5 anos do Brexit: 62% dos britânicos consideram saída da UE um fracasso

Plebiscito em 2016 mostrou que 52% da população era a favor da saída do bloco; desde então, Reino Unido sofre com isolamento comercial e encolhimento do mercado de trabalho

A saída do Reino Unido da União Europeia completa 5 anos nesta 6ª feira (31.jan.2025). O Brexit, como ficou conhecido o processo, foi aprovado em um plebiscito realizado em 2016 e entrou em vigor em 31 de janeiro de 2020. O resultado foi o gatilho para a renúncia do então primeiro-ministro David Cameron (Partido Conservador, centro-direita), além de uma revolução econômica, implementada durante a pandemia da covid-19.

Meia década depois, porém, o cenário é de total insatisfação com o Brexit. Um levantamento do YouGov apontou que 62% dos britânicos acreditam que a saída da União Europeia foi um fracasso, contra apenas 11% que pensam ter sido um sucesso.

A pesquisa foi publicada na 4ª feira (29.jan.2025) e mostra ainda que 55% da população do Reino Unido pensa que a saída da UE foi uma decisão errada. Apenas 30% dos britânicos acreditam que o divórcio foi um acerto.

Entre a população mais jovem do Reino Unido, a discordância com o Brexit é latente. Para 75% dos britânicos de 18 a 24 anos, ou seja, que não puderam participar do plebiscito de 2016, o Reino Unido tomou a decisão errada ao deixar a União Europeia. Só 10% defendem o rompimento com a UE.

O YouGov também dividiu as respostas da pesquisa entre os votos há 9 anos. Entre os que foram favoráveis ao Brexit no plebiscito, 66% acreditam que o Reino Unido agiu certo em deixar o bloco, enquanto 18% pensam ter sido uma decisão errada.

Já entre os que votaram pela permanência, 7% defendem a saída, enquanto 88% acreditam que permanecer na União Europeia teria sido a melhor opção.

O YouGov ressalta que, como a maioria dos britânico acredita que o Brexit foi um fracasso, uma alternativa clara é uma reaproximação com a União Europeia. O levantamento destaca que apenas 27% da população deseja que as relações com o bloco europeu permaneçam da maneira que estão.

Em contrapartida, 64% dos britânicos seriam favoráveis a uma reaproximação comercial com a União Europeia, enquanto um retorno ao bloco é visto como uma possibilidade tangível para a maioria da população: 55% aprovariam uma total revogação do Brexit. 

O percentual de pessoas que discordam totalmente de um retorno ao bloco é baixo. Apenas 1/3 da população é contra, valor menor, aliás, que aqueles que “apoiam vigorosamente” um retorno ao bloco, que é de 39%.

BREXIT E PANDEMIA: O IMPACTO NA ECONOMIA

A saída do Reino Unido da União Europeia determinou uma mudança brusca nas relações comerciais com o bloco. A pandemia da covid-19 foi primordial para fazer o impacto reverberar em outros setores, como imigração e mercado de trabalho.

Em 2020, o Reino Unido teve queda de 10,3% do PIB (Produto Interno Bruto), o maior percentual entre países do G7, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). Além da pandemia, o Brexit também contribuiu para a desvalorização observada no período.

Um estudo do BCE (Banco Central Europeu) analisou os impactos do Brexit para o Reino Unido. O levantamento aponta que a saída do bloco europeu impôs dificuldades –sobretudo com as restrições implementadas por conta do coronavírus– para empresas que buscavam importar ou exportar produtos.

Segundo o BCE, mesmo depois da assinatura do TCA (Tratado de Cooperação e Comércio) em 30 de dezembro de 2020, que zerava tarifas e cotas para bens trocados entre União Europeia e Reino Unido, 77% das empresas que exportavam produtos para países do bloco europeu relataram que o acordo não ajudava a aumentar as vendas ou o crescimento do negócio e mais da metade alegou dificuldades para se ajustar às novas regras de exportação.

O BCE aponta que o volume de exportações do Reino Unido para a União Europeia caiu drasticamente depois da efetivação do Brexit. Apesar de apresentar uma melhora nos indicadores a partir do relaxamento das restrições da covid em meados de 2021, nunca voltou aos índices pré-pandêmicos.

