Ambas concorrem ao Oscar de melhor atriz; na internet, brasileiros afirmam que artista espanhola violou regras da premiação
Falta mais de 1 mês para a cerimônia do Oscar 2025, que será realizada em 2 de março. Mas assim que a Academia revelou os indicados aos prêmios em 23 de janeiro, uma disputa pela estatueta de Melhor Atriz vem se intensificando nas redes sociais. Ela envolve apoiadores de Fernanda Torres, protagonista do filme “Ainda Estou Aqui”, e a atriz Karla Sofía Gascón, de “Emilia Pérez“.
Alguns fatos contribuem para a disputa: a brasileira Fernanda Torres e a espanhola Karla Sofía Gascón são as únicas indicadas da categoria que trabalham em filmes de língua não inglesa. Além disso, “Ainda Estou Aqui”, drama dirigido por Walter Salles, e “Emilia Perez”, um musical sobre um cartel de drogas mexicano, do francês Jacques Audiard, concorrem pelas estatuetas de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. “Emilia Pérez” teve mais outras 10 indicações.
Um novo capítulo da disputa se deu durante a passagem de Gascón pelo Brasil para divulgar “Emilia Pérez”. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada na 3ª feira (28.jan), Gascón lamentou as críticas que o seu filme tem recebido nas redes sociais. Disse que “muitas pessoas que trabalham no ambiente de Fernanda Torres” falaram mal de sua atuação e do longa-metragem.
A fala repercutiu nas redes sociais, como o X (antigo Twitter). Usuários exigiram que a Academia cancelasse a indicação de Gascón por suposta violação de uma das regras da Academia. A norma apontada proíbe que concorrentes depreciem publicamente o trabalho uns dos outros.
É claro que ela violou uma regra de campanha. Sei que Gascón é a primeira mulher trans indicada ao Oscar e isso é fantástico, mas se ela fosse desclassificada agora, seria o mínimo. Extremamente anti ética. pic.twitter.com/apbVDOKX32
— will, o adorável cinéfilo (@cineadoravel) January 29, 2025
Segundo a Rolling Stone, a Academia decidiu que a atriz espanhola não desrespeitou as regras e que suas declarações poderiam ser interpretadas de diversas maneiras. Em comunicado à revista Variety, Gascón, primeira atriz trans a concorrer no Oscar, afirmou ser “uma grande fã de Fernanda Torres” e acrescentou que tem sido “maravilhoso poder conhecê-la nos últimos meses”.
“Nos meus comentários recentes, eu estava me referindo à toxicidade e ao discurso de ódio violento nas redes sociais que, infelizmente, continuo a experimentar. Fernanda tem sido uma aliada maravilhosa”, disse.
Em 24.jan, Fernanda Torres já havia publicado um vídeo no Instagram elogiando Gascón por seu carinho e generosidade quando se encontraram em uma festa da revista W.
Assista ao vídeo de Fernanda Torres sobre Karla Sofía Gascón (2min37s):
“Esse ano, o Oscar, a escolha que eles fizeram para Melhor Atriz são todas muito especiais, cada um à sua maneira […] Não vamos tratar ninguém mal e criar uma coisa de que é um contra o outro”, afirmou.
A indicação e a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, seguidas de sua indicação ao Oscar, comoveram a opinião pública brasileira. Nas redes sociais, milhares de brasileiros participam de uma campanha em favor da atriz e do filme baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.
O jornal francês Le Monde afirmou ter sido “invadido” por brasileiros indignados por causa da publicação de uma crítica negativa à interpretação de Torres. A publicação afirma ter apagado 21.600 comentários considerados ofensivos.
Os espectadores brasileiros também teriam contribuído para derrubar a nota do longa-metragem francês no Letterboxd, rede social voltada para avaliação de filmes. Até o fechamento deste texto, o filme estrangeiro tinha nota 2.3 de 5.0, enquanto o concorrente brasileiro era avaliado com 4.4 pontos.
CRÍTICAS À EMILIA PÉREZ
“Emilia Pérez” vem sofrendo críticas não só de brasileiros.
Apesar de o longa contar a história de um traficante que passa pela transição de gênero enquanto busca justiça milhares de desaparecidos no México, organizações LGBTQIA+ dos Estados Unidos, como a Glaad, qualificaram a caracterização do filme como “retrógrada“.
Além disso, críticos e profissionais do setor cinematográfico do México, destacaram o pouco envolvimento de mexicanos tanto no elenco principal quanto na equipe e afirmaram que o filme não possui “representatividade”.
Em uma publicação no X com 2,7 milhões de visualizações, o roteirista mexicano Héctor Guillén publicou uma imagem com os dizeres: “Essa é uma mensagem para a Academia: o México odeia ‘Emilia Pérez’. ‘Escárnio Racista Eurocêntrico’. Cerca de 500K mortos e a França decide fazer um musical. Sem mexicanos em sua equipe e elenco”.
Em entrevista à BBC, Guillén elogiou o diretor Audiard, mas questionou a escolha das protagonistas e das locações do filme, a maior parte delas fora do México. Apenas 1 das 4 atrizes principais é mexicana (Adriana Paz). Além de Gascón, que é espanhola, Zoe Saldaña nasceu nos EUA e tem ascendência dominicana. Selena Gomez, embora tenha ascendência mexicana, é norte-americana.
“Há uma guerra pela droga, cerca de 500 mil mortos [desde 2006], e 100 mil desaparecidos no país”, disse o roteirista ao site de notícias britânico. “E ainda assim, nenhuma palavra [foi dita sobre] às vítimas nos 4 discursos do Globo de Ouro”.
“Emilia Pérez” acumulou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, 4 Globos de Ouro, 11 indicações para os BAFTA. Além disso, é o campeão de indicações no Oscar, concorrendo em 13 categorias.
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