Norte-americanos que dizem acreditar em Jesus Cristo estavam em baixa há pelo menos uma década e agora há estabilidade; igrejas católicas relatam aumento recente de convertidos
A queda do número de pessoas que dizem ser cristãs nos Estados Unidos parece ter estancado depois de um recuo muito acentuado na última década. É o que indica uma pesquisa sobre religiões do Pew Research Center realizada com 36.908 pessoas no país no fim de 2023 e início de 2024 e divulgada agora em 2025.
Em 2007, no início da série histórica, a taxa de cristãos norte-americanos adultos era de 78%. Esse número foi caindo aos poucos até chegar a 63% em 2019 –numa redução de 15 pontos percentuais em 12 anos.
Na pandemia e já depois da pandemia, os norte-americanos que dizem acreditar em Jesus Cristo como filho de Deus passaram a só oscilar de 60% a 64%. A mesma estabilidade foi observada no grupo que diz não ter nenhuma religião. Eis a íntegra do estudo (PDF – 10 MB).
Uma das explicações levantadas para o cenário atual de estabilidade entre os cristãos é uma maior procura pelo catolicismo que ainda não teria sido totalmente captada pelas grandes pesquisas. Relatos publicados na mídia norte-americana indicam uma alta na busca pela Igreja Católica nos últimos anos e meses.
O jornal especializado em religião católica National Catholic Register disse em 22 de abril de 2025 que dioceses do país afirmaram ter registrado missas mais cheias que o habitual na Páscoa deste ano.
Dados iniciais de conversões no período de quaresma de 2025 também tiveram “forte crescimento”, repetindo um movimento já observado no ano anterior, segundo informações compiladas pelas igrejas e cujos números consolidados devem sair nos próximos meses.
Essa tendência de maior procura por instituições católicas vem ajudando a religião a não diminuir de tamanho (como vinha acontecendo nos anos recentes), mas ainda não parece suficiente para fazer com que cresça de forma consistente o número de fiéis com essa crença.
As informações do Pew Research Center mostram que 19% dos adultos norte-americanos diziam ser católicos em 2024. Essa parcela da população se mantém estável nesse patamar desde 2014, mesmo quando outras religiões seguiam registrando recuos.
Diferentemente do Brasil, os católicos são só a 2ª maior religião dos Estados Unidos. Ficam atrás dos protestantes, que eram 40% em 2024 –porcentagem que se estabilizou a partir de 2019, mas que teve trajetória de queda na maior parte da década passada. Em 2007, eram 51% os norte-americanos que se identificavam com essa religião.
O conceito de protestantes nos EUA inclui os evangélicos como conhecemos no Brasil e outras congregações mais ligadas a essa ideologia, como as Historically Black Protestant Churches (Igrejas Protestantes Historicamente Negras), lideradas e frequentadas predominantemente por afro-americanos, e outras igrejas mais tradicionais.
Apesar da estabilidade entre os norte-americanos que dizem ser cristãos, um dado preocupa os religiosos e pode ser um entrave para estancar de vez o afastamento da população norte-americana das igrejas e templos: a variação de crença registrada entre as gerações.
Dos idosos com 75 anos ou mais, 80% dizem ser cristãos. Na faixa etária de 65 a 74 anos essa taxa é de 75%, e cai acentuadamente de acordo conforme cada grupo fica mais jovem.
Entre os que têm de 18 a 24 anos, por exemplo, só 46% dizem ser cristãos. Esse percentual é idêntico entre os que têm de 25 a 34 anos. Nessas gerações, 43% e 44%, respectivamente, não se identificam com nenhuma religião. Ou seja, as parcelas de cristãos e não cristãos são praticamente idênticas nessas faixas etárias.
VICE DOS SE CONVERTEU EM 2019
Um dos casos mais emblemáticos de conversão católica nos últimos anos é o de J.D. Vance (Partido Republicano), hoje vice-presidente dos Estados Unidos. Ele foi batizado na Igreja Católica, em Ohio, em 2019.
“Com o tempo, me convenci de que o catolicismo era verdadeiro. Fui criado como cristão, mas nunca tive um apego muito forte a nenhuma denominação e nunca fui batizado. Quando me interessei mais pela fé, comecei do zero e procurei a igreja que mais me atraía intelectualmente”, declarou Vance ao site American Conservative à época.
Vance foi eleito vice-presidente na chapa de Donald Trump em 2024. Os 2 tomaram posse em 20 de janeiro de 2025.
O político norte-americano convertido ao catolicismo se encontrou com o papa Francisco em 20 de abril, 1 dia antes de ele morrer vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e de insuficiência cardíaca.
No Brasil, o ex-jogador de futebol Ronaldo (Fenômeno) Nazário, de 48 anos, batizou-se na Igreja Católica em cerimônia conduzida pelo padre Fábio de Melo em 12 de setembro de 2023.
Essa possível recuperação de fiéis pela Igreja Católica nos Estados Unidos também vem sendo relatada em outros países.
Na França, por exemplo, as conversões de adultos programadas para a Páscoa cresceram 45% em 2025 na comparação com 2024, de acordo com dados preliminares compilados pelas igrejas do país. Movimento semelhante também foi registrado no Reino Unido.
O Annuario Pontificio 2025 e o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2023, do Vaticano, indicam que houve uma alta de 1,15% no número de católicos de 2022 para 2023, com um crescimento mais acentuado na África (+ 3,31%).
CRISTÃOS NO MUNDO
Não há uma estatística 100% precisa sobre a quantidade global de cristãos hoje, mas estima-se que esteja na casa dos 2 bilhões de pessoas.
A maior parte desse grupo que crê em Jesus como filho de Deus está nas Américas e na Europa.
Em números absolutos, os Estados Unidos concentram a maior quantidade de cristãos: 213 milhões, segundo dados compilados pelo World Population Review. O Brasil tem a 2ª maior população que declara ter essa crença (180,8 milhões).
No mundo como um todo, os cristãos são 31,1%, segundo dados do World Factbook, da CIA (Agência Central de Inteligência) dos Estados Unidos, com projeções de 2020.
Os muçulmanos são a 2ª maior crença do planeta (24,9%), seguido dos hindus (15,2%) e dos budistas (6,6%).
Dados mais precisos sobre a religião dos brasileiros devem sair em junho, com informações compiladas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Censo de 2022.
Em 2020, o Datafolha fez uma pesquisa com 2.948 entrevistados adultos que indicou que 50% da população brasileira era católica, e 31%, evangélica. Outros 10% diziam à época não ter religião.
Diferentemente dos Estados Unidos, especialistas veem um aumento acentuado dos evangélicos no Brasil. Projeções indicam que essa religião representará 35,8% da população em 2026 (em 2010 eram 22,2%), como já mostrou reportagem do Poder360.
Essas informações poderão ser confirmadas em alguns meses com o Censo e será possível ter um panorama mais claro sobre as tendências das religiões no país. E entender se o estancamento da perda de fiéis observada nos Estados Unidos se repete por aqui.