Gesto de Messias foi significativo, diz Ciro Nogueira

Segundo o senador e presidente do Progressistas, o indicado de Lula ainda não tem votos para ser aprovado no Senado

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirma que o pedido de reconsideração apresentado por Jorge Messias ao STF sobre a decisão de Gilmar Mendes, que mudou o rito de impeachment de ministros da Corte, é uma sinalização relevante. 

Ainda assim, não é o suficiente para garantir sua aprovação à Corte. O ex-ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) diz que o movimento foi na direção certa e tem importância política.

“Foi um gesto significativo e acho que ele fez o correto. É uma pessoa que eu tenho consideração. Apesar de ter nascido em Pernambuco, passou a vida inteira no Piauí. Conheço ele há um tempo. É qualificado, equilibrado. Temos que avaliar suas atribuições, fazer boa arguição, para que ele demonstre se cumpre os requisitos para ser ministro do Supremo”, disse em entrevista ao Poder360

Assista à íntegra da entrevista (26m51s): 

Apesar do gesto, o presidente do Progressistas avalia que Messias enfrenta dificuldades reais na contagem de votos. Ele cita como parâmetro a recente votação de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, que obteve 45 votos, e afirma que o cenário atual para o advogado-geral da União é mais apertado.

“Hoje, se você tira como parâmetro o Gonet, foram 45 votos [a favor]. É muito apertado. O Davi tem influência sobre pelo menos 10 a 15 senadores e pode mudar essa votação. Para a vitória do ministro Messias, para que ele seja aprovado, foi salutar esse adiamento para o próximo ano.”

Leia trechos da entrevista:

O Poder360 mostrou, em reportagem, que uma testemunha disse à Polícia Federal que o filho do presidente, o Fábio Luiz Lula da Silva, teria recebido mesadas de R$ 300.000 por mês de pessoas ligadas ao Careca do INSS. Como a oposição pretende reagir?
Essa notícia é gravíssima. Toda denúncia tem que ser averiguada, quanto mais envolvendo o filho de um presidente da República. Eu não quero fazer pré-julgamento ou condenação, mas tem que esclarecer. Todo escândalo de corrupção tem que ser averiguado, em especial esse do INSS, porque é quase um crime hediondo. Não podemos admitir que um escândalo de tamanha proporção, de tantos bilhões de reais, que afeta a vida de milhares de aposentados, que precisam de proteção, cuidado, e foram assaltados nos seus proventos. A maioria usa esse dinheiro para subsistência. Essa denúncia tem que ser o mais rapidamente esclarecida e, se esse rapaz for culpado, tem que ter uma condenação exemplar no nosso país.

Segundo o presidente do PP, a mudança do filho do presidente para a Espanha, já com as investigações iniciadas, é estranha e precisa ser apurada

Mas ele se mudou em julho para a Espanha, quando já estavam em curso as investigações e a CPMI do INSS. Te parece uma tentativa de desvio dessas investigações?
Não quero fazer nenhum tipo de pré-julgamento, mas tem que ser explicado. É estranho. Não vou negar que já há algum tempo se falava nesse nome nos corredores de Brasília, nos meios de imprensa, mas, pela primeira vez, há algo palpável. Essa é uma acusação muito grave, que tem que ser esclarecida.

A reportagem mostrou que há um racha na Polícia Federal. Uma parte defende investigações céleres. Outra, mais paciência. Pode haver uma possível interferência ou uma leniência nessas investigações?
Eu espero que não aconteça esse racha. Se tem uma instituição de credibilidade no país, é a Polícia Federal. Defendo que deva ser isenta e esclarecedora para punir os culpados. Ninguém tem dúvida sobre o crime contra os aposentados. E que a Polícia Federal é o grande instrumento que tem as condições de esclarecer os fatos e punir os culpados. Espero que aja com independência, isenção, e que puna os culpados. É o que a sociedade espera. Espero que ela cumpra o seu papel e faça jus à confiança que o povo brasileiro tem.

O senhor mencionou que há tempo ouvia-se o nome do filho de Lula nos corredores de Brasília. O PT agiu para evitar a convocação de Lulinha. O senhor notou esse movimento?
Houve movimento, que acho legítimo, do PT para assumir o comando da CPI no que diz respeito ao número de votos, já que eles perderam a presidência e a relatoria. É um jogo político legítimo. Mas CPI é um instrumento que não adianta, os fatos ficam maiores que ela. Não adianta tentar blindar. Um documento como esse, que estava na CPI, se torna muito maior do que a CPI. Fica difícil não investigar quando se torna público. Pela minha experiência, eu tenho mais de 30 anos de parlamento, já aconteceu em diversas vezes. A máquina governamental, seja de direita, seja de esquerda, tenta ter a maioria para evitar que se chegue a integrantes do governo. A população, quando aparece, não aceita, principalmente às vésperas de uma eleição.

