Além do tarifaço: Trump se isola e ignora líderes latinos

Republicano só deixou os EUA para velório do Papa no Vaticano; Trump restringiu diálogo a aliados e aumentou tensão com latino-americanos

Nos primeiros 100 dias de seu 2º mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), evitou viagens internacionais e concentrou suas reuniões bilaterais na Casa Branca com aliados tradicionais, como Japão, Reino Unido e Israel. Só 1 chefe de Estado latino-americano, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, foi recebido oficialmente.

Trump só deixou o país para o funeral do papa Francisco no Vaticano, no sábado (26.abr). A ausência de visitas ao exterior contrasta com a prática de ex-presidentes norte-americanos, que costumam usar o início do mandato para fortalecer alianças internacionais. Em vez disso, Trump reforçou a agenda nacionalista conhecida como “America First”, priorizando políticas internas e medidas protecionistas, como o aumento de tarifas sobre produtos estrangeiros —inclusive os originários da América Latina.

Desde que reassumiu o cargo, o republicano aprofunda o distanciamento dos Estados Unidos em relação aos seus vizinhos ao sul. Uma das frentes mais simbólicas é a política migratória. Trump reverteu medidas de flexibilização adotadas por governos anteriores, reforçou a fiscalização na fronteira com o México, aumentou penas para imigrantes em situação irregular e anunciou o início do que descreve como “a maior campanha de deportação da história dos Estados Unidos”.

Desde 20 de janeiro, quando assumiu como 47º presidente dos EUA, Trump recebeu 11 líderes estrangeiros. O único representante latino-americano foi Nayib Bukele (Novas Ideias, direita), recebido em 14 de abril. Considerado um aliado estratégico por Washington, Bukele ganhou projeção internacional pela política de combate à violência em El Salvador, que resultou na prisão de mais de 80.000 pessoas e na redução significativa dos índices de homicídio no país.

O governo norte-americano vê as ações de Bukele como importantes para conter a migração ilegal. Em sinal de alinhamento, o presidente salvadorenho se comprometeu a aceitar a deportação de cidadãos condenados nos EUA, desde que o país norte-americano estivesse disposto a pagar uma “taxa”.

CONFLITOS DIPLOMÁTICOS

Se por um lado Trump estreitou laços com Bukele, por outro acumulou atritos com outros líderes da região. Em janeiro, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, publicou uma nota em que criticou publicamente o presidente norte-americano e defendeu a soberania colombiana. No texto, divulgado em espanhol em sua conta no X (ex-Twitter), Petro acusou Trump de tratá-lo como parte de uma “raça inferior” e afirmou que “a Colômbia se abre ao mundo”.

A declaração foi motivada por ameaças de Trump de aplicar tarifas emergenciais de 25% sobre produtos colombianos, com possibilidade de elevação para 50%, além de suspender vistos e viagens de autoridades do país. Em resposta, Petro anunciou a imposição de taxas de 25% sobre produtos norte-americanos. O impasse teve início depois de o governo colombiano se recusar a aceitar aviões com deportados vindos dos EUA.

Depois da escalada da tensão, Petro recuou e passou a aceitar os repatriados, oferecendo, inclusive, o avião presidencial para transportá-los, com a exigência de protocolos que garantissem tratamento digno aos migrantes.

Tensões também marcaram a relação com a Ucrânia. Durante visita do presidente Volodymyr Zelensky à Casa Branca, em fevereiro, Trump criticou a postura ucraniana diante da guerra com a Rússia e sugeriu que Zelensky estaria contribuindo para uma possível escalada do conflito. Ele pressionou o líder ucraniano a aceitar um cessar-fogo e alegou que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria disposto a negociar. A abordagem representou uma mudança significativa em relação à política do governo anterior, que vinha mantendo apoio consistente à Ucrânia desde o início da guerra, em 2022.

O então primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau (Partido Liberal, centro-esquerda), foi outro que entrou em rota de colisão com Trump. Depois de o governo norte-americano impor tarifas de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos sob o argumento de combater o tráfico de drogas e a entrada de imigrantes ilegais, Trudeau anunciou a aplicação de medidas tarifárias equivalentes sobre mercadorias importadas dos Estados Unidos.

MARCO RUBIO ASSUME PROTAGONISMO

Enquanto Trump permaneceu nos Estados Unidos durante os primeiros meses de mandato, a representação diplomática do governo no exterior foi liderada pelo secretário de Estado, Marco Rubio. Nomeado por Trump, o ex-senador da Flórida assumiu a linha de frente das articulações internacionais e realizou ao menos 14 viagens.

Rubio visitou Bélgica, Canadá, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, França, Alemanha, Guatemala, Guiana, Israel, Jamaica, Panamá, Suriname e Emirados Árabes Unidos.

A atuação do secretário de Estado visa a reforçar alianças estratégicas e conter críticas à política externa norte-americana, marcada pelo isolamento adotado por Trump.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/alem-do-tarifaco-trump-se-isola-e-ignora-lideres-latinos/

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