Saiba como a Igreja Católica escolherá o novo papa

Até 120 cardeais isolados votam em ritual secreto na Capela Sistina; uma fumaça branca anuncia o novo líder da igreja

O papa Francisco morreu nesta 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos. O pontífice foi o 2º líder mais velho a governar a Igreja Católica em 700 anos. No entanto, sofria de problemas de saúde. Foi hospitalizado em 14 de fevereiro no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma pneumonia bilateral. Teve alta em 23 de março e se recuperava no Vaticano.

Com a morte de Francisco, os cardeais iniciarão o conclave –termo de origem no latim “cum clave”, que significa “com chave”– para a escolha do 267º papa. O ritual, que remonta ao século 13, é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, onde cardeais com menos de 80 anos se reúnem para eleger o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana. A quantidade de cardeais pode variar desde que não ultrapasse o limite de 120.

O processo foi reformado por diversos papas ao longo dos séculos. Uma das mudanças veio com o papa Pio 10, em 1904. Ele estabeleceu, por exemplo, o fim do veto imperial, que permitia que alguns monarcas católicos influenciassem na eleição.

Essas reformas buscaram tornar o processo mais eficiente e livre de influências externas. Por isso, os cardeais votantes permanecem isolados durante todo o período, sem acesso a notícias, telefones ou computadores. Papas posteriores, como Paulo 6, João Paulo 2 e Bento 16, continuaram a ajustar o processo para fortalecer a transparência, organização e celeridade.

A sucessão papal começa com um ritual específico: o cardeal camerlengo, nomeado para a função pelo papa e responsável pela organização do conclave, confirma oficialmente a morte do chefe da Igreja Católica e declara o início do período de “Sede Vacante”, que significa “assento vago”. Como parte do protocolo, o Anel do Pescador e o selo papal do pontífice falecido são destruídos, simbolizando o fim de seu pontificado e prevenindo o uso indevido desses símbolos.

O atual cardeal camerlengo é o cardeal irlandês Kevin Joseph Farrell, nomeado pelo papa Francisco em fevereiro de 2019. Ele terá de 15 a 20 dias para convocar o conclave depois da confirmação da vacância papal.

Com o início do processo, os cardeais elegíveis se reúnem 1º na Basílica de São Pedro para uma missa especial antes de seguirem para a Capela Sistina. Todos, exceto os cardeais e o pessoal a serviço do conclave, como faxineiros, cozinheiros e seguranças, são retirados do edifício. Os religiosos fazem um juramento de silêncio e as portas são seladas.

No 1º dia, realiza-se somente uma votação. Nos dias seguintes, até 4 votações diárias podem ser realizadas. Não há um tempo determinado para o conclave. Ele pode durar vários dias ou até semanas.

Os cardeais recebem cédulas com as palavras em latim “Eligo in Summum Pontificem” (“elejo como sumo pontífice”), onde escrevem o nome de seu candidato. Cada cardeal caminha até o altar, próximo ao afresco do Juízo Final de Michelangelo, faz uma oração e deposita seu voto em um cálice.

Reprodução/YouTube @MuseiVaticaniMv – 29.ago.2019

Na imagem, o interior da Capela Cistina, no Vaticano, e o afresco do Juízo Final de Michelangelo ao fundo

Para ser eleito, um candidato precisa receber 2/3 dos votos. O resultado é transmitido ao público presente no Vaticano e ao mundo por meio de uma fumaça que sai de uma chaminé no telhado da Capela Sistina. Ela é produzida pela queima das cédulas de votação com produtos químicos para dar a cor desejada. 

A tradição da fumaça como sinal data do fim do século 19. Até 2005, o Vaticano usava materiais naturais como palha úmida para fumaça branca e piche para fumaça preta. Atualmente, utiliza uma mistura química específica: clorato de potássio, lactose e resina de coníferas para a fumaça branca; perclorato de potássio, antraceno e enxofre para a preta.

A fumaça preta significa que o papa não foi escolhido e a votação seguirá. 

Quando um cardeal recebe os votos necessários, o decano do Colégio de Cardeais pergunta se ele aceita a posição. Em caso afirmativo, o eleito escolhe seu nome papal e as cédulas são queimadas com os químicos que produzem a fumaça branca, que comunicará a escolha do novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.

Aproximadamente 30 a 60 minutos depois, o cardeal diácono sênior aparece na sacada de São Pedro e anuncia “Habemus Papam” (“Temos um Papa”). Em seguida, o novo pontífice faz sua 1ª aparição pública, profere seu 1º discurso, dá a bênção e encerra oficialmente o conclave.

Os conclaves contemporâneos são mais breves que os históricos. O último, que elegeu o papa Francisco em 13 de março de 2013, durou somente 2 dias. Em comparação, um dos mais longos da história se deu de 1268 a 1271, levando 2 anos, 9 meses e 2 dias para eleger o papa Gregório 10.

