Com temor de violência, Equador vai às urnas com fronteira fechada

Eleições são neste domingo (9.fev); o atual presidente Daniel Noboa é o favorito para reeleição

O Equador realiza neste domingo (9.fev.2025) eleições presidenciais e legislativas. Serão renovados os 137 assentos da Assembleia Nacional. O atual presidente, Daniel Noboa (Ação Democrática Nacional, centro-direita), busca a reeleição. Se necessário, haverá 2º turno em 13 de abril.

Com temor de violência, o país vai às urnas com a fronteira fechada. Na última 3ª feira (4.fev), Noboa disse em seu perfil do X (ex-Twitter) que a decisão é em resposta às supostas ameaças de grupos armados. 

“Ordenei ao bloco de segurança que execute as seguintes ações: militarizar os portos imediatamente e fortalecer a presença militar nas fronteiras norte e sul do país. Em resposta às tentativas de grupos armados de desestabilizar o país”, afirmou. A medida entra em vigor neste sábado (8.fev) e vai até a 2ª feira (10.fev).

O Equador passa por problemas sociais, econômicos e de segurança desde a saída do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) por casos de corrupção.

A crise no país é baseada em 3 elementos principais: 

tráfico de drogas;
violência política;
sistema prisional.

A pandemia de covid-19 deteriorou a economia e abriu espaço para narcotraficantes transformarem o país em rota crucial para a Europa e Estados Unidos. O Equador virou palco de disputas entre facções locais e cartéis mexicanos, com destaque para Los Lobos, que reúne cerca de 8.000 integrantes.

Os homicídios aumentaram 430% desde 2019 a 2024, totalizando 3.036 casos. Mesmo com uma queda em relação a 2023, o número ainda é superior ao de 2022. Além disso, o país registrou mais de 2.000 sequestros e 10.700 extorsões. Um a cada 3 equatorianos afirma ter sido vítima de algum crime, segundo o Human Rights Watch.

Nas eleições tampão de 2023, quando Noboa assumiu o poder, ao menos 5 políticos foram assassinados, incluindo Fernando Villavicencio, can. Em 9 de agosto de 2023, o candidato a Presidência foi baleado 3 vezes no momento em que saía de um comício.

O grupo Los Lobos chegou a ser considerado o autor do crime, mas investigações da polícia equatoriana mostraram que o vídeo no qual o grupo supostamente reivindicava a responsabilidade era falso. 

Ainda segundo o Human Rights Watch, a falta de controle estatal, a superlotação e más condições prisionais “permitem que o crime organizado controle as prisões”.

Mandato temporário

O pleito deste domingo (9.jan) será a 1º dentro do ciclo eleitoral regular desde a eleição antecipada de 2023 pelo ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023).

Na ocasião, Noboa venceu com 52,2% dos votos válidos e assumiu um mandato temporário de 1 ano e meio. Desde então, implementou uma gestão mais rigorosa no combate ao crime. 

Em seus quase 15 meses no cargo, segundo a plataforma InSight Crime, especializada em crime organizado na América Latina, as autoridades prenderam mais de 60.000 suspeitos por crimes em 2024 e apreenderam 280 toneladas de drogas ilícitas, um aumento de 29% em relação a 2023.

Em julho de 2024, Noboa visitou Durán, cidade costeira considerada a mais violenta do país. Usando colete à prova de balas e capacete militar, criticou seus rivais por não visitarem a região.

Ainda segundo a InSight Crime, a violência diminuiu temporariamente em Durán depois do envio de militares e policiais. Mas voltou a crescer, registrando 476 homicídios em 2024.

Na questão prisional, o exército assumiu o controle das principais unidades e realizou operações para combater as gangues. Noboa também anunciou a construção de novos presídios, mas não enfrentou problemas estruturais como corrupção endêmica, políticas punitivas inadequadas e atividades criminosas dentro das prisões.

Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador de Harvard, avalia que houve avanços desde que Noboa assumiu em 2023. “A questão é que esse avanço é tímido”, disse em entrevista ao Poder360.

“O governo atual, com apenas 15 meses de mandato, enfrentou um problema estrutural difícil de resolver em tão pouco tempo”, disse. Para Brustolin, uma mudança significativa exigiria medidas drásticas, como, por exemplo, um acordo de cooperação com os Estados Unidos, similar ao realizado na Colômbia.

“No entanto, nem esses métodos apresentam soluções completas e o governo equatoriano tem sido solicitado a negociar com facções criminosas para se manter no poder”, afirmou.

Essa narrativa “linha dura” parece favorecer Noboa nas eleições de 2025, confirmando a tendência à direita nas principais eleições no mundo este ano.

