EUA reduzirão investimento direto no Brasil

Escalada da guerra comercial vai impactar na entrada de capital nas empresas norte-americanas no país, dizem especialistas

País com o maior volume de investimento estrangeiro direto no Brasil, os Estados Unidos devem reduzir o aporte de capital por conta da escalada da guerra comercial entre os 2 países.

Os EUA investem 4 vezes mais do que o 2º colocado no ranking do Banco Central. Em 2023, último dado disponível, foram US$ 272,8 bilhões ante US$ 66,8 bilhões da Espanha. O BC vai divulgar o levantamento relativo a 2024 em 26 de setembro.

Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Mdic (Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), o estoque de investimentos dos EUA no Brasil pode não mudar em um 1º momento. No entanto, o fluxo de capital norte-americano será reduzido imediatamente, avalia.

“A empresa americana situada no Brasil não vai expandir o investimento enquanto houver essa pendência tarifária. Isso vai afetar o investimento futuro”, disse ao Poder360.

Segundo Barral, as companhias devem suspender os investimentos para aguardar mudanças no cenário depois de “alguma negociação”. Se o presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano) –responsável pelo tarifaço de 50% nos produtos brasileiros importados lá– deixar o governo, é possível que o quadro seja revertido rapidamente, de acordo com Barral.

“Provavelmente os Estados Unidos podem perder o título de maior investidor anual, mas vão continuar por muito tempo sendo o maior em estoque de investimentos”, declarou.

O estoque não deve mudar por conta das inúmeras empresas norte-americanas que investem no Brasil e que apostam no mercado consumidor brasileiro.

José Ronaldo de Souza, economista-chefe da Leme Consultores, também estima que o conflito com os Estados Unidos vai afetar os investimentos das empresas norte-americanas no Brasil. “Temos uma conexão de cadeias produtivas entre os 2 países. Parte produz aqui, parte lá. O conflito cria essa dificuldade de exportar o que é produzido no Brasil”, afirmou.

O risco sobre as relações diplomáticas provocado pela guerra comercial aumenta a desconfiança dos investidores. “O crescimento no risco gera menos investimento em qualquer área”, disse Souza.

PIOR CENÁRIO

O professor de economia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Ecio Costa ressaltou que a situação tende a se agravar se o Brasil resolver retaliar os Estados Unidos: “Caso o Brasil colocasse tarifas de 50% provavelmente Trump iria elevar as taxas para 100%”.

No pior cenário, com a escalada da guerra comercial, o congelamento dos investimentos pode afetar a situação do balanço de pagamentos do Brasil, disse o professor.

Hoje, a conta corrente brasileira é altamente deficitária e a balança comercial ajuda a reduzir a diferença. O saldo é equilibrado pelo ingresso de investimento estrangeiro que injeta dólares no país.

Caso as empresas dos Estados Unidos, que historicamente têm sido o principal investidor internacional, sejam proibidas de aportar recursos, “o Brasil vai ter consequências sérias no balanço de pagamentos, com impacto nas reservas internacionais”, segundo Costa.

Nenhum dos especialistas entende que outras nações poderão substituir os Estados Unidos, como o maior investidor no Brasil. “Eu não vejo a China ou outros grandes players assumindo essa posição dos EUA. Por isso, há risco de uma forte desaceleração econômica [com a redução dos investimentos]”, declarou o professor.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-economia/eua-reduzirao-investimento-direto-no-brasil/

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