Política fiscal fez estímulo significativo nos últimos anos, diz Copom

Banco Central subiu os juros para desacelerar a atividade econômica; pede harmonia entre as políticas fiscal e monetária

Em ata da última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) disse que a política fiscal fez um “estímulo significativo nos últimos anos”. O Banco Central aumentou a taxa básica, a Selic, para 14,75% ao ano na 4ª feira (7.mai.2025), a 6ª alta seguida para controlar a inflação.

A ata do Copom foi divulgada nesta 3ª feira (13.mai.2025). Eis a íntegra do documento (PDF – 313 kB).

Enquanto o Banco Central desestimula o crescimento econômico para frear a inflação, que está fora da meta, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adota políticas para injetar recursos na economia e estimular o crescimento. A autoridade monetária defendeu na ata que a desaceleração da atividade econômica é “elemento necessário para a convergência da inflação à meta”.

O BC disse que a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública do Brasil segue tendo impacto sobre os preços dos ativos financeiros e as expectativas dos agentes.

“Um estímulo significativo nos últimos anos adveio da política fiscal. O comitê avalia que uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco e atue de forma contracíclica contribui para a convergência da inflação à meta”, disse o Banco Central.

O colegiado afirmou que utiliza a política fiscal como insumo em sua análise. Declarou que adotará a política monetária “apropriada” para a convergência da inflação à meta de acordo com as medidas adotadas nas contas públicas.

A ata do Copom citou 3 temas na gestão fiscal que podem impactar a taxa de juros:

“esmorecimento” no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal;
aumento na concessão de crédito direcionado (subsidiados);
incertezas sobre a estabilização da dívida pública.

Segundo o Banco Central, a taxa neutra da economia é o patamar que nem estimula e nem contrai a atividade econômica. A ata defende que uma piora da política fiscal pode elevar esse nível de juro, porque cria “impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos da atividade”.

O Copom declarou que as medidas fiscais devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. “O debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, declarou o BC.

O Banco Central disse que o cenário de elevada incerteza, aliado ao “estágio avançado do ciclo de ajuste”, demanda cautela adicional ad atuação da política monetária.

Afirmou que a “calibragem” do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de levar a inflação à meta. Portanto, o Banco Central deixa a porta aberta para aumentar a Selic, mas não descarta manter o juro no patamar atual.

CENÁRIO INTERNACIONAL

O Banco Central declarou que o ambiente externo segue adverso e incerto por causa da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pelas medidas no comércio. O presidente dos EUA, Donald Trump, aumentou a cobrança de tarifas contra parceiros comerciais.

A ata disse que há incertezas sobre a magnitude da desaceleração econômica provocada pelas medidas de Trump e sobre o “efeito heterogêneo” no cenário inflacionário entre os países.

“O choque de tarifas e o choque de incerteza, apesar de todas as tentativas de mensuração, ainda são de impacto bastante incerto”, disse o documento. “O cenário então se apresenta com incerteza muito maior, o que já tem provocado mudanças nas decisões de investimento e consumo”, completou.

O Banco Central disse que os Estados Unidos podem ter uma desaceleração da atividade econômica “mais acentuada do que o esperado”.

ATIVIDADE ECONÔMICA

O Banco Central declarou que a atividade econômica registra “sinais mistos” de desaceleração. Afirmou que há uma “incipiente moderação do crescimento”. O comitê avalia que haverá uma “inflexão” no curto prazo para que haja uma redução do dinamismo nos trimestres seguintes.

“O Comitê segue avaliando que o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade econômica, a qual é parte do processo de transmissão de política monetária e elemento necessário para a convergência da inflação à meta”, declarou.

O Banco Central declarou que o mercado de trabalho tem contribuído para o dinamismo da atividade econômica. O Poder360 mostrou que, no 1º trimestre de 2025, a taxa de desemprego foi de 7%, o patamar mais baixo para o período da série histórica, iniciada em 2012.

O melhor desempenho do mercado de trabalho contribui para o aumento da renda e eleva o consumo. Segundo o Banco Central, há “ganhos reais acima da produtividade”. A autoridade monetária disse que a “inflexão” no mercado de trabalho é parte do mecanismo de política monetária.

INFLAÇÃO

O Banco Central declarou que o cenário de inflação segue “desafiador em diversas dimensões”. Disse que os agentes financeiros têm expectativas de inflação acima da meta. O CMN (Conselho Monetário Nacional) estabeleceu uma meta de inflação contínua de 3%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

A regra que está em vigor desde o início do ano prevê que a inflação anualizada –acumulada em 12 meses– não pode ficar acima do teto de 4,5% por mais de 6 meses seguidos. Ao ficar, a meta será descumprida e o Banco Central terá que publicar uma carta com as explicações.

A autoridade monetária disse, em fevereiro, que deverá descumprir a meta em junho.

Na ata do Copom, o Banco Central declarou que a desancoragem das expectativas de inflação é um “fator de desconforto comum” a todos os integrantes do colegiado.

“O cenário de inflação de curto prazo segue adverso. A inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta, em contexto de hiato positivo”, disse. “Os preços de alimentos mantêm-se elevados e tendem a se propagar para outros preços no médio prazo em virtude da presença de mecanismos inerciais da economia brasileira”, completou.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-economia/politica-fiscal-fez-estimulo-significativo-nos-ultimos-anos-diz-copom/

Deixe um comentário