Recém-eleito com 444 votos, o congressista afirmou que o Congresso “finalmente se encontrou com as origens do projeto constitucional”
O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), realizou neste sábado (1º.fev.2025) o seu 1º discurso como presidente da Câmara. O deputado paraibano defendeu as emendas impositivas. Segundo ele, o Congresso “finalmente se encontrou com as origens do projeto constitucional”. As impositivas são emendas de pagamento obrigatório pelo governo federal. Estão nessa categoria as emendas individuais (incluindo as Pix) e as de bancada.
“Foi nessa época [do impeachment de Dilma Rousseff] que aqui, nesta Casa, em 2016, por meio da adoção das emendas impositivas, que o Parlamento finalmente se encontrou com as origens do projeto constitucional. A crise exigia uma nova postura, o fim das relações incestuosas entre Executivo e Legislativo”, declarou.
O congressista defendeu a democracia e a unificação entre os Três Poderes. Para ele, não pode haver opacidade entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
“A praça, sempre lembremos, é dos 3, e não de 1 nem de 2 Poderes. E quando não é dos 3 não é a praça da democracia. E todos defendemos a democracia porque sem democracia este livro não é a Constituição, não é a civilização. É um pedaço de papel, é letra morta. E vamos lutar pela constituição”, declarou Motta.
O discurso também foi em defesa da estabilidade econômica, que o novo presidente da Câmara atrelou à estabilidade social. Para o deputado, a estabilidade “é a resultante de um conjunto conhecido e consensual de medidas de responsabilidade fiscal”.
“Faço um apelo: vamos deixar o Brasil passar. Não se pode mais discutir o óbvio. Nada pior para os mais pobres do que a inflação e a instabilidade na economia. […] Defenderemos a democracia porque defenderemos também as melhores práticas e políticas econômicas. Defender estabilidade econômica é defender a estabilidade social”, declarou Motta.
Ao final de sua fala, o congressista disse que, em harmoria aos demais Poderes da República, quer passar uma mensagem de otimismo: “Ainda estamos aqui”.
RESULTADO
O paraibano foi eleito com 444 votos. Embora expressiva, a marca não superou o recorde do seu sucessor, Arthur Lira (PP-AL), que levou 464 votos em 2019.
Motta conseguiu reunir um bloco de 17 partidos, incluindo PT e PL.
O placar eletrônico registrou os votos de 499 dos 513 deputados. O placar ficou assim:
Hugo Motta (Republicanos-PB) – 444 votos;
Marcel van Hattem (Novo-RS) – 31 votos;
Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) – 22 votos;
em branco – 2 votos.
SAIBA QUEM É HUGO MOTTA
Hugo Motta, 35 anos, nasceu em João Pessoa (PB). É formado em medicina pela Faculdade Nova Esperança e pela Universidade Católica de Brasília. Foi eleito deputado federal em 2010 e está no 4º mandato consecutivo na Casa Baixa.
De família de políticos, seu pai, Nabor Wanderley (Republicanos), é prefeito de Patos (PB), a 4ª maior cidade do Estado e seu principal reduto eleitoral. Sua avó materna, Francisca Motta (Republicanos), também foi prefeita do município e está no 5º mandato como deputada estadual.
Motta entrou na política em 2010, quando foi eleito deputado federal aos 21 anos pelo PMDB (atual MDB). Foi, à época, o deputado mais jovem já eleito.
Em 2015, presidiu a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras. Durante as primeiras legislaturas, foi aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Em 2016, votou a favor da instauração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT).
Já no governo de Michel Temer (MDB), disse “sim” à PEC do teto de gastos públicos. No ano seguinte, votou favoravelmente ao PL da reforma trabalhista.
Em agosto de 2017, votou para blindar Temer e não autorizar o STF a abrir um processo criminal por crime de corrupção passiva contra o então presidente.
No ano seguinte, migrou para o PRB (atual Republicanos). Em 2021 foi relator da PEC dos precatórios, que abriu espaço no orçamento durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) para ampliar os gastos com o Auxílio Brasil.
Já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Motta foi líder da bancada do Republicanos em 2023 e 2024. Orientado pelo paraibano, o partido votou alinhado com os petistas em duas das votações mais importantes no final de 2024: a regulamentação da tributária e os projetos de lei do corte de gastos.
O partido comanda o Ministério de Portos e Aeroportos e deve ganhar novas indicações na reforma ministerial. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, é cotado para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Pereira era, inclusive, o candidato do Republicanos à presidência da Câmara em um 1º momento. Disputava com Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).
Em uma guinada estratégica, o cacique desistiu da corrida em prol de Motta, que angariou apoio do Planalto e do próprio Lira –de quem é amigo próximo. Elmar e Brito também abriram mão das próprias candidaturas em apoio ao deputado paraibano.
Só o Psol e o Novo, com candidatos próprios, não declararam apoio ao deputado paraibano.