Fusão entre Azul e Gol pode elevar preço das passagens, diz Aena

Presidente da companhia, Santiago Yus afirma que a reconfiguração do setor pode mudar rotas, valores e dinâmica dos aeroportos regionais

A possível fusão entre Azul e Gol pode intensificar a concentração do setor aéreo brasileiro e trazer impactos negativos, como o aumento do preço das passagens. A avaliação é de Santiago Yus, diretor-presidente da Aena Brasil, empresa espanhola que administra 17 terminais no país, incluindo Congonhas, em São Paulo.

“Democratizar a passagem aérea faz com que as pessoas tenham mais oportunidade de voar e também estimular essa demanda reprimida, o que é muito bom para o setor. Do ponto de vista da lógica do mercado, [a fusão entre Gol e Azul] é um pouco contrário”, disse Yus, em entrevista para a Folha de S.Paulo no sábado (22.mar.2025).

Segundo ele, o Brasil tem uma alta concentração de empresas aéreas e a saída de uma companhia pode resultar em um acréscimo no preço das passagens e na diminuição da conectividade das decisões. “Esse é um problema que a gente está monitorando”, afirmou.

Atualmente, Azul, Gol e Latam dominam o mercado nacional. Como mostrou o Poder360, se a fusão for aprovada, as duas empresas terão mais de 60% do mercado brasileiro. Gol e Azul têm, juntas, 327 aviões, ou seja, ocupariam de longe o topo de ranking de maior frota. 

Conforme Yus, a eventual redução de concorrência pode comprometer rotas operadas em cidades menores, onde a viabilidade financeira já é um desafio. “A gente tem aeroportos lá na ponta, no Pará, em Ponta Porã (MS)… É difícil manter algumas operações. Se essa resultante [uma eventual fusão entre Gol e Azul] fizer com que alguma estratégia mude, poderíamos ter alguma dificuldade a mais”, afirmou.

Porém, esse processo ainda depende de aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Expansão em Congonhas e foco na aviação comercial

Enquanto observa os possíveis desdobramentos da fusão, a Aena Brasil segue com seu plano de expansão para Congonhas, um dos principais terminais do país. A projeção da concessionária é que o aeroporto movimente 30 milhões de passageiros por ano até 2030, frente aos 23 milhões atuais.

Parte dessa estratégia envolveu a retirada de jatinhos da pista principal, para priorizar a aviação comercial. Yus explica que a reorganização maximiza a infraestrutura. “A aviação executiva transporta poucas pessoas por voo, enquanto um avião comercial leva no mínimo 120, 130 passageiros. O uso mais intensivo beneficia mais pessoas e melhora a eficiência do aeroporto”, disse.

As obras de modernização incluem também a readequação das posições de estacionamento das aeronaves, permitindo o uso de modelos maiores, como o Airbus A321, que comporta mais de 200 passageiros. 

Outro fator de eficiência é a integração com a Linha 17-Ouro do metrô, prevista para 2026: Congonhas pode se tornar o 1º aeroporto do Brasil a ter uma conexão direta com o metrô dentro de sua estrutura. A expectativa é que de 10% a 15% dos passageiros utilizem o modal ferroviário para acessar o aeroporto.

O diretor avalia o cenário macroeconômico como desafiador: “Tudo é dolarizado: combustível, peça de avião, tudo é dólar”, fala. Mas afirma que os planos de expansão seguem dentro do cronograma e dentro das margens do negócio, mesmo se a Selic elevada impactar o custo de financiamento.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-infra/fusao-entre-azul-e-gol-pode-elevar-precos-das-passagens-diz-aena/

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