Projeto no Congresso dos EUA propõe incluir rosto do republicano em monumento com esculturas de ex-presidentes históricos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), nunca escondeu seu desejo de fazer parte das esculturas do icônico Monte Rushmore, localizado nas Black Hills, em Keystone, no Estado da Dakota do Sul.
Durante seu 1º mandato (2017-2021), Trump disse a Kristi Noem, então representante dos EUA pela Dakota do Sul e agora secretária de Segurança Interna, que seu “sonho” era estar no monte. Mais tarde, ela o presenteou com uma maquete do monumento com seu rosto adicionado.
Já em seu 2º mandato, a ideia voltou à tona quando a congressista Anna Paulina Luna, da Flórida, apresentou em janeiro um projeto de lei para “determinar que o secretário de Interior providencie a escultura da figura do Presidente Donald J. Trump no Memorial Nacional do Monte Rushmore”.
Em março, Doug Burgum atendeu ao chamado. Disse em entrevista com Lara Trump, nora do presidente, que “eles definitivamente têm espaço” para adicionar o rosto do republicano ao monumento. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Recursos Naturais da Câmara, que ainda não se pronunciou.
Mas, antes de analisar a possibilidade de Trump se tornar o 5º presidente de resto esculpido nas pedras, é preciso entender o monumento e a sua história.
Sobre o Monte
Iniciado em outubro de 1927 e finalizado em outubro de 1941 pelo pintor e escultor Gutzon Borglum, o monte abriga os rostos de 4 emblemáticos ex-presidentes dos EUA. Da esquerda para a direita: o 1º presidente, George Washington (1789-1797); o 3º, Thomas Jefferson (1801-1809); o 26º, Theodore Roosevelt (1901 a 1909); e o 16º, Abraham Lincoln (1861-1865).
Borglum dedicou 14 anos ao projeto, cuja ideia original veio do historiador Doane Robinson, que pretendia inserir esculturas nas Black Hills para atrair turistas. O arista escolheu o Monte Rushmore em homenagem a Charles Rushmore, advogado de Nova York que explorava minas de estanho na região em 1885.
Desde outubro de 1966, o monte é designado um distrito do Registro Nacional de Lugares Históricos, além de ser um Memorial Nacional.
Ao longo das décadas, tornou-se um símbolo dos Estados Unidos —“um símbolo de liberdade e esperança para pessoas de todas as culturas e origens”, segundo o Memorial. Atualmente, recebe pouco mais de 2 milhões de visitantes por ano, vindos de todo o país e do mundo.
O debate sobre adicionar Trump ao local envolve questões filosóficas e técnicas. Vão de “quem merece estar ali?” a “isso é estruturalmente possível?”.
Trump no Monte Rushmore
Segundo reportagem do New York Times, o SNP (Serviço Nacional de Parques), subordinado ao secretário de Interior, rejeita a inclusão de novos rostos no Monte Rushmore. O órgão afirma que o monumento é uma obra completa e que não há espaço viável para esculturas adicionais.
Desde 1989, o SPN trabalha com uma empresa de engenharia mecânica de rochas para estudar a estabilidade estrutural e instalar dispositivos de monitoramento que assegurem a preservação da escultura a longo prazo.
“A empresa concorda com nossa crença de longa data de que nenhuma outra rocha próxima às faces esculpidas é adequada para entalhes adicionais”, disse Maureen McGee-Ballinger, chefe de Interpretação e Educação do Memorial Nacional do Monte Rushmore, em entrevista ao jornal Argus Leader em 2020.
“Acredita-se que se trabalhos adicionais forem realizados, é possível que a exposição de novas superfícies resulte na criação de potenciais instabilidades nos entalhes existentes”, afirmou.
Além disso, estudos recentes já identificaram cerca de 144 fraturas e outras descontinuidades na rocha, o que dificultaria tecnicamente a adição de novos rostos. Um pé cúbico de granito, por exemplo, pesa cerca de 77 kg, o que representaria um desafio para qualquer modificação.
Segundo Maureen, o Rushmore foi esculpido por Borglum para representar os primeiros 150 anos da história dos Estados Unidos —o nascimento, o crescimento e a preservação. “Ele escolheu os 4 presidentes para representar os princípios da nossa atual forma de governo, não para representar os indivíduos em si”, concluiu.
Robin Borglum Kennedy, neta do escultor, também se opõe a mudanças. Ex-gestores comparam alterar o monumento a modificar obras-primas como a “Última Ceia”. Como uma alternativa, Trump propôs um “Jardim Nacional dos Heróis Americanos” com 250 esculturas em tamanho real, possivelmente nas Black Hills.
Mas o projeto enfrenta um futuro incerto por questões sobre cronograma, custo, localização e recepção dentro da comunidade artística, o que ameaça comprometer a qualidade e a entrega do projeto, previsto para estrear na grande celebração do 250º aniversário do país, em julho de 2026.
“Ninguém quer um museu Madame Tussauds ao ar livre e parece que a administração está tomando as medidas certas para assegurar que tenhamos obras de arte lindas e inspiradoras”, disse Justin Shubow, presidente da National Civic Art Society, à CNN.
Uma fonte com conhecimento do projeto disse à CNN que o governo Trump agora reconhece a impossibilidade de concluir todas as 250 estátuas em 1 ano. A nova meta, informal, é tentar finalizar entre 25 e 50 estátuas até julho de 2026, para que o jardim possa ser inaugurado no prazo, com um conjunto menor de estátuas que funcionaria como uma prévia do que o jardim poderá se tornar.
Construção do Monte Rushmore
A construção do Monte Rushmore (1927–1941) envolveu cerca de 400 trabalhadores em funções diversas, sob condições extremas de calor, frio e altura. Apesar dos riscos, como o uso constante de dinamite, nenhuma morte foi registrada.
Gutzon Borglum observa 2 trabalhadores esculpindo o olho de Thomas Jefferson no Monte Rushmore
O processo incluía perfuração, escavação com dinamite e acabamento manual com técnicas como o “favo de mel”, que enfraquecia o granito para facilitar a escultura. A etapa final deixava a rocha tão lisa quanto uma calçada.
Visitantes tentavam comprar pedaços de granito alveolar como lembrança. Os operadores os vendiam por valores simbólicos e logo solicitavam mais material ao topo da montanha, mantendo o “estoque” para os próximos turistas.
A escolha dos 4 presidentes
Gutzon Borglum escolheu os 4 presidentes por representarem, em sua visão, marcos fundamentais da história dos Estados Unidos:
George Washington simboliza o nascimento da nação, por liderar a independência e fundar a democracia norte-americana;
Thomas Jefferson representa o crescimento do país, como autor da Declaração de Independência e responsável pela compra da Louisiana, que dobrou o território nacional;
Theodore Roosevelt foi incluído por simbolizar o desenvolvimento, ao liderar o país durante seu crescimento econômico, criar políticas trabalhistas e negociar a construção do canal do Panamá;
Abraham Lincoln representa a preservação da União, por manter o país unido durante a Guerra Civil e lutar contra a escravidão.