Prefeituras fazem campanha contra atendimento dos brinquedos pelo SUS; produto pode custar em torno de R$ 2.000
Os bebês reborn são bonecos hiper-realistas criados para se parecer com recém-nascidos. Costumam ser feitos artesanalmente com materiais como vinil ou silicone, passando por um processo minucioso de pintura, aplicação de cabelo fio a fio e outros detalhes que simulam a textura da pele humana.
O tema provocou grande engajamento nas redes sociais nas últimas semanas. Vídeos de “partos” e de “mães” de bebês reborn viralizaram nas plataformas digitais.
Notícias sobre buscas de atendimentos no SUS (Sistema Único de Saúde) e por assentos preferenciais em transportes públicos foram amplamente compartilhadas. Órgãos públicos e autoridades se manifestaram contra essas práticas:
Prefeitura de Curitiba (PR) – publicou que as “mães” de bonecos hiper-realistas não têm direito aos assentos preferenciais;
Câmara dos Deputados – congressistas apresentaram 3 projetos para restringir o uso dos bonecos, como a proibição de atendimento em unidades de saúde;
Prefeitura do Rio – negou que “mães” de bebês reborn terão acesso a ambulância exclusiva para levá-las a hospitais;
Chapecó (RS) – prefeito João Rodrigues (PSD) disse que fará internação compulsória de pessoas que levarem bebês reborn a consultas médicas;
Tribunal Superior do Trabalho – publicou que os “pais” desses bonecos não têm direito à licença-maternidade.
Outras cidades aproveitaram a onda do produto para políticas públicas ou campanhas de comunicação.
A Prefeitura de Sorocaba (SP) lançou um programa para crianças brincarem com os bonecos. Já a de Campo Grande (MS) utilizou o assunto em uma peça publicitária sobre a vacinação: “Bebê Reborn não pega gripe. Você, sim”.
Reprodução/Instagram @prefcg – 17.mai.2025
Campanha realizada pela prefeitura de Campo Grande
Segundo relatos nas redes sociais, um público diverso consome os bebês reborn. Algumas pessoas os adquirem por razões estéticas ou colecionáveis. Outras os utilizam com fins terapêuticos, como forma de conforto depois de um aborto espontâneo.
Os preços dos bonecos variam conforme a loja. Uma busca no Mercado Livre mostra produtos por cerca de R$ 200.
Reprodução/Mercado Livre – 17.mai.2025
Captura de tela da página do Mercado Livre ao fazer a busca por “bebê reborn”
Há também lojas especializadas. O site Reborn Bebê comercializa modelos por aproximadamente R$ 2.000, com opção de parcelamento em até 12 vezes. Roupas e acessórios são vendidos separadamente.
Reprodução/Reborn Bebê – 17.mai.2025
Captura de tela da página do site Reborn Bebê na aba “bebê hiperrealista”
O uso dos bebês reborn desperta debates. Alguns internautas relatam desconforto com o realismo dos bonecos e questionam o impacto psicológico do uso prolongado, especialmente fora de contextos terapêuticos.
Realmente estamos vivendo a porra de uma sociedade adoecida mesmo. Médica reborn, bebê reborn, parto reborn… pic.twitter.com/aLStTJcaMO
— serginhocalado (@serginhocalado) May 17, 2025
eu ate tava de boa mas me pegou muito o bebê reborn de incubadora… achei meio sádico… eu quero um bebê prematuro com pulmão por desenvolver e exposto a riscos hospitalares por alguns complicação intra uterina ou pós parto e me faça chorar por medo dele morrer por favor https://t.co/MevezOq8I7
— p u l u ♱ ✮₊˙ (@anaibur_) May 12, 2025
“vacina no meu bebê reborn”
“parto do meu bebê reborn”
“como é ser mãe de bebê reborn”
“indo pro shopping com o meu bebê reborn”pic.twitter.com/6nhplGBqWN
— fael 🧣 (@wldgrace) May 17, 2025
A utilização do boneco busca “imitar uma relação humana”, segundo Fabiana Lira, psicóloga, mestre em psicologia e professora da Unifor (Universidade de Fortaleza). Para ela, o engajamento nas redes sociais mostra uma busca por audiência a partir de um contexto “narcisista”.
“O uso dos bebês reborn nos impacta pela surpreendente falta de uma relação humana de qualidade e potência. É preciso refletir sobre as relações sociais e a saúde mental nesses novos tempos de naturalização dos algoritmos”, disse a especialista ao Poder360.