Em 2013, vírus infectou 903 crianças menores de 5 anos no país; OMS estabeleceu como meta a redução da incidência em 90%
O Brasil registrou em 2024 mais de 34.000 casos diagnosticados de hepatite viral, com cerca de 1.100 mortes diretas. A doença atinge o fígado e pode ser causada por 5 sorotipos de vírus: A, B, C, D e E.
Os tipos mais prevalentes no Brasil são o B e C e a maioria dos casos é crônica: o vírus permanece silencioso no organismo por décadas, causando danos acumulados no órgão, até provocar quadros graves como fibrose cística, cirrose ou mesmo câncer, e só então desenvolve sintomas.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu como meta a redução da incidência de hepatite B e V em 90%, com redução de 65% da mortalidade até 2030.
Prevenção
“A boa notícia é que as hepatites virais podem ser prevenidas”, disse o infectologista Pedro Martins, professor da Afya Educação Médica.
“Geralmente dividimos as Hepatites A e E como hepatites de transmissão fecal-oral, ao levar água ou alimentos contaminados com fezes à boca, enquanto as hepatites B, C e D são de transmissão parenteral, ocorrendo predominantemente a partir do contato com sangue contaminado, ao compartilhar objetos de uso pessoal como alicates de unha, lâminas de barbear ou escovas de dentes ou durante o sexo desprotegido. A Hepatite A pode ser transmitida no sexo oral onde há contato da boca com o ânus e as Hepatites B, C e D, durante a penetração”, afirma.
Outra importante forma de prevenção é a vacinação. Atualmente, o SUS (Sistema Único de Saúde) disponibiliza gratuitamente as vacinas contra a hepatite A e B, mas a segunda também protege contra o vírus do tipo D, já que ele só infecta quem tem hepatite B. Os 2 imunizantes fazem parte do calendário básico de vacinação das crianças.
A 1ª dose da vacina contra a hepatite B deve ser tomada logo depois do nascimento, e outras 3 doses são administradas aos 2, 4 e 6 meses de vida. Gestantes também devem se vacinar, caso não possam comprovar que foram devidamente imunizadas, porque a doença pode ser transmitida durante a gravidez, parto ou amamentação.
Casos têm queda
A vacinação tem contribuído para a diminuição dos casos. Em 2013, a taxa de detecção de hepatite B a cada 100 mil habitantes era de 8,3 e caiu para 5,3 em 2024.
De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Renato Kfouri, a erradicação da doença é possível caso o país consiga manter altos índices de vacinação.
“Não há reservatório do vírus da hepatite B que não seja o ser humano. Então, você consegue, através da vacinação em 100%, eliminar a criação de novos portadores crônicos, e com isso, consequentemente não tem mais onde se infectar pelo vírus B. A partir da introdução da vacina na pediatria, nós estamos acumulando pessoas vacinadas ao longo do tempo, e já temos aí mais de 30 anos de vacinação aqui no Brasil, então, a gente caminha para uma geração sem vírus de hepatite B, que é uma vacina altamente eficaz”, disse Kfouri.
Eficácia da vacina
A vacina contra a hepatite A também demonstrou sua eficácia. Em 2013, 903 crianças menores de 5 anos foram infectadas pelo vírus no Brasil. A partir de 2014, com a entrada no imunizante no calendário básico infantil, houve redução consistente de novas infecções, e, em 2024, só 16 casos foram registrados nesse público, uma redução de mais de 98%.
No entanto, os casos vêm subindo na faixa etária de 20 a 39 anos, especialmente entre homens. Depois de o Ministério da Saúde identificar surtos da doença entre a população de homens que fazem sexo com homens, em maio deste ano, a vacinação foi ampliada para os usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição).
Até o momento, não há vacina para a hepatite C, tipo mais comum e com maior letalidade de hepatite viral. Em 2024, o Brasil teve 19.343 novos diagnósticos da doença e 752 mortes diretas. Mas a infecção pode ser confirmada por testes de laboratório e tratada com antivirais que tem taxa de cura superior a 95%.
“Quando o tratamento consegue ser iniciado de forma oportuna, as consequências são mínimas. Mas quando a infecção permanece por anos sem tratamento, pode evoluir para cirrose hepática e câncer de fígado, mesmo naquelas pessoas que não tem hábito de consumir bebidas alcoólicas”, afirmou o infectologista Pedro Martins.
Com informações da Agência Brasil.