China inicia construção de hidrelétrica bilionária no Tibete

Empreendimento de US$ 167 bilhões será construído em área conhecida por terremotos e incomoda Índia e Bangladesh

A China iniciou na semana passada a construção do seu mais ambicioso projeto do setor elétrico: a hidrelétrica do rio Yarlung Zangbo, localizado na região autônoma do Tibete. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, durante evento no Tibete. “É o projeto do século”, disse Li à agência de notícias estatal chinesa Xinhua.

O projeto é orçado em US$ 167 bilhões, cerca de 4 vezes o valor da construção da hidrelétrica de Três Gargantas –também localizada na China e hoje a maior do mundo. O governo chinês não apresentou um cronograma para a conclusão do empreendimento. A expectativa é de que a usina entre em operação na 1ª metade da próxima década.

A nova hidrelétrica chinesa consistirá em 5 cascatas com usinas instaladas em cada uma das quedas. Segundo a agência de notícias Reuters, o empreendimento será capaz de produzir 300 bilhões de kilowatts/hora anualmente. Esse é o equivalente ao consumo de energia elétrica anual do Reino Unido.

Além do valor, chama a atenção os desafios de engenharia do projeto. A região é montanhosa. Em um percurso de 51 km, o rio Yarlung Zangbo cai cerca de 2.000 metros, oferecendo um grande potencial hidrelétrico, mas, ao mesmo tempo, um desafio logístico e financeiro para garantir os recursos necessários.

A China aposta no empreendimento como uma forma de fomentar o setor de construção civil – que passa por uma crise nos últimos anos–, enquanto acelera seu plano de reduzir sua dependência do carvão e atingir uma matriz de energia elétrica totalmente limpa na próxima década.

A hidrelétrica atenderá diretamente mais de 300 milhões de pessoas e a expectativa é que o projeto produza cerca de 200 mil empregos.

TERREMOTO GEOPOLÍTICO

A construção da hidrelétrica do rio Yarlung Zangbo é discutida há mais de 15 anos. Internamente e fora da China. Existem 2 principais problemas além do custo e dos desafios da obra em si:

o Tibete é uma região de forte atividade de terremotos; e
Índia e Bangladesh dizem que o projeto impactará negativamente os países.

A área em que a China construirá a hidrelétrica é próxima da Cordilheira do Himalaia, a maior cadeia de montanhas do planeta. Essa região formada pelo encontro de placas tectônicas é conhecida pela atividade sísmica e a ocorrência de terremotos.

Em janeiro deste ano, um terremoto de magnitude 7.1 (considerada alta) atingiu uma região do Tibete a cerca de 700 km do local da obra. Destruiu prédios e matou ao menos 126 pessoas. Já em 2017, terremotos de magnitude 6 atingiram a região onde está localizado o empreendimento.

Outro desafio do governo chinês é contornar as tensões geopolíticas entre o projeto e seus países vizinhos. O rio Yarlung Zangbo –chamado de Brahmaputra pelos indianos– passa por regiões no nordeste da Índia e também por Bangladesh.

Em janeiro deste ano, o ministro-chefe da província indiana de Arunachal Pradesh, Pema Khandu, disse que a barragem a 50 km da fronteira tem o potencial de secar 80% do rio que passa pela província, além de inundar outras áreas. Na ocasião, declarou que a China estava “construindo uma bomba de água”.

As preocupações também são compartilhadas por Bangladesh. Em março, o governo solicitou informações técnicas sobre o projeto para entender os possíveis impactos no país.

Depois do anúncio do início das obras, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse na 4ª feira (23.jul.2025) que o projeto não terá impacto nas regiões próximas.

Também declarou que o empreendimento está “sob jurisdição soberana da China”, mas que o país é “responsável” para não afetar territórios de outras nações.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-china/china-inicia-construcao-de-hidreletrica-bilionaria-no-tibete/

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