Rodovias precárias elevam custo do transporte em 31%

Pesquisa mostra que falhas de infraestrutura elevam custos com combustível, manutenção, tempo de viagem e risco de acidentes

A precariedade das rodovias brasileiras continua a pressionar o custo do transporte rodoviário e a competitividade da economia. Segundo a Pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte) de Rodovias 2025, a qualidade do pavimento eleva, em média, em 31,2% os custos operacionais do transporte no país. Eis a íntegra (PDF – 47 MB) do levantamento divulgado nesta 4ª feira (17.dez.2025).

O impacto decorre principalmente da deterioração do pavimento, que reduz a velocidade média dos veículos e amplia o tempo de viagem, risco de acidentes e gastos com combustível, manutenção e mão de obra. O encarecimento do transporte de cargas acaba repassado aos preços do frete e dos produtos, afetando consumidores e empresas.

De acordo com a CNT, o combustível é um dos principais componentes do custo operacional do transporte rodoviário, podendo representar entre 30% e 35% do custo total, a depender da distância percorrida. Em rodovias em más condições, o consumo tende a crescer devido ao aumento da resistência ao rolamento e à necessidade de frenagens e retomadas constantes.

A pesquisa indica que 67,5% do pavimento avaliado no Brasil apresenta algum tipo de deficiência e não atinge a classificação “ótimo”. Considerando os trechos classificados como bom, regular, ruim ou péssimo, o estado do pavimento resulta no aumento médio de 31,2% dos custos operacionais do transporte rodoviário.

O impacto varia conforme o grau de deterioração. Em pavimentos classificados como péssimos, os custos para o transportador podem subir até 91,5% em relação a um pavimento em excelente condição.

Em trechos considerados ruins, o aumento chega a 65,6%. Já em rodovias regulares, o acréscimo é de 41%, enquanto em pavimentos avaliados como bons, o custo adicional é de 18,8%. Apenas rodovias em condições ótimas não geram aumento nos custos operacionais.

A entidade ressalta que, além dos problemas no pavimento, outras deficiências da infraestrutura rodoviária também contribuem para o aumento dos custos operacionais.

Falhas na sinalização e problemas de geometria das vias, como ausência de acostamentos, curvas perigosas e falta de faixas adicionais em trechos de subida, também  ampliam o risco de acidentes e reduzem a eficiência do transporte.

PÚBLICAS X CONCEDIDAS

A elevação dos custos é mais acentuada nas rodovias sob gestão pública. Segundo a CNT, 74,9% dessas vias apresentam algum problema no pavimento, o que resulta em um aumento médio de até 35,8% nos custos operacionais, 17,4 pontos percentuais a mais do que nas rodovias concedidas.

Nas rodovias sob concessão, 46,7% dos trechos apresentam irregularidades no pavimento, o que gera um aumento médio de custos de até 18,4% em relação a um pavimento classificado como ótimo.

Embora tenham recebido investimentos mais elevados por quilômetro nos últimos anos, esses recursos ainda não foram suficientes para eliminar completamente os custos adicionais associados ao estado de conservação das vias.

Segundo a CNT, a situação é mais crítica na malha pública, onde a União concentra a maior parte da extensão pavimentada avaliada e enfrenta limitações orçamentárias que dificultam a manutenção adequada das rodovias.

DESPERDÍCIO DE COMBUSTÍVEL

A CNT estima que as deficiências no pavimento provoquem um consumo adicional de cerca de 1,2 bilhão de litros de diesel por ano, o que representa um custo financeiro aproximado de R$ 7,2 bilhões.

Segundo a entidade, esse montante seria suficiente para financiar políticas de transição energética no transporte. Um exemplo citado pela CNT é a possibilidade de renovação da frota: a aplicação desses recursos permitiria a incorporação de 7.023 caminhões novos da fase P-8 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), com tecnologias mais limpas e menores emissões de poluentes.

Em 2024, cerca de 300 mil caminhões e 25.000 ônibus em circulação no Brasil tinham idade média superior a 20 anos. Esses veículos são classificados na fase P-4 do Proconve e apresentam limites de emissão de material particulado até 15 vezes maiores do que os da fase mais recente.

ACIDENTES

Entre 2016 e julho de 2025, foram registrados 697.435 acidentes nas rodovias federais monitoradas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal).

O custo econômico desses sinistros é estimado em R$ 149,67 bilhões. O valor inclui despesas com atendimento de emergência, danos a veículos, perdas de carga, interrupções no tráfego e impactos sociais, como afastamentos do trabalho e invalidez permanente.

Segundo a CNT, embora apenas uma parcela dos acidentes seja atribuída diretamente a falhas na infraestrutura, muitos sinistros causados por erro humano poderiam ter consequências menos graves caso as rodovias contassem com melhores condições de pavimento, sinalização adequada e dispositivos de segurança, como defensas e acostamentos em boas condições.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-infra/rodovias-precarias-elevam-custo-do-transporte-em-31/

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