A oposição deve votar a favor da convocação?
Acredito que sim. A denúncia é grave. O ideal é convocar. Agora, tem que avaliar se esse é o momento de votar ou se deve ser adiado até que esses fatos sejam esclarecidos. Eu acho que a CPI tem que tornar públicos esses documentos, se existe mais alguma evidência. Eu jamais vou ser contra ou a favor da politização, seja da oposição, seja do governo. Temos que esclarecer esses fatos, que são gravíssimos.

O ministro Gilmar Mendes determinou que só a PGR pode fazer pedido de impeachment de ministros do STF. Pela Constituição, é o Senado que define. Essa decisão tira poderes do Senado?
Não tenho dúvidas. É uma atribuição do Senado analisar impeachment do ministro do STF, como é atribuição da Câmara analisar impeachment de presidente da República. Historicamente, sempre foi assim. Temos que analisar o teor dessa decisão. E aguardar se ela vai ser referendada pelo plenário. Deve ser na semana que vem. A própria AGU pediu a reconsideração. Se tem uma pessoa que tem diálogo com o Supremo e a nossa confiança para defender as atribuições do Congresso Nacional é o presidente Davi Alcolumbre. 

Alguns senadores falam de dar o troco, como votar o estabelecimento de mandatos para ministros. É possível?
É possível, mas é um erro. É muito ruim para as instituições. Nós temos que fazer o correto. Vamos esperar para ver se essa decisão vai ser revista pelo próprio ministro ou se vai ser referendada. Não vejo sentido nenhum em dar troco ou algum tipo de revanche. Há uma discussão muito forte sobre o excesso de protagonismo do Supremo ou a capacidade que ele atribuiu a si de legislar. Eles são uma instituição para julgar. Legislar é o Legislativo. E temos que defender as atribuições do Congresso, e também do Executivo e do Judiciário. 

Para Ciro Nogueira, a decisão do ministro Gilmar Mendes de mudar o rito de impeachment de ministros é uma invasão de Poderes

Jorge Messias, indicado pelo presidente Lula ao STF, pediu reconsideração. Esse movimento pode abrir portas que antes estavam fechadas para ele no Senado?
Foi um gesto significativo e acho que ele fez o correto. Em nosso país, às vezes tem que enaltecer o que se faz de correto. Ele fez o que era sua atribuição. É uma pessoa que eu tenho consideração. Apesar de ter nascido em Pernambuco, passou a vida inteira no nosso estado [Piauí]. Conheço ele há um tempo. É uma pessoa qualificada, equilibrada. Temos que avaliar suas atribuições, fazer boa arguição, para que ele possa demonstrar se tem capacidade e cumpre os requisitos para ser ministro do Supremo. Tenho consideração enorme e admiração.

O senhor foi ministro do governo Bolsonaro. No último sábado, ele foi preso. É uma prisão justa?
Não. Tenho muita preocupação, e já externei isso no Supremo, com a sua saúde. O [ex] presidente não tem a menor condição de ficar sem cuidados médicos, principalmente da família, em casa. Aquela facada é uma sequela que ele vai levar para o resto da vida, não tem como ficar no cárcere. Espero que o Supremo, o mais rápido possível, e faça um apelo ao ministro Alexandre Moraes, para que encaminhe o presidente para sua casa, com acesso à família e médicos. Espero que isso não demore a acontecer. Temo pelo futuro.

O presidente tentou romper a tornozeleira. Ele tinha outros problemas de saúde de natureza psicológica ou influenciadas pelos remédios?
Esse sentimento de injustiça, de ser perseguido, vítima dessa violência, estava afetando ele e afeta qualquer um.É a pessoa e o político mais bem intencionado que conheci em toda a minha vida. Ele nunca roubou, nunca matou, está em um momento de muita fragilidade. E isso o afetou. Ninguém vai tomar uma atitude daquela, de romper uma tornozeleira se estivesse sem nenhum tipo de pressão ou desespero. Os vômitos, os soluços, isso afeta qualquer um. E estar num lugar que não deveria estar afeta qualquer pessoa, não só o presidente.

Ele está impedido de ser candidato a presidente em 2026. Há algum nome capaz de unificar a oposição?
Até o fim da minha vida vou ser leal ao presidente Bolsonaro. Gostaria que os brasileiros tivessem o direito de escolher seu presidente, e todas as pesquisas mostram empate entre Bolsonaro e Lula. O grande juiz dessa decisão deveria ser o povo brasileiro. Mas é inviável, não vejo como a gente possa reverter. O ideal é escolhermos candidatos que possam unificar todo o campo de centro e de direita. E os 2 únicos nomes com essa capacidade são o governador Tarcísio e o governador Ratinho. Além de estarem bem nas pesquisas, conseguem  aglutinar praticamente todos os partidos de centro e mais os partidos de direita e poderiam levar, com certeza, a uma vitória muito importante para o futuro do Brasil.

Como presidente do Progressistas, seu partido apoiaria algum desses nomes?
Com certeza. Eu não mando no partido, mas tenho uma influência enorme e, principalmente, tenho o sentimento do partido. Não teríamos dificuldade alguma de apoiar esses 2 nomes.

