Executivos consultados pelo Poder360 comparam estratégia na estatal com erros cometidos na gestão Dilma Rousseff
A desvinculação da Petrobras da política de preços atrelada ao PPI (Política de Paridade de Importação) continua a preocupar especialistas do setor de petróleo e gás. A queda de 47% nos lucros da estatal no 2º trimestre de 2023, ante o mesmo período do ano passado, e a escalada da defasagem do preço da gasolina e do diesel ligam o sinal de alerta em vozes influentes no setor.
Ao decidir não seguir os parâmetros internacionais e vender combustíveis no país a um preço abaixo do mercado global, a petroleira perde a oportunidade de alavancar seus lucros e aumentar investimentos com o aumento no preço do barril de petróleo previsto para os próximos meses. O preço da commodity é o principal fator determinante nos balanços da companhia e a tendência é que o óleo bruto feche o 2º semestre acima dos US$ 90 e pode superar a marca de US$ 100 a partir de 2024.
Diante do cenário atual, a Petrobras perderia uma chance de alavancar suas receitas em um futuro próximo caso não reajuste os preços praticados no Brasil. Com uma margem de lucro maior, a companhia poderia realizar investimentos em seu parque de refino ou em outros projetos que eventualmente diminuam a dependência do Brasil das flutuações do mercado internacional.
Ao Poder360, o analista chefe de Petróleo e Gás Natural do UBS BB, Luiz Carvalho, disse que a Petrobras está perdendo a chance de ganhar dinheiro. Segundo Carvalho, aproximadamente 30% das receitas da estatal vem da exportação de petróleo cru –que não é refinado no país.
Logo, um aumento na cotação da commodity impulsiona a saúde financeira da petroleira. Contudo, o restante das receitas da Petrobras vem da venda de gasolina e diesel às distribuidoras e o que a Petrobras vem fazendo hoje é vendendo os combustíveis a um preço artificialmente abaixo do mercado global.
Dessa forma, a petroleira “está deixando dinheiro na mesa” avalia Carvalho. Na visão do analista, a empresa deixa de se beneficiar da flutuação do petróleo e pode ver seu fluxo de caixa enfraquecer caso continue a não repassar o aumento aos consumidores.
“Isso abre uma série de questionamentos de quais são as razões que a Petrobras está fazendo isso e a gente sabe quais são: questão política de não querer repassar esse preço e aí fica esse discurso raso sempre com uma desculpa de “ah não queremos passar a volatilidade” é mentira isso”, afirmou.
Repetindo erros
Para o sócio fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Bruno Pascon, a diretoria da Petrobras repete os erros da gestão do governo Dilma Rousseff (PT), que deixou um rombo de US$ 40 bilhões na companhia, ao se recusar a reajustar o preço dos combustíveis.
Segundo Pascon, a estatal está voltando a ser usada como um instrumento de controle da inflação. Na visão do especialista, a demora para reajustar os preços no mercado interno para um valor similar ao preço praticado internacionalmente vai derreter a margem de lucro no refino da companhia, que já caiu de 12% para 8% do 1º ao 2º trimestre deste ano.
“O governo Dilma, para controlar a inflação, praticamente usou a Petrobras como um instrumento de política monetária e essa é a grande preocupação do mercado”, disse Pascon. “Na época da Dilma a margem bruta de lucro que era historicamente de 10% a 15% chegou a ficar negativa em 15%”.
Em uma análise histórica dos resultados da Petrobras, Bruno afirmou que a estatal apresentou seus melhores resultados a partir do momento em que o ex-presidente Michel Temer adotou o PPI.
Para Pascon, diante de um cenário que o Brasil não é autossuficiente na produção de derivados de petróleo, o PPI é a melhor estratégia para administrar a companhia e navegar as flutuações da commodity. Isso porque o modelo garante previsibilidade nos reajustes e evita a defasagem nos preços dos combustíveis.
Desde a adoção do PPI, a Petrobras registrou prejuízos apenas durante o período pandêmico, quando o preço do barril de petróleo despencou por causa da queda da demanda global provocada pelas restrições do covid-19.
Apesar do maior prejuízo da história ter sido causado no governo de Jair Bolsonaro (PL), que manteve o modelo do PPI, a manutenção dessa política permitiu que a Petrobras se recuperasse e apresentasse um lucro recorde em um período curto, defendeu Pascon.
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