O ex-comandante do Exército e o agente da PF deram depoimentos em condição de testemunha no caso envolvendo Filipe Martins
O ex-comandante do Exército general Freire Gomes e o delegado da PF (Polícia Federal) Fábio Shor deram versões opostas sobre a condução de interrogatório sobre a tentativa de golpe de Estado.
As divergências dizem respeito ao acesso dado à delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid:
Freire Gomes – disse que a delação de Cid foi um dos elementos apresentados durante interrogatório em 2024;
Fábio Shor – declarou que não mostrou a delação a Freire Gomes durante essa etapa.
Ambos deram os depoimentos como testemunhas. Eles foram incluídos pela defesa do ex-assessor Filipe Martins, ou seja, o time de advogados que solicitou as falas à Justiça. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes autorizou.
Saiba quem é cada um dos envolvidos:
Freire Gomes – ex-comandante do Exército no governo de Jair Bolsonaro (PL);
Filipe Martins – ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência;
Fábio Shor – delegado da PF que atua nas investigações sobre a tentativa de golpe;
Mauro Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator em apurações da PF.
O relato de Freire Gomes foi feito por escrito em 4 páginas. Eis a íntegra (PDF – 235 kB). Leia abaixo alguns trechos:
Já o relato de Fábio Shor foi realizado via videoconferência. A transcrição mostra o momento em que o delegado nega ter dado acesso à delação enquanto conduzia o interrogatório com Gomes. Eis a íntegra (PDF – 34 MB).
A problemática de uma eventual exposição da delação de Cid se dá porque ela estava em sigilo na época dos interrogatórios. Seria um descumprimento das normas para o processo.
Outro ponto é que ambos fizeram os depoimentos em condição de testemunha e deram versões opostas. Nesse caso, em tese, não podem mentir ao relatar suas versões. Essa possibilidade está reservada só para quem é réu.
As versões antagônicas têm ligação com o caso de Filipe Martins porque uma das razões da investigação contra ele foi um relato de Freire Gomes sobre o envolvimento do então assessor em uma reunião que teria tido objetivo de atacar o sistema eleitoral.
Como testemunha, Gomes sinalizou que não teria mencionado o nome de Martins por memória própria, mas pela sinalização dos elementos apresentados.
Ao solicitar as testemunhas, a defesa de Martins queria mostrar algum tipo de violação no processo que levou à acusação. Segundo a equipe, as versões opostas podem ser um indício de que Freire Gomes foi induzido a falar sobre a eventual participação de Filipe Martins na reunião.
O QUE DIZ A DEFESA DE FREIRE GOMES
O Poder360 procurou a defesa de Freire Gomes para perguntar se gostaria de se manifestar a respeito dos depoimentos. Disse que “não há nenhuma contradição entre os depoimentos”.
Segundo os advogados, ele não sinalizou que teve acesso à íntegra da delação, mas a elementos da investigação.
“Constavam textualmente da decisão do Ministro Alexandre de Moraes que autorizou a deflagração da operação Tempus Veritatis e que foi amplamente divulgada pela imprensa na época”, disseram em nota. Leia a íntegra da resposta ao final deste texto.
FÁBIO SHOR E A OPOSIÇÃO
A oposição tem direcionado críticas a Fábio Shor, responsável por algumas das apurações ligadas à tentativa de golpe de Estado.
O senador Marcos Do Val (Podemos-ES) disse em 2024 que o delegado da PF é “responsável por prender patriotas inocentes e fazer milhares de crianças chorarem por causa da ausência de seus pais”.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) também falou sobre o delegado. Chamou o agente de “bandido” em 2024 e o acusou de produzir “relatórios fraudulentos baseados em informações falsas”.
OUTROS LADOS
O Poder360 procurou Fábio Shor neste sábado (26.jul.2025) por meio de uma ligação às 13h21 e mensagens de WhatsApp às 13h23 para perguntar se gostaria de se manifestar a respeito da contradição.
Este jornal digital também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Federal via e-mail às 14h11.
Não houve resposta do delegado e da corporação até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.
Leia a íntegra do que disse a defesa de Freire Gomes:
“Não há nenhuma contradição entre os depoimentos. Conforme consta na declaração escrita do General Freire Gomes, em nenhum momento foi afirmado que ele teve acesso à íntegra da colaboração premiada de Mauro Cid, mas sim que elementos da investigação lhe foram apresentados durante o depoimento formal.”
“Esses elementos específicos, relacionados à hipótese da presença de Filipe Martins na reunião de 7 de dezembro, já eram de conhecimento público. Eles constavam textualmente da decisão do Ministro Alexandre de Moraes que autorizou a deflagração da operação Tempus Veritatis e que foi amplamente divulgada pela imprensa na época, antes mesmo do depoimento do General Freire Gomes na Polícia Federal.”
“Portanto, os depoimentos são perfeitamente consistentes: o delegado apresentou, em um ato investigativo regular, fatos que o próprio STF já havia publicizado, indagando o depoente sobre tais elementos.”
“A tese de contradição só existe a partir de uma interpretação equivocada, porque em nenhum momento o General Freire Gomes disse que teve acesso a dados sigilosos, ou que teve acesso aos documentos da colaboração premiada do Mauro Cid.”