Ex-chanceler diz que presidente da Colômbia tem vício em drogas

Álvaro Leyva afirmou que o uso de entorpecentes por Gustavo Petro seria responsável por comportamento ausente e abuso de poder

O ex-chanceler colombiano Álvaro Leyva usou as redes sociais para divulgar uma carta na qual afirma que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro (Colômbia Humana, esquerda) teria problemas relacionados ao uso de drogas. A carta, endereçada diretamente ao chefe de Estado, foi publicada na 4ª feira (23.abr.2025).

Segundo Leyva, que assumiu o cargo de ministro das Relações Exteriores após a eleição de Petro em agosto de 2022, ele teria notado sinais do suposto vício durante uma viagem oficial a Paris, em junho de 2023. Eis a íntegra (PDF – 358kB).

“Lembro, com desconforto, episódios que testemunhei pessoalmente. Um dos mais marcantes foi seu desaparecimento por 2 dias em Paris, durante visita oficial. As autoridades francesas não o localizaram. Situação embaraçosa para mim como seu Chanceler —ainda mais ao saber onde esteve. Foi ali que confirmei que o senhor enfrentava problemas com drogas. Arrependo-me de não ter tentado ajudá-lo. Deveria ter me aproximado. Guardo essa dor”, afirmou Leyva.

De acordo com o ex-chanceler, os comportamentos considerados incomuns do presidente persistiram após a viagem: “Desaparecimentos, atrasos inadmissíveis, viagens sem propósito, frases incoerentes, companhias questionáveis e outros descuidos”, relatou.

Leyva também afirmou ter recebido relatos de pessoas próximas ao presidente sobre episódios de ansiedade, solidão, depressão e situações de risco envolvendo Petro.

Na carta, ele associa o suposto uso de drogas a “declarações públicas desordenadas”, abuso de poder e incitação a um possível “incêndio social”.

Petro tem protagonizado uma série de declarações polêmicas que intensificaram o clima de tensão política a um ano das eleições presidenciais no país. Em discursos e postagens nas redes sociais, o mandatário tem dito que opositores estariam conspirando contra seu governo, além de sugerir correr riscos de vida.

Em fevereiro deste ano, Petro comparou a cocaína ao uísque, sugerindo que a droga é ilegal por ser produzida na América Latina. O presidente chegou a defender sua legalização como forma de combate o narcotráfico.

Leyva declarou que pessoas próximas ao presidente tentam dificultar o acesso direto a ele, além de “prejudicá-lo”. São citados o presidente da Ecopetrol, Ricardo Roa, o chefe de Gabinete, Armando Benedetti, e a atual chanceler, Laura Sarabia.

“Fica evidente que o senhor é vítima de funcionários que o prejudicaram e ainda o fazem. Soma-se a isso sua dificuldade em se libertar de um personalismo destrutivo”, afirmou Leyva.

PETRO NEGA USO DE DROGAS

Em seu perfil na rede X, Gustavo Petro classificou as alegações de Leyva como “calúnia”.

Em outra publicação, o presidente colombiano afirmou que suas ausências se deram em momentos de convívio com a família, que vive fora do país. “Não pensei que esse fato pudesse despertar suspeitas terríveis nas pessoas com quem apertei a mão”, declarou.

Eis a íntegra da carta de Álvaro Leyva traduzida para português:

“Estimado Presidente,

“Receba minha saudação com o mais sincero respeito.

“Durante semanas, venho refletindo sobre como fazer com que o senhor ouça a voz deste que foi seu ex-ministro de Estado, sobre preocupações que surgiram a partir de informações que conheci diretamente e que, em minha visão, me afetam pessoalmente, ao senhor como Chefe de Estado e, por consequência, a todo o país.

“Embora tenha exercido um cargo de alta relevância e supostamente próximo ao senhor, devo dizer que nunca foi fácil me aproximar. O senhor sabe disso. Por essa razão, recorri a diversas mensagens na rede “X” e em outras mídias sociais para expressar meu estado de ânimo, pois considero meu dever alertá-lo sobre essas questões. Primeiro ao senhor, e, se necessário, à nação inteira.

“Confesso que seu discurso de campanha me inspirou: igualdade, liberdade, fraternidade, justiça social e paz integral com oportunidades para todos — princípios que também considero um dever de vida. O senhor chegou a mencionar o Papa Francisco, com Fratelli Tutti e Laudato Si’. Tão comprometido estive com essa visão que, em sua defesa, fui particularmente severo com seu opositor, o engenheiro Rodolfo Hernández. Vale lembrar que, semanas após sua posse, sendo eu já seu ministro, o senhor Rodolfo apareceu de forma surpreendente em meu gabinete com espírito reconciliador. “Vim lhe dar um abraço”, disse ele, reconhecendo que o senhor era um verdadeiro homem de paz. Fiquei comovido com o gesto.

“Nunca lhe falhei, Presidente. Coloquei tudo em jogo por você e pela causa. Não tenho do que reclamar. No entanto, surgiram discrepâncias e fatos relevantes que nos distanciaram. Mas sem traição alguma da minha parte — esse termo não cabe na minha formação nem no meu caráter. Sou filho do exílio, juntamente com minha família, por meu pai ter se recusado a trair. Esse foi o exemplo que recebi.

“O objetivo desta carta é chamar sua atenção, de maneira respeitosa, mas franca, sobre questões difíceis, pois envolvem aspectos pessoais. Escrevo sem qualquer espírito de conflito, mas com sugestões e propostas. Nada enigmático ou vago, embora alguns leitores tenham interpretado assim meus escritos mais recentes. O que exponho a seguir é dito sem patetismo ou exagero.