O senhor está na política há muito tempo e tem um bom termômetro. Na sua opinião, qual é a chance do Lula ser reeleito?
Eu acho que hoje a decisão depende se vamos ter capacidade de unificar o centro e a direita. Se unificarmos, a chance de ele perder é quase 100%. Acho que o Lula, 6 meses atrás, nem iria disputar a reeleição. Por erros da oposição, erro de posicionamento, essa situação com os Estados Unidos, algumas declarações de oposicionistas, acabaram dando uma narrativa falsa de defesa da soberania. E houve uma recuperação. Mas, com o tempo, a população brasileira passa a medir o que realmente importa. São as promessas não cumpridas, a inflação, sobretudo dos alimentos, a situação de controle total do nosso país por facções criminosas, que tem levado a um sentimento de insegurança jamais visto em nossa história, e grande parte disso é culpa da inércia do governo federal. Lula terá que enfrentar, na próxima eleição, não o Trump ou a questão da soberania. Vai ser essas 3 questões. A inflação, as picanhas que não chegaram e a segurança. Ele prometeu muito e não entregou. A segurança é o sentimento mais forte hoje na população. Fato muito semelhante ao que aconteceu com Biden na eleição americana. A população optou por ele, depois se sentiu frustrada e devolveu para o Trump. É semelhante ao que está acontecendo aqui e em toda a América Latina. Uma guinada à direita. Se houver essa junção do centro com a direita, vamos ganhar a próxima eleição.

E o que é que dificulta essa união?
Falta de bom senso. Tirar seus projetos pessoais, suas questões íntimas, e pensar no país, nessa vitória, no que o nosso grande líder está sofrendo. E tirar o país desse atraso, de olhar para o retrovisor. E construir um Brasil de futuro.

Hoje, no Senado, Messias tem votos suficientes para ser eleito?
Não. Hoje, se você tira como parâmetro o Gonet, que eu mesmo votei a favor, foram 45 votos [de 81]. Com certeza, o Davi votou, o Pacheco votou, então é muito apertado. O Davi não tem menos influência do que pelo menos 10 a 15 senadores, Ele pode mudar essa votação. Para a vitória do ministro Messias, para que ele seja aprovado, foi salutar esse adiamento para o próximo ano.

O PP e União Brasil estão em processo de formar uma federação, a União Progressista. Há relatos de desentendimento entre os grupos. Como está a relação? Vai federar mesmo?
Desentendimento tem em todos os partidos, imagine 2 partidos tão grandes. O grande problema é o comando das federações nos Estados. Não vou negar que exista esse conflito, mas existe muito mais sinergia e união nos partidos que foram capazes de viabilizar essa federação. Ela já foi protocolada na 3ª feira (2.dez) e estamos aguardando a homologação pelo TSE.

Partidos estão se unindo ou sumindo no país. No futuro, teremos menos partidos no Brasil? Quantos serão?
Vamos sair das eleições com, no máximo, 8 grandes partidos. Teremos o PL e o PT nos campos extremos. Aí uns 5, 6 partidos de centro que vão ter uns 40 deputados. Isso é muito bom para a democracia. Cria identificação do eleitor, as pessoas se sentem confortáveis e com vontade de se filiar para ter uma vida partidária. É o que falta ao Brasil.

O ministro Fufuca, indicado pelo senhor, vai continuar no governo apesar de a Federação ser de oposição?
Espero que não. Já demos essa determinação, ele não cumpriu, por isso sofreu as sanções, perdeu o comando do partido no seu Estado, foi retirado da vice-presidência. É uma decisão dele e espero que ele cumpra essa determinação partidária para voltar ao nosso convívio, que seria muito importante.

Na sua avaliação, quais foram os principais erros da oposição durante o atual governo do presidente Lula?
Não focar no que realmente interessa na vida das pessoas. Se tivéssemos focado nas promessas mal cumpridas e na questão da violência, que há muito tempo eu cobrava a discussão porque via nas pesquisas de opinião um interesse enorme quanto a isso. No passado, o maior problema do país era a saúde. Hoje, a questão da segurança. Temos que voltar a falar do cotidiano das pessoas, do que interessa. A grande maioria da população é de centro direita e estava se sentindo um pouco esquecida pela oposição. A operação do Rio de Janeiro foi fundamental para que as pessoas voltassem a discutir isso. Essa cortina de fumaça que foi criada pelo presidente Lula, com a narrativa, com o seu poder na mídia e nas redes sociais, e o gasto de milhões e milhões para defender essas teses e criar essa cortina de fumaça. Agora, o presidente Lula vai ter que enfrentar a realidade. A cortina do 8 de janeiro já passou e ele vai ter que enfrentar, volto a dizer, as promessas mal cumpridas e a situação que o povo brasileiro se encontra.

Então, a anistia não deve ser uma das prioridades?
Eu defendo que ela tem que ser votada. Mas hoje, se não houver um entendimento com o Senado, fica difícil. Na Câmara, ela passaria com facilidade. Mas, se não tiver um entendimento com o presidente do Senado para que ele paute essa matéria, e também um entendimento com o Supremo para que ele não decrete inconstitucional, não vai acontecer.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-congresso/gesto-de-messias-foi-significativo-diz-ciro-nogueira/

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