse se os valores se mantêm.

O Ibis e o Radisson não responderam até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

GOVERNO FAZ PRESSÃO

Os preços exorbitantes de alguns hotéis em Belém viraram alvo de investigação por parte do governo. Os orçamentos feitos pelo governo federal estão anexos em um processo da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça.

O órgão questionou formalmente 24 estabelecimentos em junho para saber detalhes das tarifas que vêm sendo cobradas para a COP.

Foram feitas perguntas sobre preços em anos anteriores, justificativa para aumentos maiores que 50% e a taxa de ocupação para a época do evento. Eis a íntegra da notificação (PDF – 210 Kb).

O problema é que a grande maioria dos hotéis rejeitou responder os questionamentos, segundo apurou o Poder360. A Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) chegou a chamar os pedidos de informação do governo de “esdrúxulos”.

A principal alegação dos hotéis no processo junto à Senacon é que entregar as informações feriria o princípio constitucional da livre iniciativa.

Entre os argumentos havia o de que os dados exigidos eram sensíveis ao funcionamento das empresas e o governo não teria provas suficientes para comprovar a prática de preços abusivos.

A plataforma de hospedagens oficial para o evento cop30.bnetwork.com está recrutando casas e apartamentos para aumentar a quantidade de leitos na cidade. Há diárias a partir de US$ 163 (R$ 889), mas a grande maioria sai pelo menos por a partir de US$ 400 (R$ 2.183).

A maior crítica dos países que pediram a troca da sede da COP30 é que esses países recebem uma diária da ONU (Organização das Nações Unidas) para o evento. O dinheiro serve para hospedagem, alimentação e qualquer outro custo. Por isso, solicitam diárias de até US$ 100.

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Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-governo/hoteis-ofertaram-diarias-de-ate-r-238-mil-ao-governo-lula-para-cop30/

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