Governo Trump prepara base legal para tarifas sobre o Brasil

A Casa Branca deve divulgar nos próximos dias uma declaração para justificar a taxa de 50% sobre importações brasileiras, segundo a “Bloomberg”

O governo dos Estados Unidos deve divulgar até a próxima semana uma declaração com uma nova base legal para justificar as tarifas de 50% sobre importações do Brasil. O documento é preparado pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA), segundo a agência Bloomberg.

As tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente Donald Trump em abril e elevadas em julho entrarão em vigor na próxima 6ª feira (1º.ago.2025). Foi o prazo dado pelo republicano depois de 2 adiamentos de 4 meses. A expectativa é que o documento da Casa Branca seja publicado desta data.

Trump justifica as taxas sobre parceiros comerciais por causa de “sucessivos deficits” na balança com os países. Com o Brasil, contudo, os EUA têm superavit comercial –ou seja, exporta mais do que importa. Por isso, o país teve a tarifa inicial divulgada de 10%.

No início do mês, o republicano decidiu elevar a alíquota para 50%. O argumento usado foi o suposto destrato do governo e da Justiça brasileira com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro é réu na ação e Trump pede que o julgamento seja encerrado “imediatamente”.

Com a justificativa política para impor as tarifas de 50%, o Congresso norte-americano recomendou ao Escritório do Representante de Comércio que redija uma declaração com nova base legal. Na semana passada, o governo Trump mandou o USTR iniciar uma investigação contra “ataques do Brasil” às big techs dos Estados Unidos.

A informação divulgada pela Bloomberg nesta 6ª feira (25.jul) não teve impacto significativo no dólar. A moeda norte-americana chegou ao pico de R$ 5,573 depois da notícia. Às 14h45, estava avaliada em R$ 5,563, alta de 0,76% no dia.

SEM CONVERSA COM BRASIL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na 5ª feira (24.jul) que Trump não quer conversar sobre as tarifas de 50% imposta aos produtos brasileiros. Porém, diz estar disposto a negociar. Se não receber um retorno, no entanto, afirmou que o Brasil dará uma resposta à altura.

Apesar de Lula dizer que Trump não deseja negociar, o governo do petista nunca havia procurado o presidente norte-americano desde o início da nova administração na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025. A relação entre o Brasil e os EUA tem sido protocolar e nunca houve esforço para estabelecer relações de alto nível –que faltaram agora, depois do anúncio do tarifaço em 9 de julho de 2025.

Assista (3min22s):

Lula disse que foi pego de surpresa com a carta que o presidente norte-americano compartilhou em seu perfil na rede social Truth Social anunciando a tarifa de 50% sobre os produtos do Brasil. Ele mencionou o trecho que Trump diz que o Brasil faz uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, em 10 de julho (1 dia depois do anúncio do tarifaço), Lula disse que nunca procurou o presidente dos EUA porque não tinha nada para conversar e não telefonaria para “contar piada”.

Como mostrou o Poder360, Trump já falou com ao menos 34 líderes de outros países desde o começo de seu 2º mandato, em 12 de janeiro, considerando encontros presidenciais e telefonemas.

Contando somente encontros presenciais, Trump se comunicou com 21 líderes, incluindo os presidentes sul-americanos Javier Milei (La Libertad Avanza, direita), da Argentina, e Daniel Noboa (Ação Democrática Nacional, direita), do Equador.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer (Partido Trabalhista, centro-esquerda), lidera a lista das conversas com Trump. Em 2º lugar, vem o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu (Likud, direita). Ao todo, Trump falou mais vezes com líderes de esquerda ou centro-esquerda do que de direita ou centro-direita. Foram 30 encontros presenciais e 40 ligações –57%.

O chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, disse em 28 de maio que nunca conseguiu contato com Marco Rubio desde que Trump voltou à Casa Branca –os cargos de Vieira e Rubio são equivalentes.

O ministro das Relações Exteriores afirmou que enviou uma carta ao então senador quando ele foi indicado ao cargo por Trump, colocando-se à disposição do homólogo norte-americano. Nunca recebeu resposta de Rubio.

Quando o tarifaço foi anunciado, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, estava em férias. Demorou alguns dias até voltar ao trabalho. Até hoje, depois de 6 meses de governo Trump, ela não tem nenhum contato de alto nível no governo federal dos EUA.

Em 2024, quando Trump ainda era candidato a presidente, Lula declarou apoio a Kamala Harris e disse que considerava o republicano a volta de uma nova espécie de fascismo e nazismo.

Lula já passou 30 dias fora do Brasil em 2025, inclusive sendo um dos únicos líderes ocidentais a ter participado de uma cerimônia na Rússia ao lado de Vladimir Putin e de vários outros autocratas.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/governo-trump-prepara-base-legal-para-tarifas-sobre-o-brasil-diz-jornal/

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