“Para reforçar a legitimidade do que relato, recorro à obra Ética e Realismo, do filósofo espanhol Antonio Millán-Puelles (Edições RIAP S. A., Madrid, 1996, págs. 110–111), onde ele cita Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e outros sábios: às vezes é necessário recorrer a uma “prudente ocultação da verdade” para evitar danos. No entanto, quando o bem comum está em risco, é apropriado abandonar essa prudência. Por isso, hoje, senhor Presidente, não tendo mais essa tranquilidade interior, envio-lhe esta carta com o coração aberto.

“Presidente, no momento de minha nomeação, eu desconhecia seus antecedentes pessoais. Sabia apenas da sua trajetória política e de sua ligação com o M-19, embora nunca tenha tido relação com a cúpula dessa organização. Na época das maiores negociações de paz com o M-19, jamais nos encontramos. O senhor não fazia parte da linha de frente.

“Carlos Pizarro não foi meu amigo, mas tínhamos confiança mútua. Encontrei-o várias vezes em esconderijos — na montanha e em Cali. Conversávamos longamente. Após libertar Álvaro Gómez Hurtado, ele se juntou à Comissão de Acompanhamento que culminou na Constituinte, da qual fui um dos principais arquitetos. Nosso primeiro encontro foi há alguns anos, numa cafeteria do lobby do Hotel Tequendama. O senhor vestia um colete à prova de balas — recordo com nitidez, e imagino que o senhor também.

“Assumi o Ministério das Relações Exteriores com desprendimento, desejando contribuir para que o senhor se tornasse um líder continental e uma esperança mundial. Mas me surpreendi ao ver que nunca conseguimos sentar juntos para definir a política externa do Estado. A senhora Sarabia, que gerenciava sua agenda, frequentemente me fazia esperar por horas, com a promessa de que o senhor me receberia — o que raramente acontecia. Com o tempo, percebi que ela controlava seu tempo, suas atividades e até algumas necessidades pessoais.

“Logo notei que o senhor não dialogava com seus ministros. Seu círculo de confiança era extremamente restrito. Isso era comentado entre nós. Sendo o mais velho, tornei-me confidente de vários colegas. O que mais me procurava era o então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, que sequer foi recebido antes de ser substituído.

“Foi minha a responsabilidade de nomear Armando Benedetti como embaixador na Venezuela. O senhor me disse que falaria com ele. Convidei-o ao meu apartamento. Ele relutava em aceitar — desejava um cargo importante na Colômbia. Como eu já conhecia suas dificuldades pessoais, revelou-me que o doutor Miguel Bettín, um profissional de enorme reputação, o atendia. Durante nossa conversa, percebi que Benedetti era dependente químico. Tratei-o como um doente. Infelizmente, ele segue na mesma condição.

“As gravações entre Sarabia e Benedetti, divulgadas pela revista Semana em junho de 2023, ainda pairam sobre seu governo — agora mais ainda após declarações recentes do seu Chanceler, vindas de Osaka. Fica evidente que o senhor é vítima de funcionários que o prejudicaram e ainda o fazem. Soma-se a isso sua dificuldade em se libertar de um personalismo destrutivo. É grave, sim, Presidente. Digo isso porque estimo o senhor.

“Lembro, com desconforto, episódios que testemunhei pessoalmente. Um dos mais marcantes foi seu desaparecimento por dois dias em Paris, durante visita oficial. As autoridades francesas não o localizaram. Situação embaraçosa para mim como seu Chanceler — ainda mais ao saber onde esteve. Foi ali que confirmei que o senhor enfrentava problemas com drogas. Arrependo-me de não ter tentado ajudá-lo. Deveria ter me aproximado. Guardo essa dor.

“Infelizmente, o senhor nunca se recuperou por completo. Seus desaparecimentos, atrasos inadmissíveis, viagens sem propósito, frases incoerentes, companhias questionáveis e outros descuidos têm sido notados e continuam sendo. Relatos de solidão, ansiedade, depressão e episódios de risco são conhecidos por pessoas próximas que o estimam, mas que não sabem como ajudá-lo.

“Suas recentes declarações públicas, desordenadas, com ameaças e acusações infundadas contra adversários — inclusive sugerindo que representam risco à vida de concidadãos — configuram abuso de poder. Suas palavras têm inflamado a luta de classes. Invocar um M-19 inexistente é provocação. O editorial de El Espectador, de 23 de março deste ano, disse com razão: “O fogo retórico do presidente Petro superou o tolerável”.

“Não tratarei aqui de suas mensagens em redes sociais, nem de outros assuntos que desviariam o foco desta carta, na qual pretendo alertá-lo, ainda que com dureza. Por ora, Presidente, afaste-se daqueles que abusaram de sua confiança, que exploraram sua fragilidade e ainda o prejudicam. São nomes que circulam amplamente entre os colombianos: o presidente da Ecopetrol, Benedetti e a senhora Sarabia. Dizem que o senhor está sequestrado por eles. Acredite: libertar-se desse entorno já seria um passo rumo à solução.

“A Colômbia precisa de união, não de caos e confronto promovidos a partir do alto comando. Evitemos juntos um incêndio social. É possível.

“Sei que talvez não seja fácil o senhor me receber. Mas tomara que o faça. Tenho algo importante a sugerir, pensando no senhor e em toda a nação.

“Atenciosamente,

Álvaro Leyva Durán”

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/ex-chanceler-diz-que-presidente-da-colombia-tem-vicio-em-drogas/

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