Ex-presidente afirma, no entanto, que ex-primeira-dama “não tem experiência”, mas é “excelente cabo eleitoral”; diz que não vai se “desesperar” por julgamento no TSE e que tem “bala de prata” para 2026
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista à Folha de S.Paulo publicada na 2ª feira (26.jun.2023), que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pode vir a ser candidata à Presidência se quiser, mas, em sua avaliação, “ela não tem experiência para isso”. Para o ex-presidente, ela “é um excelente cabo eleitoral”.
“Se ela quiser, ela pode sair candidata. Mas o que eu converso com a Michelle é que ela não tem experiência. Para ser prefeito de cidade pequena já não é fácil. Lidar com 594 parlamentares [entre deputados e senadores] não é fácil também. Eu acredito que ela não tem experiência para isso. Mas é excelente cabo eleitoral”, declarou o presidente em entrevista realizada na casa do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, em São Paulo.
Sobre o julgamento desta 3ª feira (27.jun.2023) no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro disse que não vai se “desesperar”. Afirmou ser “imbrochável até que se prove o contrário”, apesar de reconhecer a possibilidade de se tornar inelegível.
Nesse caso, Bolsonaro afirmou ter uma “bala de prata” para 2026, sem especificar do que se trata. Ele também voltou a especular sobre a chance de a decisão ser revertida daqui a 3 anos, quando o ministro Kassio Nunes Marques será o presidente da Corte Eleitoral e André Mendonça, o vice. Ambos foram indicados por Bolsonaro para o STF (Supremo Tribunal Federal).
“Eu sou imbrochável até que se prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte”, afirmou Bolsonaro em entrevista.
Apesar do risco de condenação, o ex-presidente disse achar “possível” a mudança do veredito quando novos ministros assumirem a presidência da Corte Eleitoral. “O que a gente sabe sobre o julgamento é pela imprensa. O [ministro] Alexandre [de Moraes] teria já enquadrado todo mundo para não pedir vista”, acusou, afirmando que o julgamento é “de acordo com a cara do freguês”.
Questionado sobre um possível apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Bolsonaro elogiou sua atuação, mas disse teria que conversar com ele antes. Ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio tem sido frequentemente citado como um potencial sucessor do ex-presidente no campo da direita.
Sobre a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), que tem ganhado relevância no cenário político desde a campanha eleitoral de 2022, o ex-chefe do Executivo afirmou que sua mulher poderá se candidatar se quiser, mas avaliou que ela não tem a experiência necessária para o cargo.
“Para ser prefeito de cidade pequena já não é fácil. Lidar com 594 parlamentares não é fácil também. Eu acredito que ela não tem experiência para isso. Mas é excelente cabo eleitoral.”
O julgamento desta 3ª feira (27.jun) trata da reunião do ex-chefe do Executivo com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022. Na ocasião, Bolsonaro questionou o resultado do processo eleitoral de 2018, levantou dúvidas sobre as urnas eletrônicas e criticou ministros de tribunais superiores. O evento foi transmitido pela TV Brasil.
“Na reunião com embaixadores, eu não ataquei o sistema eleitoral. Eu mostrei como é o sistema eleitoral”, se defendeu. O ex-presidente também voltou a desassociar seu discurso aos atos do 8 de Janeiro, culpando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dizendo que quem invadiu e depredou os prédios dos Três Poderes foram “vândalos”, e não as pessoas que estavam acampadas no QG do Exército.
“Aquela imagem do cara com a minha camisa quebrando um relógio no Palácio do Planalto, por exemplo: a informação que chegou para mim é que foi o núcleo lá do Lula que mandou divulgar aquela cena”, afirmou.
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, suspendeu o julgamento na 5ª feira (22.jun) depois da apresentação do parecer do MPE (Ministério Público Eleitoral), que defendeu a inelegibilidade de Bolsonaro, mas foi contra a procedência da ação contra o ex-vice-presidente eleito na mesma chapa, Walter Braga Netto (PL).
Nesta 3ª (27.jun), a análise será retomada com a leitura do voto do relator, ministro Benedito Gonçalves. O julgamento para tornar Bolsonaro inelegível por 8 anos.
Entenda o caso:
Leia outros assuntos abordados na entrevista:
golpe de Estado – “Desde janeiro de 2019 falaram que eu ia dar o golpe: ‘Vai dar o golpe, vai dar o golpe’. ‘Olha, botou militar’. Eu botei gente que era do meu círculo de amizade. Se eu fosse petista, ia botar ladrões lá. […] Se fala em golpe no Brasil desde 1964. A coisa mais fácil é tomar alguma coisa estando no governo. Mas e o after day [dia seguinte]?”
sair do país – “Eu tenho um convite para trabalhar nos Estados Unidos. Lá vivem, eu calculo, 1,4 milhão de brasileiros. Não sei o número exato. Fui convidado para ser garoto propaganda lá. […] Mas eu não quero abandonar meu país.”
arrependimentos da pandemia – “Eu falaria menos com vocês da imprensa […], porque tudo é distorcido.”
imunidade parlamentar – “Se o deputado quiser defender o fim da Lei Áurea, ele pode. Ninguém vai bater palma para ele, […] mas é um direito dele. Se ele quiser falar contra ou a favor da Rússia, ele pode. Se ele quiser falar ‘dá golpe ou não dá golpe’, eu entendo que ele pode. É a liberdade do cara. É melhor o maluco falando do que conspirando.”