País tem avanços sociais, mas, na economia, indicador ficou abaixo de países emergentes no acumulado
O Brasil completa neste sábado (15.mar.2025) 40 anos contínuos de regime democrático civil. É o mais longo período de estabilidade do Estado democrático de Direito da história brasileira. Os avanços da área social são visíveis. Só que na economia o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi frustrante, sobretudo quando se compara o indicador brasileiro com os de outros países emergentes.
Nas últimas 4 décadas, o país ficou para trás em comparação com a China, com a Índia e com a Coreia do Sul. Um levantamento feito para o Poder360 pelo economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, mostra que o PIB per capita do Brasil teve um crescimento acumulado de 62% de 1985 a 2025 quando considerado o PPP (paridade do poder de compra, na sigla em inglês). Esse foi o 8º pior desempenho entre as nações do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo.
No período mais recente de 2015 até 2024, o crescimento do PIB per capita do Brasil foi de 2,2%. Foi o pior desempenho das últimas 4 décadas na economia brasileira, atrás do México e de quase todos os integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com exceção do país africano.
O PIB per capita é o cálculo que divide o PIB pelo número de habitantes. É um indicador utilizado para medir o padrão de vida das pessoas. As expectativas eram grandes em relação ao Brasil no passado, com a volta da democracia, em 15 de março de 1985.
Economistas avaliam que o país, de tamanho continental, e com o maior poderio econômico da América Latina, poderia ter tomado rumos mais prósperos. Nos últimos 40 anos, entretanto, o Brasil não engatou fortes taxas do crescimento. Agora, corre contra o tempo para aumentar a produtividade com a população cada vez mais envelhecida.
A alta do PIB per capita de 62% de 1985 a 2025 do Brasil ficou abaixo das registradas em países como Estados Unidos, Holanda, Reino Unido, Japão, Alemanha e França. Teve um desempenho percentual melhor do que países que já têm um PIB per capita superior ao do Brasil, como Canadá, Itália, Rússia, Argentina, México e Arábia Saudita.
O PAÍS ENVELHECEU
Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que haverá mais beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) do que contribuintes da Previdência Social em 2051. O bônus demográfico –período em que a proporção da população em idade ativa, de 15 a 64 anos, aumenta em relação à de jovens de até 14 anos e de idosos– se aproxima do fim.
O país está envelhecendo e não tem produzido o suficiente para compensar uma população economicamente ativa menor no futuro. O professor de economia Jorge Arbache, 61 anos, já disse ao Poder360 que a população brasileira cresceu menos que o previsto. O grupo de brasileiros que pagarão a conta pela baixa produtividade do passado não está “preparado” do ponto de vista de produção de riqueza e produtividade.
AMÉRICA LATINA
O PIB per capita do Brasil teve um desempenho pior, inclusive, que o de países da América Latina. O melhor desempenho foi da Guiana, que teve forte expansão com o impacto da exploração do petróleo nos últimos anos na região conhecida como Margem Equatorial. O Brasil há mais de uma década espera uma análise do Ibama para também explorar petróleo na mesma região.
Além da Argentina e do México, o desempenho da economia brasileira foi superior que no Suriname e na Venezuela.
Agostini, da Austin Rating, diz que o desempenho do Brasil foi “muito insuficiente quando se analisa o histórico”. E completa: “Na década de 1970, o PIB do Brasil era, em média, 25% superior ao PIB da China e da Índia, e esse valor superou 35% na década de 1980. Porém, o processo de hiperinflação ao final dos anos 1980 e que prevaleceu por metade da década de 1990 derrubou o PIB brasileiro e resultou do forte processo de concentração de renda como vemos hoje”.
Em 1982, por exemplo, o PIB nominal do Brasil era de US$ 271,3 bilhões, enquanto a China (US$ 205,1 bilhões) e Índia (US$ 207, bilhões) tinham riquezas menores.
Para Agostini, a “derrocada” do PIB brasileiro foi tão grande desde a década de 1990 que, atualmente, representa apenas 12% do PIB da China e 56% do PIB da Índia.
METODOLOGIA
Para manter a padronização dos dados entre os países, a Austin Rating utilizou como fonte informações do FMI (Fundo Monetário Internacional). O valor do PIB dos países é transformado para uma unidade de valor única para evitar distorções comparativas entre economias caso seja diretamente convertido pela taxa de câmbio.
“Por exemplo, se convertermos o PIB brasileiro em reais diretamente para o dólar vamos incluir no cálculo as influências (positivas ou negativas) provocadas pela variação cambial”, diz Agostini.
O economista calculou o PIB para cada país considerando o custo de vida local –valores de bens e serviços de uma cesta de consumo padrão– e a capacidade de compra de um cidadão para saciar suas necessidades. Depois deste ajuste, é convertido para uma cotação única do dólar.