Maioria, ala ligada a Bolsonaro defende Gilberto Nascimento; Otoni de Paula tem apoio do atual presidente da bancada, mas conservadores resistem
A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, conhecida como bancada evangélica, escolhe o seu próximo presidente na 3ª feira (25.fev.2025) para um mandato de 2 anos. Diferentemente de outros anos, não há consenso para uma candidatura única. Gilberto Nascimento (PSD-SP) é o favorito ao cargo. O deputado, com um perfil mais conservador, é aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e conta com o apoio do PL. Além disso, é ligado à Assembleia de Deus e tem o apoio do pastor Silas Malafaia.
Na disputa, também estão os deputados Otoni de Paula (MDB-RJ) e Greyce Elias (Avante-MG), que tem o objetivo de se tornar a 1ª mulher a liderar a frente. Ambos correm por fora de forma independente.
Otoni é apoiado pelo atual presidente da frente, Silas Câmara (Republicanos-AM), mas sofre resistência dos deputados da ala bolsonarista por ter elogiado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro de 2024. Naquele mesmo mês, o congressista havia afirmado ser crítico ao petista. No entanto, durante a cerimônia de sanção do Dia da Música Gospel, declarou que Deus usou Lula para “abençoar o povo de Deus”.
A bancada evangélica é uma das mais poderosas do Congresso, com 244 integrantes. Embora reúna congressistas de partidos como PT e PL, é majoritariamente conservadora. Antes, a eleição estava marcada para 4ª feira (26.fev), mas a ideia é fazer a escolha na 3ª feira para, no dia seguinte, a bancada realizar o 1º culto sob o novo comando.
A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional atualmente tem 244 integrantes: 219 deputados federais e 25 senadores. Composta por 15 partidos, só 27 congressistas podem ser contabilizados como aliados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A ala bolsonarista seguirá sendo a maior força dentro da bancada, com 109 congressistas dos 244. Ou seja, mais da metade do grupo. A reportagem considerou aliados de Bolsonaro aqueles que apoiaram o ex-presidente nas eleições de 2022 e têm algum vínculo de proximidade com o antigo chefe do Executivo brasileiro nas redes sociais.
Nunca houve eleição para a presidência da bancada. Os nomes são apresentados e um deles é escolhido por “aclamação”, o que não se deu no fim de 2022 nem em 2025. Em 2022, a escolha do presidente da frente foi em uma reunião com integrantes da bancada. No entanto, não houve consenso quanto à escolha, o que levou a um acordo: de 2023 a 2024, os deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara revezaram a presidência a cada semestre.
Ao Poder360, Malafaia disse que a decisão é dos deputados e não dele, mas, como líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, deu sua opinião. “Gilberto Nascimento tem 10 mandatos de deputado, é um cara moderado, não é defensor intransigente de Bolsonaro. Enquanto que o Otoni é um vira-casaca”, afirmou.
A ala mais ligada a Bolsonaro avalia que a eleição de Otoni poderia sinalizar uma aproximação da bancada com o governo petista, o que eles querem evitar.
Para Malafaia, Otoni como presidente da frente pode levar a bancada a “passar vexame e vergonha por posições a favor de Lula”.
O emedebista é visto, por um lado, como um político de centro e “mais disposto ao diálogo”, segundo uma integrante da bancada disse ao Poder360.
Um integrante da bancada evangélica no Congresso Nacional afirmou que a divisão está entre uma parte mais ligada à direita e outra que “quer diálogo, que não é de esquerda, mas quer se abrir e entende que presidentes e governo não são parte da religião”.
Para esse 2º grupo, a frente evangélica não tem a função de tomar posições políticas, mas de defender “princípios”. A escolha por um candidato ou outro vai ser a resposta sobre qual ala prevalece na bancada.
BANCADA NO SENADO
A Frente Parlamentar Evangélica no Senado reelegeu Carlos Viana (Podemos-MG) para o comando da bancada até o fim de 2026.
O senador avaliou que o governo Lula ainda não entendeu a demanda dos evangélicos. Estudo da Mar Asset Management concluiu que o crescimento do número de fiéis da religião no Brasil ameaça o governo petista.
“O governo Lula tem muitos intelectuais, que são inteligentes, mas que não entendem o povo evangélico, porque entre nós evangélicos, a prosperidade vem de Deus, não vem de ajuda do governo”, disse Viana a jornalistas no dia de sua reeleição, na 4ª feira (19.fev.2025).
Para ele, o governo erra ao achar que vai conquistar o eleitorado evangélico com programas assistenciais. “Para nós, trabalhar e ter a nossa sustentação é algo que faz parte da nossa fé, tentar conquistar os evangélicos por meio de bolsa família não vai dar certo. Eu falei para o presidente Lula, não é esse o caminho que nós queremos”, afirmou.
Viana disse que os evangélicos esperam por mais coerência do governo e citou o aborto como exemplo. “O presidente fez um discurso dizendo que era contra, daí a pouco a ministra da saúde decide me colocar uma portaria facilitando casos que não precisam ser declarados. O governo é contra ou é a favor?”, questionou.