O levantamento do Banco Central indica também que há setores da economia que até hoje não se recuperaram do Brexit. Análises iniciais davam conta de que a queda no setor de serviços financeiros, por exemplo, ocorriam por causa da pandemia do coronavírus. Depois da recuperação do setor de turismo, especialmente condicionada ao aumento do custo das viagens, mostraram, de acordo com o BCE, que o Brexit era o verdadeiro responsável direto pelos baixos índices apresentados.

“O Brexit parece, de alguma forma, ter algum papel, possivelmente por conta da falta de acordos abrangendo o comércio de serviços. Para o setor de serviços financeiros, que representa cerca de 20% do total das exportações de serviços do Reino Unido, as cláusulas do TCA eram limitadas”, destaca o estudo.

O BCE relata ainda que, desde o Brexit, a importância do Reino Unido como parceiro comercial da União Europeia caiu vertiginosamente, com o bloco representando 29% das exportações do setor de serviços financeiros do Reino Unido em 2022, contra 37% em 2019.

No 1º trimestre de 2022, a balança comercial do Reino Unido apresentou deficit de 7,7% do PIB, que foi de US$ 3,09 trilhões naquele ano. O motivo é a queda nas exportações, motivada pela dificuldade de estabelecer relações comerciais com outros países, sobretudo com países integrantes da União Europeia.

MENOS ATRATIVO PARA TRABALHADORES

O relatório do BCE aponta ainda que, depois do Brexit, o Reino Unido tornou-se menos atrativo para trabalhadores. Desde 2016, quando foi realizado o plebiscito, o vislumbre de uma possível saída da União Europeia já começou a afastar trabalhadores do Reino Unido.

Com a efetivação do divórcio em 2020 e a consequente mudança na política de livre circulação com a União Europeia, além, claro, do surto do coronavírus, o fluxo de trabalho para o Reino Unido caiu ainda mais, segundo a autoridade monetária.

O Banco Central indica que 15% das empresas do Reino Unido passaram a relatar escassez de disponibilidade de funcionários, pelas restrições para migração em consequência do Brexit, especialmente nos setores dos quais havia uma maior dependência de trabalhadores europeus, como de acomodação e alimentício.

O banco detalha ainda que uma rápida recuperação desses setores está atrelada à também recuperação do turismo com o relaxamento das medidas de restrição, mas expõe um encolhimento do mercado de trabalho, uma vez que as empresas não conseguiram recontratar trabalhadores que foram demitidos em massa durante a pandemia.

AUMENTO NA IMIGRAÇÃO

O estudo do Banco Central Europeu explica que, anteriormente ao Brexit, o Reino Unido importava força de trabalho extra-qualificada de países da União Europeia e também de fora do bloco, enquanto trabalhadores de setores que requisitavam menos qualificação eram impedidos de entrar no Reino Unido.

A saída da União Europeia fez com que houvesse uma redução do número de imigrantes oriundos da União Europeia e um consequente aumento de pessoas que entravam no Reino Unido vindo de países de fora do bloco. Em 2021, os índices de imigração já se igualaram ao período pré-pandêmico.

Dados do Statista mostram o aumento da imigração na década de 2020. De 1964 até o final dos anos 1900, as taxas de imigração para o Reino Unido apresentavam certo equilíbrio e a emigração –ou seja, pessoas que deixavam o Reino Unido para se mudarem para outros países– era maior até o início dos anos 1990. 

A partir 2020, porém, o número de imigrantes cresceu vertiginosamente, saltando de cerca de 662 mil para 1,3 milhão em 2023. Até julho de 2024, o número de pessoas que se mudaram para o Reino Unido era de 1,2 milhão.

Enquanto isso, as emigrações permaneceram estabilizadas, chegando a um pico de 605 mil em 2019, mas voltando a baixar e atingindo o patamar atual de 450 mil em 2023.

“A inversão do fluxo migratório pode ser explicada pelo novo sistema de imigração, que facilitou o acesso ao mercado de trabalho do Reino Unido para trabalhadores extra-qualificados de fora da União Europeia, enquanto passou a requerer vistos para nacionais da União Europeia que não possuíam nenhuma restrição anteriormente”, aponta o estudo do Banco Central.

Fonte: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/5-anos-do-brexit-62-dos-britanicos-consideram-saida-da-ue-um-fracasso/

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