Embora não existam campanhas tradicionais, os cardeais discutem as necessidades globais da Igreja e os méritos dos potenciais candidatos antes e durante o conclave. Formam-se alianças discretas, semelhantes a partidos políticos, que influenciam o processo de escolha.

O papado tem origem em São Pedro, um dos 12 discípulos de Jesus. Durante o 1º milênio da igreja, o Bispo de Roma era eleito de forma menos estruturada, geralmente pelo clero local e integrantes da igreja, como qualquer outro bispo. Com o tempo, a influência da nobreza e do imperador do Sacro Império Romano também passou a interferir no processo.

Em 1059, o papa Nicolau 2 estabeleceu que a eleição do papa caberia aos cardeais bispos de Roma. Essa medida visava a evitar a interferência de nobres e autoridades seculares na escolha do líder da Igreja Católica. A necessidade de maioria de 2/3 foi estabelecida em 1179. Em 1975, o papa Paulo 6º determinou o limite atual de 120 cardeais votantes.

A MORTE DE FRANCISCO

A morte oficial de Francisco foi anunciada pelo Vaticano na 2ª feira (21.abr). Uma mensagem foi lida na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, pelo cardeal Farrell: “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.

Ele foi internado no hospital Policlínico Agostino Gemelli em 14 de fevereiro. Teve alta em 23 de março. No domingo (20.abr), fez uma aparição na varanda da Basílica de São Pedro, durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na cadeira de rodas e com dificuldades para falar, o sumo pontífice desejou aos “queridos irmãos e irmãs” uma “feliz Páscoa”.

RELEMBRE A ESCOLHA DE PAPA FRANCISCO

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires, como o 266º papa da história da Igreja. O argentino, que assumiu o nome de papa Francisco, foi escolhido por um conclave de 115 cardeais, depois da renúncia de Bento 16, que fez história ao ser o 1º papa a abdicar do cargo em mais de 600 anos.

A escolha de Bergoglio surpreendeu muitos analistas e observadores, que esperavam uma indicação de um cardeal europeu para suceder o papa Bento 16. Contudo, o cardeal argentino foi escolhido por sua postura moderada, liberal e transparente. E também por seu trabalho pastoral focado nos pobres e em um estilo de liderança simples.

Bergoglio, que nasceu em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, se tornou o 1º papa latino-americano e jesuíta da história. Ele assumiu um compromisso com uma igreja mais próxima dos mais necessitados e uma gestão baseada na humildade.

Seu discurso inaugural enfatizou a importância da misericórdia e do serviço, buscando representar uma renovação no coração da igreja, diante de desafios globais, como os escândalos de abuso sexual e a crescente secularização, processo pelo qual a sociedade se afasta das influências religiosas, especialmente da Igreja Católica.

O papa Francisco também se destacou por sua atitude pragmática e acessível, quebrando tradições e promovendo uma igreja mais próxima das realidades do mundo moderno. Sua escolha não só representou a mudança de uma era, mas também o reconhecimento do crescente peso da América Latina no cenário religioso mundial.

No ano seguinte à sua eleição, Francisco se tornou uma das personalidades mais influentes da política e da religião mundial, buscando não somente fortalecer a Igreja Católica, mas também promover uma agenda de justiça social e ecológica.

Ao longo de seu pontificado, o papa Francisco continuou a reafirmar sua mensagem de fraternidade, humildade e renovação espiritual, consolidando seu lugar como um dos líderes mais carismáticos e inovadores da Igreja Católica moderna.

O Poder360 resumiu os principais marcos dos 12 anos do pontificado do papa Francisco:

promoveu uma posição mais liberal da Igreja em relação às questões como pobreza, desigualdade social e os direitos humanos;
defendeu uma igreja missionária, descentrada, que alcance as periferias sociais;
reafirmou que o Evangelho é para todos, destacando que a Igreja não deve ser exclusivista;
declarou que “a homossexualidade não é crime”. No entanto, disse que é permitido abençoar as pessoas, mas não as uniões, segundo a doutrina da igreja;
incentivou maior participação dos leigos e deu mais voz às mulheres;
em 2015 lançou a 1ª carta encíclica papal dedicada ao meio ambiente e à abordagem da crise ecológica global;
promoveu uma visão de comunidade e destacou a importância de se negociar o fim das guerras: “Uma paz negociada é sempre melhor do que uma guerra infinita. Por favor, parem. Negociem”;
condenou os abusos na igreja, reforçou que são intoleráveis e que é necessário continuar trabalhando para assegurar sua punição e prevenção;
defendia que imigrantes deveriam ser acolhidos e tratados humanamente.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/saiba-como-a-igreja-catolica-escolhera-o-novo-papa/

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