Data da viagem ainda não foi confirmada porque depende dos protocolos do Vaticano; petista recebeu apoio do religioso quando esteve preso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu ir a Roma (Itália) nos próximos dias para participar do velório e do enterro do papa Francisco, que morreu nesta 2ª feira (21.abr.2025) aos 88 anos. A primeira-dama Janja Lula da Silva o acompanhará
A Secom (Secretaria de Comunicação Social) confirmou a informação no início da noite. Mais cedo, o Poder360 havia informado que o petista já havia pedido para que sua equipe tomasse as providências necessárias para a viagem. Ministros do governo haviam relatado que já estavam fazendo mudanças em compromissos que teriam a participação do presidente nesta semana.
O Vaticano ainda não confirmou o local e a data do velório e do enterro, que contará com a participação de autoridades do mundo todo. O funeral deve ser realizado entre 6ª feira (25.abr) e domingo (27.abr). Os procedimentos devem levar 9 dias e foram simplificados por Francisco em novembro de 2024. Por isso, ainda não há a confirmação de data para o embarque de Lula. A comitiva que acompanhará o presidente deve ser divulgada na 3ª feira (22.abr).
A organização do funeral e do enterro seguirá o livro “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis” (ritos funerais para um pontífice romano), que contém indicações para a liturgia e as orações das cerimônias que envolvem o enterro do papa. Uma nova versão da obra foi publicada depois da aprovação de Francisco. Leia aqui os passos que serão seguidos pelo Vaticano.
Lula e Francisco se encontraram 3 vezes:
fevereiro de 2020 – o petista esteve com o pontífice no Vaticano 3 meses depois de ter deixado a prisão. Na época, o encontro foi usado para reforçar a imagem de líder internacional de Lula. Em junho de 2018, enquanto ainda estava na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, um emissário do papa tentou dar a Lula um terço que havia sido abençoado pelo religioso. A Polícia Federal, porém, não permitiu sua entrada. O presente foi entregue posteriormente acompanhado de um bilhete. A Santa Sé esclareceu depois que o gesto não representava uma ação oficial do papa;
junho de 2023 – Lula e Janja se reuniram com Francisco no Vaticano durante visita do presidente à Itália;
junho de 2024 – o presidente e a primeira-dama Janja Lula da Silva estiveram na Puglia, região sul da Itália, para a cúpula do G7. Francisco havia sido convidado e teve um encontro com o casal na ocasião.
Nas ocasiões em que se encontraram, Lula sempre ressaltou que as conversas giraram em torno de temas convergentes, como o combate à fome e justiça social, e soluções pacíficas para as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
Em 2022, Francisco disse que a investigação da operação Lava Jato que levou Lula à prisão, em abril de 2018, foi iniciada a partir de “notícias falsas na mídia que criaram um clima favorável ao julgamento”.
“Parece que não houve um procedimento adequado. Aqui tem que ter cuidado com quem monta o cenário do procedimento, seja qual for. Eles o armam através da mídia de tal forma que têm um efeito sobre aqueles que devem julgar e decidir”, disse o pontífice em entrevista publicada pelo jornal espanhol ABC.
Em 2023, o papa voltou a comentar sobre o assunto e disse em entrevista à emissora argentina C5N que Lula foi condenado injustamente pela Lava Jato e que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tem “as mãos limpas” apesar de ter sofrido um impeachment.
Na época, o chefe da Igreja Católica afirmou que Lula foi condenado pelo “sumário enorme” apresentado pela Justiça, não por uma prova de crime. Ele chamou o processo de “lawfare” –união das palavras law (lei, em inglês) e warfare (guerra)–, quando o direto é usado como instrumento político.
“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal o desqualifica e metem a suspeita de um crime”, afirmou.
Francisco citou como exemplo também o que ele classifica como “perseguição” a Rafael Correa (ex-presidente do Equador), Evo Morales (ex-presidente da Bolívia) e Cristina Kirchner (ex-presidente e atual vice da Argentina).
Em relação à Dilma, o papa elogiou a agora presidente do banco dos Brics. “É uma mulher excelente”, afirmou. Francisco classificou o impeachment da petista como um “ato administrativo menor”.
Poucos meses depois, Lula disse que Francisco era a principal figura política em atividade no mundo. “Quer queira, quer não queiramos, qualquer religião que concordar ou discordar é obrigada a reconhecer que ele é o maior líder que nós temos hoje na face da Terra”, declarou o presidente pouco tempo depois de ter voltado da 2ª viagem em que se encontrou com o papa.
MORTE DE PAPA FRANCISCO
O pontífice foi o 2º líder mais velho a governar a Igreja Católica em 700 anos. Sua morte foi confirmada pelo Vaticano: “Às 7h35 desta manhã [2h35 de Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.
Francisco sofria de problemas respiratórios. Em 2023, já havia passado 3 dias hospitalizado para tratar uma bronquite. Em março de 2024, não conseguiu um discurso durante uma cerimônia no Vaticano.
Argentino nascido na cidade de Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio foi internado em 14 de fevereiro de 2025 no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilateral.
Em 22 de fevereiro, o Vaticano afirmou que Francisco enfrentou uma crise prolongada de asma e precisou passar por uma transfusão de sangue e que ele “não estava fora de perigo”. Os exames realizados mostraram plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) associada à anemia, o que levou à necessidade da transfusão. O religioso teve alta em 23 de março e estava em recuperação. Sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), na bênção de Páscoa.
ÚLTIMAS PALAVRAS
No domingo (20.abr.2025), fez uma aparição na varanda da Basílica de São Pedro, durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na cadeira de rodas e com dificuldades para falar, o sumo pontífice desejou uma “feliz Páscoa” aos fiéis.
Em seguida, passou a palavra para o mestre de cerimônias, o monsenhor Diego Giovanni Ravelli, que leu a mensagem “Urbi et Orbi” (“à cidade [de Roma] e ao mundo”) do papa. Ao final, fez a bênção diante dos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro.
Na mensagem, o papa exortou os políticos a não cederem “à lógica do medo” e fez um apelo ao desarmamento. “A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se em uma corrida generalizada ao armamento”, afirmou.
O CONCLAVE
Com a morte de Francisco, os cardeais iniciarão o conclave –termo de origem no latim “cum clave”, que significa “com chave”– para a escolha do 267º papa. O ritual, que remonta ao século 13, é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, onde cardeais com menos de 80 anos se reúnem para eleger o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana. A quantidade de cardeais pode variar desde que não ultrapasse o limite de 120.
Para ser eleito, um candidato precisa receber 2/3 dos votos. O resultado é transmitido ao público presente no Vaticano e ao mundo por meio de uma fumaça que sai de uma chaminé no telhado da Capela Sistina. Ela é produzida pela queima das cédulas de votação com produtos químicos para dar a cor desejada. A fumaça preta significa que o papa não foi escolhido e a votação seguirá.
Quando um cardeal recebe os votos necessários, o decano do Colégio de Cardeais pergunta se ele aceita a posição. Em caso afirmativo, o eleito escolhe seu nome papal e as cédulas são queimadas com os químicos que produzem a fumaça branca, que comunicará a escolha do novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.
Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-governo/lula-avalia-ir-a-roma-para-velorio-de-papa-francisco/