Lula eleva tom contra Trump e retarda solução para tarifaço

Presidente mantinha um clima amistoso com Joe Biden e desejou bom mandato ao republicano, mas anúncio de tarifaço alterou os discursos do petista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu nas últimas semanas o tom das críticas contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano). O movimento dificulta uma negociação com desfecho favorável ao Brasil para as tarifas de 50% impostas em 9 de julho pelos norte-americanos sobre os produtos brasileiros. Faltam só 6 dias até que a medida entre em vigor, em 1º de agosto.

No início do 3º mandato do chefe do Executivo brasileiro, em 2023, quando o democrata Joe Biden estava na Casa Branca, a relação Brasil-EUA era mais amistosa. O ponto-chave da escalada do petista foi a política comercial norte-americana. Lula começou esta semana dizendo, na 2ª feira (21.jul.2025), que o país “ainda” não está em uma guerra tarifária com os Estados Unidos.

“Nós não estamos numa guerra tarifária. Guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump, se não mudar de opinião, porque as condições que o Trump impôs não foram condições adequadas”, declarou Lula a jornalistas no Chile. Ele esteve no país para participar de uma cúpula em defesa da democracia com outros presidentes.

Já na 4ª feira (23.jul), o petista disse, em evento no Vale do Jequitinhonha, em Minas Novas (MG), que o republicano não quer conversar sobre as tarifas. Se não receber um retorno, declarou que o Brasil dará uma resposta à altura. Já falou em usar a Lei da Reciprocidade Econômica. Além disso, afirmou que, se Trump estiver “trucando”, ele vai “tomar um 6” –em referência ao jogo de cartas.

Apesar de Lula dizer que Trump não deseja negociar, o governo do petista nunca havia procurado o presidente norte-americano desde o início da nova administração na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025. A relação entre o Brasil e os EUA tem sido protocolar e nunca houve esforço para estabelecer relações de alto nível –que faltaram agora, depois do anúncio do tarifaço.

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RELEMBRE A ESCALADA

Em visita ao país norte-americano em 10 de fevereiro de 2023, Lula declarou, ao lado de Biden, que o objetivo de sua viagem era reestabelecer a relação com os EUA a fim de “construir uma nova governança mundial mais forte”. Segundo o petista, a relação entre Brasil e EUA estava “truncada” durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Durante as eleições presidenciais norte-americanas de 2024, o presidente brasileiro declarou apoio Kamala Harris (democrata), que entrou na disputa depois da desistência de Biden. Afirmou que a eleição de Trump seria a volta do nazismo e do fascismo “com outra cara”. Para ele, o nome da ex-vice-presidente era mais seguro para fortalecer a democracia norte-americana, mas declarou que manteria relação de respeito com o candidato que fosse eleito.

Trump venceu o pleito norte-americano em 6 de novembro e se tornou o 47º presidente dos Estados Unidos. Lula deu os parabéns ao republicano e escreveu que a “democracia é a voz do povo e deve sempre ser respeitada”.

Apesar da sinalização diplomática inicial, desde então, Lula e Trump não conversaram ao telefone e não se encontraram pessoalmente. A oportunidade se daria durante a cúpula do G7 no Canadá, em 16 e 17 de junho, mas o norte-americano foi embora mais cedo do país com a justificativa de que precisava resolver o conflito entre Irã e Israel.

Em 2 de abril, Trump confirmou a aplicação de uma tarifa recíproca de 10% sobre produtos brasileiros. Em resposta, Lula chegou a dizer que o norte-americano “vivia de bravatas” e que estava “dando um cavalo de pau” no mundo.

Já em 10 de julho, 1 dia depois das taxas de 50% ao Brasil, Lula afirmou que só entrará em contato com o norte-americano “quando houver necessidade”. Segundo ele, “2 presidente não ficam ligando para contar piada”.

O republicano não recuou das taxas e o teor das críticas feitas por Lula se intensificaram. Em entrevista à CNN, Lula disse que Trump foi eleito para governar os EUA, e não para ser “o imperador do mundo”.

O petista também fez questão de levantar a pauta de soberania nacional, indicando que Trump ameaçava a autoridade brasileira ao tentar “interferir” nos processos judiciais. Isso porque o presidente dos EUA citou como um dos motivos para o tarifaço o julgamento por tentativa de golpe de Estado no STF (Supremo Tribunal Federal) em que Bolsonaro é réu.

Lula e outros integrantes de seu governo adotaram o discurso, que culminou em campanhas nas redes sociais e um pronunciamento sobre o tema. Em rede nacional de TV e rádio, o petista classificou as taxas como uma “chantagem inaceitável” e afirmou que políticos que apoiam a decisão norte-americana são “traidores da pátria”.

“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos e encaminhamos em 16 de maio uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta e o que veio foi uma chantagem inaceitável em forma de ameaça às instituições brasileiras e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, declarou.

Entenda a disputa tarifária entre EUA e Brasil. Assista (1min47s):

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-governo/lula-eleva-tom-contra-trump-e-retarda-solucao-para-tarifaco/

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