Conservadores lideram e direita é isolada na corrida ao governo alemão

Cenário fragmentado pode dificultar a formação de coalizão para a CDU de Friedrich Merz; partido rechaça acordo com o AfD, partido mais à direita da Alemanha

Friedrich Merz, líder do partido CDU (União Democrata Cristã, centro-direita), é o candidato favorito a vencer as eleições antecipadas na Alemanha marcadas para este domingo (23.fev.2025) depois do colapso da coalizão liderada pelo chanceler Olaf Scholz, SPD (Social-Democratas, centro-esquerda), em dezembro. No entanto, o resultado permanece incerto por causa das possíveis configurações de coalizões no sistema parlamentar alemão. 

Nestas eleições, o Bundestag (Parlamento alemão) será reduzido para 630 assentos. Até 2024, eram 733 cadeiras no Legislativo. Os partidos precisam conquistar pelo menos 5% dos votos para entrar e participar da formação de governo.

As pesquisas apontam favoritismo do CDU, mas indicam que o partido precisará de uma coalizão –acordo com outros partidos– para formar um governo de maioria em Berlim. Em 2º lugar nos levantamentos, o AfD (Alternativa para a Alemanha), sigla mais à direita no pleito, é carta fora do baralho para chegar ao poder.

Isso se dá porque os demais partidos alemães mantêm um “firewall” político contra a legenda, impedindo qualquer coalizão por causa das sua ideologia nacionalista e considerada “extremista”. No entanto, o crescimento da AfD pode dificultar a formação de um governo sólido para Merz, que ficaria com poucas opções de acordo dentro de seu espectro político.

O líder do CDU afirmou que sua preferência é formar governo com apenas um parceiro, mas as projeções tornam essa possibilidade improvável. As alianças mais viáveis incluem uma coalizão com o SPD, como nos 2 últimos governos de Angela Merkel (2013-2021), ou um acordo com 3 partidos, incluindo os Verdes.

“Queremos fazer tudo o que pudermos, especialmente nesta campanha eleitoral, para tornar este partido [AfD] o menor possível novamente”, declarou Merz em uma convenção do CDU, em 3 de fevereiro. Ele reforçou que “não haverá cooperação e nenhum consentimento”. 

Para o cientista político Pablo Holmes Chaves, professor do Ipol (Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília), uma coalizão entre CDU, SPD e Verdes seria difícil de administrar por causa das divergências ideológicas e da impopularidade dessas siglas entre parte do eleitorado.

“O problema é que o Parlamento ficará muito fragmentado. Hoje, uma aliança somente entre CDU e Verdes ou CDU e SPD não é suficiente. É muito provável que Merz enfrente um grande impasse. A única coalizão viável é CDU, SPD e Verdes”, afirmou Chaves ao Poder360. No entanto, afirma ainda que essa configuração deixaria na oposição “uma esquerda e uma direita radicalizadas”. 

Outra possibilidade seria o CDU se aliar ao SPD, aos Verdes e ao FDP, caso este consiga assentos. No entanto, Chaves considera improvável que SPD e Verdes aceitem uma colaboração com os liberais. “Uma grande aliança de esquerda também é praticamente impossível, porque esses partidos não conversam entre si”, acrescentou.

Se nenhum dos partidos menores atingir o limiar de 5%, apenas 40% dos votos poderiam ser suficientes para garantir a maioria. Caso 2 ou mais desses partidos consigam entrar no Parlamento, será necessário aproximadamente 46% dos votos para assegurar a maioria.

Avanço da AfD e influências externas

Mesmo com a rejeição da maioria da população, a AfD ganhou espaço desde 2021. Apoios internacionais ajudaram a impulsionar sua visibilidade. O bilionário Elon Musk, o ex-presidente Donald Trump e o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán declararam apoio ao partido e à sua líder, Alice Weidel.

O co-presidente da AfD, Tino Chrupalla, foi o único líder partidário alemão convidado para a posse de Trump, em 20 de janeiro. Dias depois, Musk participou por videoconferência de um comício da legenda em Halle, que reuniu 4.500 apoiadores. 

Durante sua fala, o bilionário declarou: “É bom ter orgulho de ser alemão. Lutem por um futuro brilhante para a Alemanha”. Ele ainda classificou a AfD como “a melhor esperança para a Alemanha” e incentivou a mobilização de votos para a sigla.

Pesquisa e desafios do próximo governo

Segundo o agregador de pesquisas da Reuters, atualizado no sábado (22.fev), o partido de Fridrich Merz, o grupo CDU/CSU (União Democrata Cristã, centro-direita) é o favorito no pleito. Tem 29,4% das intenções de voto, ante 20,4% da AfD (Alternativa para a Alemanha, direita), liderada por Alice Weidel. O SDP (Partido Social Democrata, centro-esquerda) do atual premiê Olaf Scholz e os Verdes (centro-esquerda), de Robert Habeck, aparecem com 15,4% e 13,0%, respectivamente.

Independentemente de quem assumir o governo, e quais coalizões formaram, desafios significativos marcarão a próxima gestão. A economia alemã, em desaceleração, e as tensões sobre políticas migratórias estarão no topo da agenda.

As eleições deste domingo (23.fev) definirão o futuro político da Alemanha e testarão os limites do sistema de coalizões. Com um Parlamento fragmentado e variáveis em jogo, o próximo chanceler enfrentará um cenário desafiador e incerto.

Este post foi produzido pela estagiária de jornalismo Nathallie Lopes sob a supervisão do editor Ighor Nóbrega.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/conservadores-lideram-e-direita-e-isolada-na-corrida-ao-governo-alemao/

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