Nível de tarifas que Trump impôs ao Brasil é suportável, diz CNI

Ex-ministro da Indústria e presidente de conselho temático da confederação, Armando Monteiro Neto avalia que o país tem condições de manter o patamar de aço exportado aos EUA

O ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e presidente do Contrif (Conselho Temático de Assuntos Tributários e Fiscais) da CNI, Armando Monteiro Neto, 73 anos, disse que a taxação de 25% dos EUA sobre o aço e o alumínio brasileiros “é relativamente suportável”.

Em entrevista ao Poder360, o empresário avaliou que o Brasil tem condições de manter o patamar exportado para o país depois do tarifaço de Donald Trump (republicano).

“Nossos produtos são predominantemente semiacabados. Isso cria uma certa complementaridade com o setor siderúrgico norte-americano”, declarou.

Assista à íntegra da entrevista (35min15s):

O segmento de aço e alumínio exportou US$ 5,29 bilhões no ano passado para os EUA. Representa 39,4% do que os brasileiros exportaram para o mundo em 2024.

A taxação desses produtos nos EUA entrou em vigor em 12 de março. Em 2 de abril, Trump também decidiu aplicar uma tarifa recíproca de 10% sobre os produtos brasileiros importados.

“Foi imposta ao Brasil uma tarifa que, de um modo geral, é uma tarifa mais branda […] Eu diria que, até agora, o impacto direto na economia brasileira é relativamente pequeno”, disse o ex-ministro e ex-presidente da CNI.

Armando Monteiro diz que a decisão de Trump de elevar as tarifas sobre produtos que entram nos EUA era esperada. Para o industrial, o que surpreendeu foi a maneira como se deu.

“Ninguém imaginava que esse processo pudesse acontecer de forma tão descoordenada, tão inadequada, como veio a se realizar. Ou seja, um movimento generalizado de aumento de alíquotas. Critérios que são muito pouco compreendidos em relação ao que determinou o tamanho dessas alíquotas e, sobretudo, um quadro que parece que aponta para uma lógica em que você faz as ameaças e, ora, recua”, declarou. 

Completou, dizendo: “Em suma, há um quadro aí de grande incerteza em relação a como vai ficar esse cenário. Eu creio que já se pode contabilizar prejuízos nessa situação”. 

SETOR AUTOMOTIVO

Só o setor automotivo brasileiro exportou US$ 1,7 bilhão para os EUA em 2024. O valor corresponde, sobretudo, a autopeças.

Representou 12,4% do total exportado para o mundo no ano passado. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

“O comércio automotivo brasileiro se localiza na América Latina. Nós temos um nível razoável de exportações aqui para a América do Sul e, como eu disse, um acordo automotivo com o México. Nas nossas vendas para o mercado americano, sim, nós seremos afetados no que diz respeito a autopeças –o Brasil tem um volume razoável de exportações para o mercado americano. Aí é possível que sejamos impactados. Mas, ao que parece, os nossos concorrentes também sofrerão”, avaliou.

GUERRA COMERCIAL

Na 3ª feira (15.abr), a Casa Branca anunciou que a China poderá enfrentar tarifas de até 245% sobre alguns produtos que são exportados para os EUA como “resultado de suas ações retaliatórias” na guerra comercial entre os 2 países.

“Numa guerra comercial como essa, ninguém ganha verdadeiramente. Alguns poderão, no curto prazo, sofrer de forma menos intensa os efeitos desse processo. Mas, no fundo, todos perderão”, disse Armando.

O empresário diz haver “grande apreensão” sobre os efeitos da guerra comercial que Trump travou com a China no mundo:

“Essas duas economias representem mais de 40% do PIB global. Ora, quando essas economias assumem uma posição de guerra aberta, isso causará severo reflexo nos fluxos comerciais, afetando o comércio internacional”.

OPORTUNIDADES 

Armando Monteiro Neto avalia que alguns setores da economia brasileira podem tirar vantagem do tarifaço. As commodities agrícolas seriam beneficiadas, na sua visão.

“Os Estados Unidos concorrem de forma direta contra o Brasil nessa área das commodities agrícolas, sobretudo na soja. Os chineses compram também soja aos Estados Unidos. Na medida em que agora essas tarifas foram tão severamente, tão drasticamente elevadas, é evidente que o Brasil poderá ganhar espaços a curto prazo, sobretudo nas exportações de soja”, afirmou.

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Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-economia/nivel-de-tarifas-que-trump-impos-ao-brasil-e-suportavel-diz-cni/

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