Segundo pesquisa da Ipsos publicada em 29 de janeiro, Noboa lidera com 50% das intenções dos votos válidos, seguido por Luisa González (34,6%), Andrea González (5,7%) e Leónidas Iza (2,6%). A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. Para ser eleito em 1º turno, Noboa precisa de 50% mais 1 dos votos válidos ou 40% com uma vantagem de pelo menos 1 p.p. sobre o 2º colocado. O mandato é de 4 anos.

Para Brustolin, o favoritismo de Noboa se deve a sua capacidade de governar evitando confrontos diretos com as facções criminosas. “Ele [também] se destaca por sua popularidade, juventude e carisma, além de não enfrentar grandes denúncias [de corrupção] como o ex-presidente Rafael Correa. Nesse cenário, os outros candidatos não têm a mesma expressividade ou propostas capazes de desafiá-lo efetivamente”, concluiu.

Além do cargo máximo do Executivo federal, também estão em jogo nas eleições as 137 cadeiras da Assembleia Nacional –Casa única do Legislativo equatoriano. Os mandatos dos deputados também têm duração de 4 anos.

Trumpista wannabe

Daniel Roy-Gilchrist Noboa Azin, de 35 anos, é o presidente mais jovem da história do Equador. É filho do magnata Álvaro Noboa, dono da Noboa Trading, uma das principais exportadoras de banana do país. 

Aos 18 anos, fundou a própria empresa, a DNA Entertainment Group. Em 2010, começou a trabalhar na empresa do pai, que também disputou a presidência equatoriana em 2006. 

A carreira política de Daniel Noboa começou em 2021, quando foi eleito para a Assembleia Nacional. No Legislativo, foi presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Produtivo e da Microempresa.

Sua plataforma política tem como foco principal a reforma do sistema prisional e judicial do Equador. Ele defende a formação de policiais em técnicas de resolução pacífica de conflitos e o desenvolvimento de programas de reabilitação para presos a fim de reduzir as taxas de reincidência.  

Noboa também propõe acelerar procedimentos judiciais em prol do direito a um julgamento rápido e justo. Defende ainda a revisão das políticas de prisão preventiva e a melhora no treinamento de funcionários penitenciários. Eis a íntegra do plano de governo (2025-2029) de Daniel Noboa (PDF – 660 kB, em espanhol). 

Durante seu mandato tampão, Noboa adotou políticas voltadas a iniciativas de promoção de livre comércio e tratados bilaterais, além de buscar reforçar parcerias já existentes, tendo em vista que a economia do país depende de exportações. No entanto, Noboa adotou uma atitude mais ligada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano) –que segue uma linha mais protecionista–, ao anunciar tarifas de 27% sobre produtos do México em 4 de fevereiro.

Ao Poder360, o professor de relações internacionais da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) Matheus de Oliveira avalia que a medida de Noboa não faz sentido e a atitude pode ser vista como um aceno ao presidente norte-americano.

“Trump faz isso porque a economia norte-americana é poderosíssima. [Mas] a situação [do Equador] é completamente diferente. Esse aumento dos impostos terá um impacto residual sobre a economia mexicana”, afirma.

Tanto Oliveira quanto Brustolin avaliam que, diferentemente da relação entre o México e os EUA, o atual presidente equatoriano não tem a forca do líder norte-americano para impactar a economia do país. Além disso, as relações diplomáticas entre o Equador e o México estão abaladas desde 2024, quando Noboa ordenou uma operação na embaixada mexicana para prender um ex-vice-presidente equatoriano.

Luisa González, oposição à esquerda

Luisa González, 45 anos, é a principal candidata da oposição. Nasceu em Quito e é formada em direito pela Universidade Internacional do Equador. Em 2008, trabalhou como assessora da Secretaria de Comunicação e Informação da Presidência do Equador. Dois anos depois, assumiu o cargo de coordenadora-geral da Agenda Estratégica presidencial.

De 2011 a 2018, ocupou diferentes cargos, como vice-cônsul do Equador em Madri, vice-ministra do Ministério do Turismo, secretária-geral do Gabinete Presidencial, secretária nacional de Administração Pública e ministra do Trabalho. Depois do governo de Correa, González foi nomeada secretária nacional do Parlamento Andino. 

A advogada foi eleita para a Assembleia Nacional nas eleições legislativas de 2021. Pela coalizão Unión por La Esperanza, ela foi escolhida para representar a província de Manabí. Exerceu a função até 17 de maio de 2023, quando Lasso convocou as eleições antecipadas.

Este post foi coproduzido pela estagiária de jornalismo Nathallie Lopes sob supervisão do editor Ighor Nóbrega.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/com-temor-de-violencia-equador-vai-as-urnas-com-fronteira-fechada/

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